PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil
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sexta-feira, julho 28, 2006

METENDO A MÃO NA JACA

É impressionante como o poder transforma as pessoas e, sendo elas do meio político, a situação é mais feia do que briga de foice no escuro. Basta observar a maioria dos parlamentares que chega ao Congresso Nacional. Esquecem das promessas de campanha que fizeram para ganhar a eleição e caem na bandalheira, roubalheira e tantos outros atos ilícitos. Talvez essa legislatura seja a pior das piores da história desse país. Se gritar pega ladrão apenas uns poucos não corram.

A corrupção foi o principal prato desse governo petista. Ela enraizou-se em todos os cantos do Brasil envolvendo além do Presidente, ministros, senadores, deputados, assessores etc. Picados pela mosca azul, sentiram o cheiro de dinheiro fácil e se esbaldaram em roubar. Roubaram tanto que o ex-presidente Fernando Collor deve está morrendo de vergonha por está sendo considerado apenas um batedor de carteira.

Mas, o que mais me impressiona é saber de parlamentares que, juravam de pés juntos serem inocentes, mas estão atolados até o pescoço nesse mar de lama fétida da corrupção. O deputado federal Júnior Betão (PL-AC) é um exemplo clássico dessa história. Eleito pelo poder do dinheiro da família, Betão não deixou dúvidas quanto ao seu comprometimento com o Acre e sua gente. Foi o deputado mais jovem eleito e deveria trabalhar para ser um grande parlamentar e seguir carreira na política. Mas, ao contrário, meteu o pé na jaca e está mais enrolado do que arame farpado.

No depoimento que o empresário Luiz Antônio Vedoin, operador do esquema dos Sanguessugas, prestou à Polícia Federal, abriu o bico e contou em detalhes como agiam os deputados na apresentação de emendas para compra de ambulâncias para prefeituras em 22 estados brasileiros. Os vampiros não levaram a sério o adágio popular de que “o uso do cachimbo deixa a boca torta” e fumaram o dinheiro público descaradamente.

Vedoin disse à Polícia Federal que Betão chegou a fazer propostas escandalosas para receber propina. Em 2004 o deputado destinou duas emendas – R$ 768 mil e R$ 360 mil – para o Centro Acreano de Inclusão Social, de sua propriedade, para compra de ambulâncias. Um fato interessante: a entidade nunca prestou serviço público, mas Vedoin pagou 15% de propina, ou seja, R$ 170 mil.

A ousadia de Betão aumentou. Na maior cara-de-pau, no ano seguinte ele apresentou outra emenda de R$ 290 mil, desta vez para aquisição de remédios, mas exigiu de propina nada menos de que R$ 230 mil, o que não foi aceito pelo empresário. Sem querer perder o dinheiro fácil Betão procurou Maria da Penha Lino, do Ministério da Saúde, para ver se ela conseguia fazer o serviço. Na realidade, segundo Vedoin, o parlamentar queria comprar as notas ficais dos medicamentos. De posse das notas o rombo seria bem maior.

Ao que parece Júnior Betão fez escola com o ex-deputado Ronivon Santiago, também do Acre, que está mais enrolado do que Bombril. De Ronivon esperava tudo, já que nunca teve interesse em ajudar o Acre, mas Betão me impressionou em ir com muita sede ao pote da corrupção. Já o deputado João Correia não acredito que faça parte desse esgoto fabricado dentro do Congresso. Agora apareceu na lista o ex-deputado José Alex. Esse nunca me enganou: é mais sujo do que pau de galinheiro.

Caminhando e cantando e seguindo a canção...

sexta-feira, julho 14, 2006

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA - V

FALTA DE AVISO NÃO FOI

“Fazer concessões de Flonas para as Ongs estrangeiras, Deus meu, que ignorância! Alugar por 30 ou 60 anos é uma das mais terríveis propostas contra a soberania brasileira na Amazônia”, denunciou o geógrafo Aziz Ab’Saber, considerado uma das maiores autoridades no assunto.

“Este projeto partiu do Ministério do Meio Ambiente, forçado por gente que era de organizações não-governamentais, as chamadas Ongs. Todas as Ongs estão dentro do Ministério, com algumas das pessoas mais cretinas desse país. Então é evidente que o Ministério não vai ter condições de fazer nada favorável à defesa da Amazônia e das florestas”, denunciou o geógrafo Aziz Ab’Saber, referindo-se ao Projeto de Lei de Gestão de Florestas (PL 4776), que está tramitando no Senado em regime de urgência e que prevê a concessão de 13 milhões de hectares da Amazônia brasileira por até 40 anos.

Um dos principais envolvidos nas denúncias feitas pelos cientistas e por entidades nacionais é o ex-secretário-executivo da Ong Imaflora, Tasso Azevedo, que exerce cargos estratégicos no Ministério do Meio Ambiente (MMA) desde o governo de FHC e é o atual diretor do Programa Nacional de Florestas (PNF). A Imaflora é uma Ong financiada pela famigerada Fundação Ford e pela Usaid, agência internacional ligada diretamente ao Departamento de Estado Norte-Americano e conhecida por financiar, com montantes estratosféricos, projetos que defendam os escusos interesses dos EUA pelo mundo afora.

TASSO, USAID E A AMAZÔNIA
Entre março e abril do ano passado, Tasso Azevedo, acompanhado de outros técnicos e representantes de Ong’s, estiveram no estado australiano de New South Wales, numa viagem bancada pela Usaid, para conhecer uma floresta concedida para “exploração sustentável”, nos moldes que se pretende implantar no Brasil. Além disso, Azevedo fez parte da equipe de técnicos que autorizou, em 1994, o projeto da Precious Woods (um grupo suíço que adquiriu 80 mil hectares no Amazonas para exploração florestal). Esta experiência, considerada no Brasil um atentado à soberania, foi considerada pelo G-7 um “modelo”.

“Como é que o governo pode imaginar que ONGs estrangeiras da região pré-alpina ou subalpina da Suíça, por exemplo, venham ao Brasil para fazer uma exploração amazônica auto-sutentada?”, questiona o geógrafo Aziz Ab’Saber. “Fazer concessões de Flonas para ONGs estrangeiras, Deus meu, que ignorância! Alugar por 30 ou 60 anos é uma das mais terríveis propostas contra a soberania brasileira na Amazônia”, destacou Aziz.

PRIVATIZAÇÃO DA FLORESTA
As denúncias não partem apenas do professor Aziz. Para o pesquisador da Universidade Federal de São Carlos, Rodolfo Salm, “é ingrata, para um ecólogo, a tarefa de escrever sobre o destino da floresta amazônica sem descambar para a conclusão generalista de que a bandidagem tomou conta”, denunciou, referindo-se ao Ministério do Meio Ambiente. O pesquisador condena o que chamou de “privatização da floresta”.

