PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

Minha foto
Nome:
Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil
PageRank

terça-feira, outubro 30, 2007

BALANÇA MAS NÃO CAI

Alguém lembra da ponte balança mas não cai, nome dado pelos moradores do Segundo Distrito de Rio Branco, à parte da ponte Juscelino Kubitschek que desabou devido o acúmulo de balseiros nos pilares, na década de 80?

Pois é, a ponte estilo Indiana Jones, marcou época. Muitas pessoas não tinham coragem de encarar a aventura da passagem devido ao balanço que fazia de um lado para outro. Era preciso se segurar nos "corrimões", isto é, fios de ferro, para não cair.

Quando alguém passava de bicicleta, que era proibido, a situação piorava. Era um deus nos acuda. Fica o registro de um tempo não muito longe, mas que deixou saudades. Quem souber alguma história sobre a ponte balança mas não cai que nos conte.

Marcadores:

segunda-feira, outubro 22, 2007

CRIME E CASTIGO

Vila Plácido de Castro na década de 70

Desde criança tive vontade de viajar, conhecer lugares, viver grandes aventuras. Com só dez anos de idade arrisquei na primeira viagem, que na metade se transformou em pesadelo. Se arrependimento matasse, teria morrido nesse sábado de 1975. Família muito pobre, para não dizer miserável, morávamos num quarteirão mais miserável ainda, no bairro 6 de Agosto, proximidades da atual Fundação de Cultura Garibaldi Brasil, em Rio Branco, no Acre. Nesse lugar a fome mandava lembranças todos os santos dias. Quarteirão é uma grande casa dividida em vários quartos onde muitas famílias se amontoam para não ficarem na rua, mas pagando aluguel.

Num sábado bem cedo fui comprar pão na padaria que ficava onde hoje funciona o ponto de ônibus para Senador Guiomard, o Quinari, e na época era a rodoviária com ônibus para a Vila Plácido de Castro. Junto foi um garoto vizinho mais velho, que me fez o infeliz convite de viajarmos até lá. O coração disparou e recebi a primeira lapada de adrenalina. Mandei o pão para casa por um colega vizinho e deixei meu coração mandar em mim naquele dia. Queria viver aquela emoção, andar sozinho, sem ninguém para dar ordem ou dizer o que é certo ou errado. Entrei de cabeça no sentimento de liberdade rumo ao desconhecido. Criança não pagava passagem, não havia muito controle se estava acompanhada ou não.

Porém, o que era euforia de estar mandando na minha vida se transformou em pesadelo, num grande pesadelo. Meu pai, homem duro que falava com um cinturão na mão, jamais perdoaria minha rebeldia. Tinha certeza que o preço pela escapada clandestina seria alto. Logo no início o senso de razão mandava voltar. Mas, não tinha volta. O ônibus saia de Rio Branco às seis da manhã e voltava às seis da tarde. Rodava lentamente pela estrada de terra esburacada e muita poeira, sem pressa para chegar a lugar nenhum. Os passageiros, pessoas simples, nada conversavam. A maioria estava em Rio Branco para tratar da saúde ou algo parecido. Alguns fumavam e a fumaça fétida do lado de dentro e a poeira sufocante do lado de fora deixavam qualquer um maluco. Foram doze horas de sofrimento.

Chegamos a Plácido de Castro por volta da 11:00h horas e o sentimento de tristeza me pegou. Nada de fome nem sede, só queria voltar o mais rápido possível. O povoado era uma quadra com casas feitas de tábuas e cobertas de palha, ruas sem asfalto. Alguns comércios negociavam borracha, a maior riqueza naquela época. Lugar desolado e esquecido por Deus onde o homem teimava em viver. Em minutos se conhecia toda a cidade. Devido o desespero não saí de perto do ônibus, com medo de perder volta para casa. De Rio Branco à Plácido de Castro são só cem quilômetros, mas foi a distância mais longa da minha vida. Pensava na fúria do meu pai, no que aconteceria após o desembarque e isso me atordoava sem parar. Como bom cabrito não berra, tinha que enfrentar as consequências, a besteira estava feita e ponto final. Mas sabia que caminhava para o calvário.

Quando cheguei meu coração quase saiu pela boca. A primeira pessoa que vejo encostada numa mangueira era o meu pai. Ao descer ele se aproximou e cochichou: “quando chegar em casa vamos ter uma conversa”. Nesse momento o mundo desabou, sabia perfeitamente que conversa seria. Lá fomos nós. De cabeça baixa caminhando lentamente para retardar o castigo, ou para que meu pai mudasse o “tom da conversa” até chegar em casa. Não houve conversa no caminho. Eu na frente e ele atrás como se estivesse evitando fuga inesperada de minha parte. Que nada. Sabia que se fugisse o castigo seria pior. O percurso da rodoviária até em casa era de quinze minutos, mas demorei mais de meia hora na esperança de que Deus fizesse um milagre sobre a “conversa” que me atordoava. Se meu pai soubesse que durante a viagem já havia sofrido tanto, talvez tivesse pena de mim.

Ao chegar em casa, na verdade um pequeno quarto, mandou que minha mãe e meus irmãos fossem para fora. Trancou a única porta que havia, mandou-me ajoelhar e disse com uma corda na mão: - “agora vamos conversar”. Era o momento que mais temia. Como nunca fui de fugir da raia apenas disse “sim senhor”. Foi a maior surra que levei na vida. Calado, apanhava feito um bicho, enquanto ele gritava para que nunca mais fizesse esse tipo de coisa. A mãe do lado de fora gritava para que ele parasse de me bater, que a lição estava de bom tamanho para um menino. Que nada! Quanto mais batia mais raiva ele tinha. Calado, não suplicava por perdão, e a corda caia com mais força pelo corpo. Foram mais de quarenta minutos de peia, muita peia. Foi uma surra para ninguém botar defeito. Ao final ele perguntou “ainda vai fazer isso?”. Quase sem forças apenas respondi “não senhor”.

O resultado final dessa surra foram três dias de cama. Sem conseguir andar direito, moído, quebrado e a lição de nunca mais fazer nada sem a permissão dos pais. Essa foi apenas a primeira viagem, inesquecível, uma história que agora conto sobre a rebeldia impensada de um menino de apenas dez anos de idade.

Marcadores:

sexta-feira, outubro 19, 2007

BRAGA LANÇA LIVRO EM BRASÍLIA

Na quarta-feira, 24, o brasiliense terá uma oportunidade ímpar. Conhecer a genialidade do cartunista Francisco Braga. Cearense de Fortaleza, Braga viveu 14 anos em Rio Branco, no Acre, onde trabalhou na maioria dos veículos da imprensa daquele Estado. Ele apresenta ao público de Brasília seu livro História desenhada – Charges do Braga, uma coletânea de 200 charges sobre temas variados. É um livro para fazer rir e refletir. Tudo porque Braga exprime em suas charges, e de forma divertida, a realidade brasileira, da qual é observador atento. O humor, portanto, caminha nas páginas de seu livro.

Graças às suas bem