“A conjuntura internacional está de olho numa região de um país imenso como é o Brasil. Se não houver esclarecimento e conhecimento integrado, uma política estratégica para gerenciar a Amazônia e impedir qualquer embrião de Estado paralelo, estaremos com nossa soberania ameaçada permanentemente”, destaca o professor Aziz.

NAS MÃOS DOS ESPECULADORES
Segundo ele, as dificuldades de gerenciamento do Ministério do Meio Ambiente “dão então abertura para aqueles que estão de olho na Amazônia, não só pela floresta, mas pela água doce, pelos recursos minerais, pelas florestas que têm fármacos, uma série de produtos de importância econômica e social. E ainda pelo petróleo que foi descoberto no oeste da Amazônia, na Amazônia Ocidental. Ela, com seus 4,2 milhões de quilômetros quadrados de zona equatorial, é uma reserva de biodiversidade máxima do planeta Terra. E não pode ser colocada nas mãos de especuladores em função de uma invasão complicada do capitalismo”.

Como destacou Ab’Saber, esses grupos internacionais, em sua maioria ligados ao capital financeiro norte-americano, têm interesses muito específicos (o patrimônio genético e mineral brasileiro) e atuam sob a fachada de Ongs supostamente interessadas na “exploração sustentável”. Estas organizações são financiadas por multinacionais do cartel farmacêutico, de cosméticos, de biotecnologia, ou, ainda, diretamente por governos que, após dizimarem as florestas de seus países, tentam transformar a Floresta Amazônica num pseudopatrimônio da Humanidade.

Matéria publicada dois meses antes da aprovação do projeto no Senado.

QUIS VOAR E VOEI

O ano era 1987. Ainda com 20 e poucos anos, época que não existiam telefone celular e internet, vivia eu sobre a ponte do mudar o mundo pelo conhecimento através da leitura e, também, pela força e a luta armada. O Brasil acabava de sair das amarras da Ditadura Militar, começando a passar para uma nova fase ainda desconhecida por mim e por milhões de jovens que não tinham alcançado aos 30 anos de vida neste vale de lágrima.

E, foi nessa turbulência política que fui convidado para ser mais radical do que já era. Aceitei sem pestanejar. Entrei para o clube da adrenalina, ou seja, um clube de pára-quedismo onde mais do que a vontade de mudar a realidade naquela década, queria aprender a voar. Voar como um passarinho e gritar meu grito de rebeldia, meu grito de liberdade que estava preso no peito desde o tempo de caserna ao qual fui submetido em 1984.

Buscava pelas discussões políticas e pela adrenalina uma nova forma de viver. Nesse caminho de buscas fui aprendendo que viver é mais importante do que tentar mudar o mundo. O mundo não muda quem muda são as pessoas.

Depois de três meses de treinamento me preparei para o grande dia. O dia que ficou marcado na mente de um sujeito pirado pelo perigo e amante das boas coisas da vida. Aliás, acredito que só os loucos têm consciência do sentido da verdadeira felicidade. Erasmo de Roterdam escreveu que a vida não tem sentido sem a loucura. Ele tem razão.

Era um domingo. Estávamos ansiosos para voar. Depois de checar todos os equipamentos, inclusive os de seguranças, começamos a preparação que nos tornaria homens-pássaro, mesmo que fosse por poucos segundos. Não importava mais nada. No peito o coração batia forte, acelerado, algo parecido com um princípio de taquicardia.

Ao entrar num avião sem portas e sem cadeiras o silêncio dos iniciantes do pára-quedismo era uma oração. Éramos quatro para o primeiro salto mais o lançador e o piloto que adoravam deixar a galera em pânico. O piloto gostava de “ajeitar” a carga, isto é, depois de certa altura virava o avião com a porta para baixo deixando todos com o coração na boca. O medo era de cair do avião na hora errada e descer longe do alvo marcado na pista de barro a mais de mil metros abaixo de nós.

No avião mais uma surpresa. Um dos iniciantes ao esporte radical nunca havia entrado numa aeronave. Além disso, havia enganado o instrutor omitindo que estava com malária. A emoção para ele era muito maior. Avião subindo, o piloto brincando de fazer piruetas no ar e o meu amigo passando mal. Estava mais amarelo do que folha de açafrão.

Chegando a altura certa começamos o procedimento de salto. Estando eu na porta, portanto sendo o primeiro a descer, comecei a pensar sobre as possibilidades daquela geringonça não abrir e me acabar no chão. Já fora do avião, pisando sobre o pneu dianteiro, um vento muito forte forçava o desequilíbrio do meu corpo. Foi nesses momentos de medo que comecei a pensar sobre a beleza da vida. Meus sentimentos estavam divididos: por um lado sentia medo, por outro prazer. Um prazer grandioso que não se consegue descrever em palavras.

Quando o instrutor deu a ordem para o salto: “agora, vai e te fode”, virei um passarinho. Estava eu voando, sozinho na imensidão do céu. Depois da rápida queda livre, verifiquei se tudo estava em ordem: velame, batoques e estirantes.

A descida e a navegação são momentos de prazer e emoção. Um silêncio sem igual invadiu meu ser. Não havia nada em todas as direções, apenas eu e eu brincando de voar. O tempo que fiquei curtindo a lei da gravidade, menos de cinco minutos, pareceu uma eternidade.

Lá de cima pude ver um mundo diferente. Foi exatamente lá em cima que filosofei, lembrando que no princípio era o nada. Onde e quando não cabiam o princípio e o nada. No fim será o nada. Onde e quando não caberão o fim e o nada.

E, descendo lembrei que a lucidez nos leva às raias da loucura. Não tenho medo. Apenas fico feliz ao saber que, como são felizes os irracionais. Eles não sabem o que fazem. Não temem a loucura. Voei alto. Coloquei asas e parti para a luz.

Atravesso todo o firmamento, alcanço a estrela mais distante e vôo ao redor do universo. Atinge-se o infinito e dele retornamos e recomeçamos tudo novamente. Os ponteiros do tempo param. De repente minhas costas se abrem e surgem novas asas para voar novamente. Quis voar mais alto e voei.

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA - IV

FALTA DE AVISO NÃO FOI

Flávio Garcia

Tenho dito inúmeras vezes que ao lado, por trás e à frente das duas propostas governamentais que tentam implantar no Brasil, as tais Concessões Florestais em terras públicas, beneficiando grandes grupos privados nacionais, estrangeiros e consorciados, em prazos que podem atingir até 60 (sessenta) anos, persistem interesses mercadológicos e de favorecimentos à abertura de espaços para a internacionalização da Amazônia, que nada ficam a dever ao conluio que se formou no País e exterior para a privatização da Vale do Rio Doce.

A primeira dessas propostas, dizendo respeito ao Projeto de Lei n° 7.492/02 elaborado pela Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, ao tempo do desgoverno Fernando Henrique Cardoso, e encaminhado ao final de sua gestão (17.12.2002) ao Congresso Nacional para exame e deliberação. E dela constando, basicamente, a indicação das Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais, como áreas públicas onde deveriam efetivar se as tais concessões; a partir do estabelecimento de licitações (leilões), com base em concorrências; sendo permitida a participação de consórcio de empresas para a exploração de recursos madeireiros e não madeireiros, pela execução de planos de manejo florestal sustentáveis; em prazos que poderiam alcançar até 60 (sessenta) anos. Imaginem!

Fácil verificar que ao Congresso Nacional e ao Governo Luiz Inácio Lula da Silva encaminhou-se um verdadeiro e transparente "presente de grego", tendo em vista os efeitos altamente comprometedores aos interesses e soberania nacionais. Mesmo porque, anteriores constatações davam conta de que o modelo proposto havia resultado em verdadeira calamidade, tanto no Sudeste Asiático (Indonésia e Malásia) quanto em países da África Central, pela perda de controle, da parte dos governos, em relação às superfícies desmatadas (exploradas) e, também, sobre a biodiversidade (fauna e flora), sem quaisquer possibilidades de recuperação.

Alertados por tais perspectivas, setores organizados da Sociedade brasileira, como no caso dos Movimentos de Defesa da Amazônia, Frente Parlamentar em Defesa do Brasil e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SBPC, fizeram saber à Presidência do Congresso Nacional (Câmara e Senado Federal) e à própria Presidência da República sobre os reais interesses e riscos que acompanhavam a proposta em questão. Resultando, como era de se esperar, na retirada do Projeto n° 7.492/02, pelo Poder Executivo (governo LULA), das Comissões Técnicas da Câmara dos Deputados, em julho de 2003.

E quando se esperava que a então possível tragédia mercado lógico ambiental, com área prevista em documentação oficial, em mais de 50 (cinqüenta) milhões de hectares, correspondendo, portanto, à superfície do estado de Minas Gerais ou a um país do porte de uma França, não vingasse entre nós, incompreensivelmente setores do próprio Ministério do Meio Ambiente (governo Lula) retomaram o seu conteúdo para reestudo, evidentemente orientados pelos mesmos interesses predominantes no desgoverno FHC.

Como resultado dessa retomada de conteúdo pelos atuais dirigentes da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, elaborou se e está sendo oferecido à Nação, um novo referencial, representado pelo Projeto de Lei n°4.776/05, recém (fevereiro de 2005) encaminhado à Câmara Federal, em Regime de Urgência, para exame e possível aprovação pelo Congresso Nacional, englobando os seguintes aspectos:

1 - Troca da titulação do Projeto, da nomenclatura inicial de "Regime de concessão florestal em Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais" para "Gestão de Florestas públicas para produção sustentável...", com aprofundamento, no entanto, de conteúdo altamente comprometedor aos interesses e soberania nacionais;

2 - Permanência da possibilidade de formação de consórcios empresariais e, também, do prazo limite de até 60 (sessenta) anos, imaginem!, para vigência dos contratos exploratórios madeireiros e não-madeireiros, após licitação (leilões) de grandes áreas de florestas com ênfase à Região Amazônica. (Artigo 35 e Artigo 8);

3 - Introdução do recurso da "terceirização" das atividades em cada uma das glebas e concessões contratadas, em uma verdadeira abertura à formação de condomínios-empresariais-madeireiros, de difícil monitoramento. (Artigo 28);

4 - Também, acompanhando cada uma das licitações, venda conjunta dos acervos técnico-científicos, projetos, levantamentos e outros subsídios porventura existentes nas respectivas glebas, a serem leiloadas, em uma injustificável sessão de experiências e conhecimentos. (Artigo 25);

5 - E ainda que, estarrecedora e inconstitucionalmente, possibilidade de hipoteca (isso mesmo, hipoteca!) das florestas a serem exploradas, através do direito de oferta, em garantia, pelas concessionárias, às Agências de Financiamento dos produtos madeireiros e não madeireiros a serem obtidos com as explorações. (Artigo 30);

6 - Criação de Autarquia, na estrutura do Ministério do Meio Ambiente, denominada Serviço Florestal Brasileiro SBF, para gerir exclusivamente os empreendimentos madeireiros em causa, em 23 (vinte e três) diferentes atribuições, em um primeiro passo para criação de uma Agência Nacional de Florestas ANF, como já sugerido oficialmente. (Artigo 59);

7 - Como poder concedente das glebas públicas, para efeito das licitações (leilões), e mesmo fiscalizações, foram estabelecidas as competências para a União, Estados e Municípios (imaginem o que poderá resultar neste último caso!). (Artigo 51);

Fácil verificar, pela interação desses destaques, os verdadeiros objetivos que se encontram embutidos em meio às duas propostas (FHC + LULA) e que, transparentemente, não atendem, de forma alguma, as exigências para manutenção dos ideários e interesses da própria Soberania nacional nas áreas ocupadas por florestas públicas. Não contendo, de outra parte, quaisquer princípios norteadores e dispositivos visando a agilização de empreendimentos do tipo "manejo florestal sustentável". Mas, tão-somente, claros e evidentes favorecimentos à entrada, no País, com ênfase à Amazônia, de grandes conglomerados ou consórcios madeireiros. E chamando a atenção, no caso, a oferta de privilégios dificilmente imagináveis, do tipo hipoteca das florestas para efeito de ganhos em financiamento e, ainda, a posse efetiva das terras por prazos praticamente indefinidos, tendo em vista as sempre possíveis renovações contratuais.

Sem sombra de dúvida, as tais "Concessões Florestais ou Gestão de Florestas Públicas", como querem agora, se apresentam como o primeiro grande passo para a internacionalização da Amazônia, através da sua globalização, em iniciativa oriunda do próprio governo brasileiro. O que jamais poderemos aceitar e permitir!
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Flávio Garcia é engenheiro agrônomo. Atua na área de Recursos Naturais e Meio Ambiente há 40 anos. Aposentado do CNPq/MCT, foi Secretário de Planejamento do estado de Rondônia (1987) e por duas vezes Consultor das Nações Unidas/PNUD para temas amazônicos (1997/2001). Atualmente exerce a função de Assessor Parlamentar no Congresso Nacional (Câmara e Senado Federal).

Matéria públicada dois meses antes do projeto ser aprovado no senado.

quinta-feira, julho 13, 2006

A IMPORTÂNCIA DO USO DA PECONHA NA AMAZÔNIA

Acredito que pouquíssimas pessoas tenham ouvido a palavra peconha. Até mesmo o computador faz questão de mudar a palavra por peçonha. Talvez esteja ai o desconhecimento dessa esquisita palavra e a utilização desse instrumento para a preservação de algumas árvores da Amazônia.

Na verdade, escrever sobre o tema começou com uma brincadeira durante o I Encontro Internacional de Jornalismo Ambiental da Amazônia realizado em setembro de 2003 na cidade de Rio Branco.

Para quem nasceu e viveu nos seringais da Amazônia a peconha é um instrumento comum. Imagine cortar o açaizeiro para coletar os cachos de açaí. Com certeza já não teríamos mais o produto no mercado para consumo.

A peconha vem do tupi peko´iñ. Substantivo feminino. Brasileirismo. Laço de corda ou de envira, com a forma de um oito, preso ao tronco de uma árvore e colocado ao redor dos pés, para subir numa palmeira. A colheita do açaí não é um trabalho muito fácil. A maioria das palmeiras atinge facilmente de 10 a 15 metros de altura, transformando a vida do coletor de cachos num grande perigo já que corre o risco de quebrar com o peso da pessoa.

Usando a peconha, um escalador habilidoso pode passar de um açaizeiro para outro sem precisar retornar ao chão para nova subida. Além disso, ele é capaz de coletar de três a cinco cachos em uma única escalada. O trabalho se torna mais eficaz rendendo uma boa colheita no final do dia, algo em torno de 100 quilos de frutos do açaí numa jornada de seis horas.

No Acre e demais estados da Amazônia a colheita do açaí é feita em determinados meses do ano. As populações tradicionais exploram o produto como renda familiar, assim como a castanha e a borracha, comercializados no Brasil e no exterior. O açaí, diferente dos outros produtos, é o único que o seringueiro tem data certa para coletá-lo, caso não queira ter prejuízo.

Nas famílias de seringueiros da Amazônia é comum uso da peconha ser passado de pai para filho. Isto é, os mais novos têm mais rapidez e agilidade para escalar as palmeiras. A utilização da peconha também evita a perda ou extravio das frutas do açaizeiro. Caso contrário, se os cachos caíssem ao chão, os frutos se espalhariam entre as folhas, causando perda de tempo e trabalho.

Mesmo estando em pleno século 21, equipamentos criados rusticamente em pleno coração da Amazônia, no início do século passado, continuam sendo de máxima utilização para a manutenção e equilíbrio da maior biodiversidade do planeta. Sendo assim, viva os povos da floresta que respeitam a sabedoria da natureza e convivem harmoniosamente com o meio ambiente.

IMPRENSA ACREANA À MERCÊ DAS MIGALHAS DO PODER

Relendo o livro Jornalistas e revolucionários nos tempos da imprensa alternativa, do jornalista Bernardo Kucinski, sobre o período da ditadura militar, percebe-se que nos últimos 30 anos a profissão de repórter vem perdendo tesão, poesia e paixão. Na obra de Kucinski está explícita a vontade e a ousadia de jornalistas de lutarem contra o poder, na tentativa de reabrir o país para a democracia.

Hoje, verifica-se que a profissão mais parece um balcão de negócios. Não adianta pensar que os tempos são outros, o sistema é outro ou a vida mudou. A profissão continua a mesma. Ou será que mudou também? O que observamos hoje é que em muitas regiões a imprensa evoluiu, em outras, pelo contrário, retornou ao clima de censura das informações.

Há censores nas redações de jornais, rádios e emissoras de televisão. O poder de governo dita o que deve ser lido e ouvido pela sociedade. O Acre, estado governado pelo PT desde 1999, é o retrato mais fiel dessa relação promíscua entre governo, empresários de comunicação e jornalistas. Há exceções, é claro, mas mínimas. Nessas exceções ainda há gestos de dignidade com a informação. A grande maioria vende ao mundo a mentira de um estado virtual em pleno desenvolvimento, um povo alegre, onde não há miséria, desemprego, violência e por ai vai. Já chegaram a dizer que "o Acre é a Finlândia do Brasil".

Os empresários de comunicação estão ganhando muito bem para espalhar a mentira aos quatro cantos do mundo. Na realidade, a população de Rio Branco, capital do Acre, deveria ser a mais politizada e cultural do país. Com apenas pouco mais de 350 mil habitantes, a cidade comporta quatro jornais diários. Três deles recebem mensalmente do governo para falar bem da administração. Chega a ser tão ridículo que as matérias produzidas pela assessoria de imprensa do governo são publicadas na íntegra, com os mesmos títulos, as mesmas fotos e, às vezes, nas mesmas páginas.

O pior dos bandidos
Jornalistas que não rezem pela cartilha do governo são perseguidos, repreendidos e até demitidos. Não adianta estrebuchar. Manda quem pode obedece quem tem juízo. A frase até poderia estar correta se não fosse voltada para uma classe guerreira que é a dos jornalistas. Durante os quase oito anos de governo do PT, muitos jornalistas foram embora do Acre e outros penduraram a chuteira, ou seja, largaram a profissão e foram fazer outra coisa menos perigosa. Quando se fala em perigosa significa não ser ético com você mesmo e com a sociedade carente da verdade.

Chega a ser um acinte à população acreana quando o governo apresenta proposta orçamentária para os setores da educação, saúde ou segurança. Nos últimos anos tem sido assim. A prioridade está na divulgação institucional do PT. A violência, a fome, a miséria, educação, saúde... são relegadas a segundo plano. Não tem importância. Bertold Brecht, quando escreveu O analfabeto político, tinha toda a razão, e a mensagem vai para os empresários que se vendem por migalhas para esconder as verdades. O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem de decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância, nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior dos bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o lacaio dos exploradores do povo.

MORALES, MAINARDI, VEJA E A VALA COMUM

Depois da confusão gerada pelo presidente Evo Morales, ao nacionalizar o gás boliviano, o tempo andou meio fechado pelas fronteiras do Acre com o país vizinho. Prender o gás e culpar a Petrobras de contrabando chega a ser cômico, já que a Bolívia não produz nada, ou melhor, apenas folha de coca.

Nacionalizar o gás tudo bem, é um direito do povo boliviano, mas querer expulsar os milhares de brasileiros que vivem naquele país é um afronta às relações democráticas entre as duas nações há mais de 100 anos.

Em recente artigo publicado com o título Sobrou para mim, o ex-senador acreano Jarbas Passarinho, afirmou que Evo Morales faz do nacionalismo uma caricatura, fazendo uma lembrança o que disse Vargas Llosa: O nacionalismo converte em religião algo que na sua origem é perfeitamente legítimo.

É o caso da Bolívia, na sua aspiração de eliminar a miséria de seu povo, depois de fornecer, no período colonial, sua riqueza em prata e ouro aos espanhóis.

Evo Morales escalou o Brasil para ser o imperialista odiado na figura (inicial apenas) da Petrobrás, que comprou ao seu país duas refinarias estatais que só davam déficits, numa licitação universal a que só o Brasil compareceu et pour cause.

Põe espetacularmente tropa para cercar as refinarias, afirma em Viena que as expropriará sem nenhuma indenização e finalmente ameaça: O Acre foi trocado por um cavalo. Sobrou para mim. Se ele resolver rasgar os Tratados de Ayacucho e o de Petrópolis como Hitler rasgou Tratados, ao dizer que não passavam de papéis ficarei sem nacionalidade.

Não só eu, mas só para citar xapurienses como Adib Jatene, mestre emérito dos cardiologistas, o jornalista Armando Nogueira e Chico Mendes. A menos que se exume Plácido de Castro, na sua epopéia do Deserto Ocidental.

Além desse triste episódio típico de um presidente fanfarrão, agora vem um imbecil chamado Diogo Mainardi, que se diz intelectual, pegando carona do também imbecil Evo Morales, dizendo que o Acre não vale um cavalo. Os dois não sabem nada sobre o Acre e sua gente. Não sabem que sangue foi derramado para que o Acre fosse território brasileiro.

Não sabem nada de história. Primeiro o Morales, que não estudou porque só plantou coca na vida, e o segundo, Mainardi, não passa de um intelectuoide de meia pataca, que tem vergonha de ser brasileiro. Seu sonho era ter nascido na Europa.

Morales tem lá suas razões. Mainardi não passa de um tremendo gaiato e falastrão, que vive fazendo fofocas sobre os outros. Entre os outros estão membros do governo Lula e jornalistas. Li recentemente uma reportagem afirmando que Mainardi era jornalista. Erro dos mais graves. Não é jornalista e, se fosse, já teria sido expulso da categoria por sua arrogância e mau caráter. Esse escritorzinho de meia tigela conseguiu vaga na mídia graça a revista Veja que, como ele, não passa de panfleto político.

Os acreanos têm razão e direito em acionar esse bandido fantasiado de escritor na Justiça, por falar besteira contra um pedaço de chão que foi palco de sangue para ser brasileiro. Se ele acha que o Acre não vale um cavalo, da mesma forma os acreanos têm certeza que Mainardi não deixa de ser um pangaré sem dentes, com todo respeito à raça dos eqüinos.

Se Mainardi ainda não tinha encontrado sarna pra se coçar, agora arranjou. Mexer com acreano é o mesmo que bulir onça com vara curta e cutucar casa de caba (vespa). Acreano é igual cearense e paraibano, em cada canto se encontra um fazendo arte. E olha se já não tem algum acreano lá por Nova Iorque, bisoiando esse tal de Mainardi para lhe dar uns merecidos cascudos no quengo.

Quando se mexe com um acreano já é uma confusão. Imagina esculhambar a terra amada onde milhares de pessoas têm orgulho de serem chamadas de acreanas e, ainda por cima, do pé rachado.

Sobre a revista Veja, já fui assinante. Hoje observo que é uma pena que nos últimos tempos a revista tenha enveredado pelos caminhos dos esgotos mais fétidos desse país. Não há mais respeito com a sociedade. Vive de especulações e leviandades em reportagens que não apresentam um fio de verdade. Não precisamos desse tipo de veículo de comunicação para manter o sistema democrático e, acima de tudo, para crescimento do Brasil.

Aliás, pensando com meus botões, o acreano em particular (porque foi agredido), e o povo brasileiro devem mandar o presidente boliviano Evo Morales e Diogo Mainardi para a vala comum de onde nunca deveriam ter saído e, claro, levando debaixo do braço a revista Veja para que num caso de necessidade fisiológica possa servir de alguma coisa. Tenho dito: viva o povo acreano que fez uma revolução para ser brasileiro.

JORNALISMO E O MUNDO CÃO

Quando conheci pela primeira vez uma redação de jornal confesso que fiquei extasiado com tantas máquinas de escrever, réguas, calculadoras e muito papel em todos os cantos. As informações de outros estados e do mundo chegavam pela máquina de telex que fazia um barulhinho infernal vomitando fitas de papel furadas. Fax na redação era coisa do futuro, telefone celular e internet eram equipamentos que nunca tínhamos imaginado. Senti que aquilo que observava seria o meu mundo para o resto da vida.

Foi paixão à primeira vista. Estávamos no ano de 1985, saindo do período de chumbo e tortura dos militares. Eu, como centenas de outros jovens, saindo da escola militar. Havia sido obrigado a servir o Exército, porque somente dessa forma poderia ser um legítimo cidadão brasileiro. Não existe situação mais retrógrada num país onde se é obrigado a fazer alguma coisa para ter seus direitos adquiridos.

Nessa época, a vida de jornalista no Acre não valia um vintém. Mas não esqueço que era nessa época que trabalhávamos com paixão e tesão pela arte de escrever, de contar as histórias do cotidiano em página de jornal. Foi durante todo o restante da década de 80 que muitos jornalistas mudaram de profissão para preservar a vida. Vivíamos num estado cruel. Não era nenhuma novidade saber de notícias de que algum jornalista havia sido espancado pela polícia ou estar atrás das grades como criminoso de grande periculosidade. Em algumas vezes, com arma na cabeça, jornalistas eram obrigados a comer as matérias que escreveram sobre alguma pessoa importante que teve seus interesses ilegais revelados no jornal.

As redações eram invadidas. Repórteres fugiam para não morrer. Era um mundo cão. Ainda no período de 80, no Acre havia um tipo de batismo para ser jornalista respeitado. Esse batismo consistia em ser espancado, preso e processado por seus algozes. Este que vos escreve, por exemplo, conseguiu uma coleção de apenas seis processos e algumas cicatrizes pelo rosto. Mas, como havia decidido que a redação de jornal seria meu templo, nunca, em momento algum, pensei em desistir dessa profissão-perigo.

Os tempos mudaram. Hoje o maior inimigo da liberdade de imprensa é o próprio Estado. É o governo que dita regras, que censura e que manda e desmanda na linha editorial dos veículos de comunicação do Acre. Com dinheiro nosso, do contribuinte, que o governo gasta uma fortuna para que a população não veja a verdadeira face de um estado pobre e miserável.

É o governo que persegue jornalista, ameaça e tortura sob o jugo do poder. Se antes tínhamos a coragem e a liberdade, mesmo colocando a vida em risco, de escrever reportagens para o bem comum da sociedade, hoje vivemos sob a égide do medo do desemprego. A regra desse governo é clara: “se não estás comigo, estás contra migo”. É a tal regra da palmatória.

Com pouco mais de 20 anos de profissão continuo inflexível com os mesmos propósitos que delineei quando coloquei os pés pela primeira vez numa redação. Minha luta não é contra governos corruptos e seus corruptores. Meu objetivo de vida é pelo bem-comum da sociedade, e nesse contexto, não tenho dúvidas de que viver terá valido mais do que um vintém.

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA - I

“O imperialismo na Amazônia, não apenas brasileira, combina sua estratégia militar de espionagem e ocupação futura com interesses mediatos dos capitais monopolistas, insumos para a indústria biotecnológica.” A afirmação é da professora do Departamento de Economia da Universidade Federal do Acre (UFAC), Nazira Correia Camely, depois de uma pesquisa sobre o papel das organizações não-governamentais na Amazônia.

De acordo com a professora, a estratégia combina intervenção econômica com elementos de guerra de baixa intensidade, tendo por base o ecologismo. Tenta cimentar ideologicamente interesses diversos, como os de pequenos produtores e latifundiários, através de uma política de planejamento estatal, como o zoneamento econômico e ecológico, financiado e dirigido por quadros de agências do imperialismo como o Banco Mundial.

O fracasso desse planejamento, apesar dos esforços de propaganda dos governos estaduais e da própria SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos, revela-se na brutal atuação dos órgãos de meio ambiente contra os camponeses: medidas repressivas contra o desmatamento de pequenas áreas para alimentos, pesca e caça, entre outros, aplicação de multas, tomada de ferramentas, prisões e tortura.

O estudo revela que outro resultado bastante visível das políticas imperialistas na Amazônia tem sido o esvaziamento do campo, movimento migratório que tem provocado o crescimento exagerado das cidades e constituído uma população flutuante na fronteira do Brasil com a Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia. Daí a constituição de uma população flutuante empurrada ora para um país, ora para outro, sem conseguir resolver seu problema, a terra, já que se trata principalmente de camponeses e índios.

A manutenção de relação semifeudais
Ao final do século XIX a produção de borracha controlada pelos EUA engendra um complexo sistema de financiamento da produção que mobilizou um grande contingente de trabalhadores originados do nordeste do Brasil. Segundo a professora Nazira Camely, um sistema de endividamento impedia que esses trabalhadores obtivessem terra, que estavam disponíveis na região. Tratava-se de ter uma força de trabalho exclusiva para a produção de borracha, aprisionada ao sistema extrativista onde os donos de terras – os seringalistas – controlavam os preços da borracha e dos insumos que eram vendidos aos seringueiros. As relações de trabalho eram mantidas pela violência de jagunços, verdadeiro Estado num território em disputa com países vizinhos como Peru e Bolívia.

Tais relações foram modificadas com a crise da produção de borracha no Brasil, porém em várias regiões ainda se mantêm essas mesmas relações. A maioria desses seringueiros, durante quase um século, nunca se tornou proprietário fundiário, o que com a ajuda do oportunismo permitiu convertê-los, ao final dos anos 80, em defesa dos interesses do imperialismo; passaram a vigiar extensas áreas de terras para uma finalidade que até agora não se sabe bem qual seja, a não ser a defesa da natureza e os interesses de toda a humanidade, tal como pregam os ecologistas das ONGs e o próprio Estado.

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA - II

As reservas do imperialismo
Na década de 70, a região amazônica recebe grandes quantidades de migrantes, resultado do processo de expulsão de pequenos produtores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde investimentos capitalistas na agricultura desenvolvem a agricultura mantendo as relações atrasadas – o que se chamou de modernização conservadora – ao mesmo tempo em que grandes extensões de terras, antigos seringais, são vendidos a fazendeiros provenientes do Centro-Sul do país. Com apoio estatal recebem, além de terras, recursos para a criação de gado. Tratava-se de um projeto dos militares de ocupação da Amazônia visando fins geopolíticos, grande propriedade rodeada de pequenos produtores que serviriam de força de trabalho para o latifúndio.

“A expulsão de antigos posseiros que viviam nos seringais agora falidos, dá-se com extrema violência, espancamentos e mortes. As cidades da região expandem-se rapidamente, sem condições de infra-estrutura para os que chegam. Cresce um movimento de resistência no campo para continuar vivendo na terra e um movimento na cidade, pela ocupação de lotes urbanos para moradia”, diz a professora.

Nesse mesmo período dos anos 70 a Contag – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura criou sindicatos de trabalhadores rurais em vários locais, ao mesmo tempo em que crescia um movimento camponês radicalizado, que enfrenta os novos proprietários de terras, que necessitam derrubar a floresta para criar gado.

Esta atividade está em frontal oposição às atividades extrativas que ainda são desenvolvidas por seringueiros ou ex-seringueiros, agora agricultores, pescadores etc. Esta luta pela posse da terra contra os latifundiários vindos do Centro-Sul será caracterizada, posteriormente, como uma luta pela manutenção da floresta. Em seu discurso Chico Mendes acrescentará que tais lutas eram pacíficas, o que não tinha nenhum fundamento.

Nazira Camely afirma que a ocupação de Rondônia no mesmo período resulta em uma ocupação dirigida pelo Estado, de pequenos produtores, principalmente em torno da principal rodovia que liga o Acre ao resto do país (BR/364). A produção de café, cacau e outros gêneros alimentícios é crescente. O massacre de populações indígenas e a intensidade de tal ocupação convertem-se em preocupação de ONGs principalmente norte-americanas que pressionam o Banco Mundial, um dos principais fornecedores de recursos para tais atividades.

A conversão de camponeses, que ainda estavam vinculados à produção de borracha, embora secundariamente, em defensores das florestas (as castanheiras e seringueiras somente sobrevivem onde existem florestas) decorreu de alianças da liderança desses trabalhadores com o movimento ambientalista, principalmente norte-americano. A atuação do oportunismo foi fundamental nesse processo, destacando o papel do PT e da igreja.

Na avaliação da professora, muitas ocupações de terra dos anos 80 eram resultado de acordos entre a igreja e o Estado, e a luta dos seringueiros para garantir suas posses contava com a experiência secular da Igreja Católica, mesmo com sua característica ação vacilante. Os seringais eram propriedades privadas dos seringalistas, que ali foram durante muito tempo patrão e Estado, com o apoio providencial da Igreja Católica, que percorria estes seringais prestando seus serviços ideológicos para garantir a ordem latifundiária. Além de seu aparato repressivo privado, o seringalista contava também com os serviços da polícia na solução de problemas vinculados ao não cumprimento das normas, por parte dos seringueiros.

A pesquisa revela que, nesse período, o PT vai ser o principal protagonista de uma “nova ordem” camponesa (de origem clerical) que atende aos interesses do imperialismo. Visa manter a pequena propriedade provocando pequeno impacto ambiental e convivendo com a grande propriedade. De uma forma sintética, com o apoio de universidades brasileiras e norte-americanas e outros organismos de pesquisa e extensão em agricultura elaborou-se como pretensa solução ao problema do desflorestamento provocado pelos pequenos camponeses e o sistema agro-florestal. A produção agrícola voltada para a exportação de produtos tropicais com aceitação nos chamados mercados verdes. Tudo isto financiado com dinheiro do G-7 para o meio ambiente. O fracasso de tal panacéia é visível, assemelhando-se aos chamados cultivos alternativos à folha de coca na Bolívia, outro redundante fracasso.

O principal projeto dessa política é a Reserva Extrativista, grandes extensões de terra vigiadas por ex-seringueiros. O PT proclama as reservas como a reforma agrária da Amazônia. Tal reforma retirava da mão dos posseiros a propriedade fundiária, firmava-se um contrato dos antigos seringueiros com o Governo Federal, a terra é propriedade do Estado, os seringueiros poderão usá-la de acordo com as determinações do órgão responsável pelo meio ambiente.

De acordo com o estudo da professora, a projeção do líder seringueiro Chico Mendes nos anos 80 contou com a colaboração decisiva de grandes ONGs norte-americanas como a Environment Defense Fund dirigida por Steve Schartzmann, que ao final dos anos 80 tinha 500 mil associados preocupados com as florestas tropicais. Tal repercussão propagandística contou ainda com oportunistas tecnocratas como a antropóloga Mary Alegretti, brasileira com boa relação com o Banco Mundial e membro do governo de Fernando Henrique Cardoso. Alegretti foi assessora do Ministro de Meio Ambiente – Sarney Filho –, parceira de Steve Schartzmann e contou ainda com o apoio decisivo do PT.

Chico Mendes tinha contradições com a Igreja Católica, ou mais precisamente com parte dela, que disputava a liderança dos seringueiros, já que Chico pertencia à esquerda do PT. Sua estreita vinculação com os seringueiros decorria de sua origem, filho de seringueiro, e de sua participação nos sindicatos recém criados, que ele define como centro da política dos seringueiros-ambientalistas a aliança com os ambientalistas-imperialistas – norte-americanos –, oposição ao latifúndio – os fazendeiros financiados pelo Estado na década de 70.

Esta política era definida pelo PT na região com a orientação absoluta dessas ONGs. As contradições com os fazendeiros foram relegadas a segundo plano em função do reconhecimento “internacional” do líder seringueiro, o que resultou em seu assassinato por médios fazendeiros com a conivência do governo do Estado do Acre, à época.

A intervenção imperialista, enquanto política converte-se cada vez mais em gestão ou administração das reservas extrativistas, gestão essa executada por órgãos do Estado, organizações não governamentais, cooperativas dos seringueiros e sindicatos de trabalhadores rurais. As escolas de alfabetização dos seringueiros vão contar com enorme apoio da intelectualidade e do próprio aparelho Estatal.

“Esta administração cada vez mais direta, por organismos imperialistas, semi-colonial na forma, exigiu e continua exigindo a formação de quadros e executores, muitos deles índios e seringueiros e os bem comportados recém-formados das universidades, que difundem um credo denominado desenvolvimento sustentável”, sustenta Nazira.

No Acre, sustenta a pesquisadora, foram criadas várias ONGs revelando um verdadeiro Estado administrado pelos petistas antes que chegassem à administração do governo local no Acre. Aí, não tem limites o nível de apodrecimento e corrupção. Uma dessas ONGs é o CTA – Centro de Trabalhadores da Amazônia, de onde saiu Marina Silva – atual ministra do Meio Ambiente, Jorge Viana – Governador do Acre em seu segundo mandato, seu irmão Tião Viana – senador. Outra ONG a SOS Amazônia, entregou boa parte das terras do Acre na fronteira com o Peru para a TNC – The Nature Conservancy –, bastante conhecida por tentar comprar terras no Brasil e na Bolívia em troca de dívida externa.

“A última façanha desses senhores é tentar nessa região do Acre expulsar antigos moradores de uma região conhecida como Serra do Divisor. Outra via do semicolonialismo é o PESACRE, uma ONG vinculada à Universidade da Flórida, com longa experiência na Amazônia: Pará – Acre – Bolívia, que vem formando quadros para o ambientalismo enviando estudantes aos EUA e trazendo para a Amazônia estudantes de universidades norte-americanas, além de espiões com experiência em contra insurgência em outros países”, afirma.

De acordo com Nazira Camely, boa parte desses quadros formados nas ONGs agora ocupa posições chaves no governo do Acre e tem experiência comprovada de “organização comunitária”, projetos, venda de produtos florestais, coleta de informações, uso de tecnologias como SIG – Sistema de Informação Geográfica –, alfabetização de seringueiros, ensino bilíngüe para povos nativos etc.

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA - III

O PT no Acre e sua importância para o projeto imperialista na Amazônia
Segundo a professora, o governo do PT resultou de uma aliança com o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, aliança que atende a interesses estratégicos que estão em jogo envolvendo principalmente os ianques. As reservas extrativistas foram um passo importante para a definição de áreas de terras que serão utilizadas posteriormente de acordo com os interesses dos monopólios, principalmente norte-americanos. Essas áreas são administradas por uma diminuta população, normalmente de ex-seringueiros que conhecem boa parte dos recursos existentes nessas áreas, insumos importantes para as indústrias farmacêuticas e correlatas.

Para Nazira Camely, as reservas extrativistas cumprem vários papéis. Elas garantem recursos para uso futuro, dos monopólios; produzem no lugar de alimentos para as populações camponesas produtos exóticos para os mercados dos países imperialistas; cria no campo uma população que não tem identidade com os camponeses de outras regiões e sim com os interesses mediatos dos imperialistas.

“O Governo do PT no Acre, dentro da política imperialista sintetiza suas ações e projetos estratégicos em uma palavra: Florestania, ou seja, segundo ele, uso racional da floresta com cidadania, o uso de recursos da floresta principalmente madeireiros é a grande investida, onde entre outros objetivos, é fornecer para as grandes corporações tecnologias “sustentáveis” de exploração madeireira. O conjunto de técnicas dita sustentável são soluções tecnológicas para as grandes propriedades ou grandes explorações”, diz.

A professora da UFAC afirma que há mais de 10 anos um consórcio dirigido por uma organização de compradores de madeira, sediado no Japão – ITTO – desenvolve experimentos de “manejo” florestal no Acre. O principal agente de tais projetos é o secretário de Planejamento do Governo do Acre, representante dos interesses imperialistas na Amazônia. O ex-governador do Amapá, João Capiberipe, guerrilheiro arrependido, seguiu o mesmo caminho do governador do Acre, aliás, com maior sucesso e visibilidade na mídia, elogiado por todas as agências do imperialismo.

Entre os planos do governo do Acre está a ampliação do território do Estado do Acre, mais áreas de terras onde possa desenvolver seus projetos de interesse dos EUA. Trata-se de algo que não é simples visto os interesses do governo do Estado do Amazonas em manter suas rotas do tráfico de drogas.

Outros projetos estão sendo desenvolvidos na região onde o governo do PT cumpre um papel de gerente, capataz ou mero executor como, por exemplo, os “estudos científicos” financiados pela NASA com participação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil, que busca estudar em várias dimensões (clima, solos, água etc.) toda a Amazônia, não só a brasileira. “Todas essas cooperações entreguistas são na verdade segredos de Estado, elementos que servirão para futuras políticas de ocupação do território amazônico”, conclui.

QUERO SER IMORRÍVEL

Não há dúvidas de que no Acre tudo pode acontecer e, realmente, acontece. Não é a toa que Rio Branco, a capital acreana, continua sendo uma terra de muro baixo onde todo mundo sabe da vida dos outros. Não é a toa também que, o Acre já foi a terra do já teve. Já teve muita coisa, inclusive bondinho na cidade de Sena Madureira. Mas, como tudo muda e, lá as coisas mudam mesmo, agora escrever uma tese dá o direito de ser imortal na Academia Acreana de Letras. Realmente o acreano é enjoado. Sofre mas goza como diz o Macaco Simão. Eu também quero porque não sou burro.

Quero ser imortal e ponto final! Vou juntar as besteiras que escrevi durante meus 20 anos de jornalismo para pelo menos ser imorrível. É isso mesmo, imorrível. Não quero entrar no mérito dos membros da Academia que querem a todo custo construir sua sede própria. É um direito deles que devemos respeitar. Agora vender uma cadeira da Academia para alguém que fez uma tese de doutorado com a promessa da construção dessa sede, ai são outros quinhentos. Estão vendendo a alma ao diabo sem precisar de troco.

Quem conhece o Acre assim como conheço, não tenho receio em afirmar que naquela terrinha abençoada, há um grande povo de coração maior ainda, cheio de histórias e estórias para contar. No Acre tudo realmente acontece. Vejamos alguns casos verídicos, segundo os mais saudosos que passaram dos 40 janeiros nesse vale de lágrimas. No Acre taxista dá carona, puta goza, traficante usa droga e por ai vai. É exatamente por essas disparidades que quero ser imorrível. Vou escrever receitas de alguma gororoba e pronto: estarei no páreo para vestir aquelas roupas de imorrível.

Rio Branco é um caso à parte. Não faz muito tempo que tinha uma loja chamada “Açucareira Rio Preto” que nunca vendeu um quilo de açúcar. Outra loja, a “Agroboi”, uma das maiores até hoje, nunca mexeu com agropecuária. Me disseram uma vez que, segundo tese, as mulheres do Acre são as mais quentes do planeta. Isso sabe por quê? Simplesmente porque bebem o Tacacá, uma bebida feita com jambú, uma erva que mastigada deixa a língua adormecida. Quem sabe, se escrever sobre o tacacá, poderei entrar no time dos imorríveis.

Brincadeiras à parte, não sou escritor mas tenho profunda admiração pela arte de escrever e, claro, de um bom texto. Um bom texto alimenta a alma, embora os meus sejam umas porcarias diante da minha forma de pensar. Mas, quem sabe um dia, seja lá que dia for, crio coragem e comece a escrever para, no mínimo, eu mesmo ler. A partir daí, eu leitor de eu mesmo, possa reivindicar uma cadeira de imorrível.

SAMBA DO CRIOULO DOIDO

Não poderia ser outro o título para definir a atuação dos partidos de oposição à administração da Frente Popular do Acre (FPA). Desde quando Jorge Viana assumiu o governo acreano os partidos oposicionistas não se entendem quando o assunto é eleição. É rasteira e cangapé para todos os lados, um verdadeiro samba do crioulo doido. Antigamente o pau começava a cantar depois das convenções, mas os tempos mudaram e, agora, o samba de peia começa dentro dos próprios partidos. Resumindo: na regra do jogo para as eleições de outubro só será falta quando alguém pisar na língua do adversário, isso claro, se o juiz, ou seja, a Justiça Eleitoral demonstrar competência para marcar a infração.

Enquanto PPS, PMDB, PSDB, PTC, PDT e PFL continuam de costas uns para os outros tentando puxar a sardinha para seu lado, arengando feito menino buchudo, a FPA vai compondo a trincheira para a batalha, negociando alianças com Deus e o diabo, chamando para o seu lado antigos inimigos mortais. Mas como guerra é guerra, o que importa é o fortalecimento do front. Não há dúvidas de que quando passar a Copa do Mundo a cobra vai fumar. A FPA vai mostrar à oposição que será peia para comer sabão e peia para saber que sabão não se come. Análise nua e crua: ou a oposição se entende e arruma a casa, ou vai apanhar em outubro, mais do que cachorro de índio.

No ano passado uma fonte de confiança da FPA me afirmou em Brasília que Jorge Viana teria mais de meio milhão de reais para gastar no decorrer de 2006, isto é, jogar dinheiro a balde para tentar eleger seu sucessor. A previsão está se confirmando. O governador está sentado numa verdadeira mina de ouro e, ainda, dirigindo uma máquina azeitada por ele mesmo, para manter o PT no poder por mais quatro anos. Nessa corrida Jorge Viana está cavalgando um puro sangue manga larga, enquanto a oposição ainda procura um pangaré.

Não adianta a oposição ficar fazendo beicinho e intrigas internas. Jorge Viana já demonstrou que é especialista em estratégias de campanhas, que entra na briga para vencer. Não é a toa que seus dois livros de cabeceira são O Príncipe e Arte da Guerra. O que estamos vendo nesse cenário político, nada mais é que Viana colocou em%

FOTOS PITTER LUCENA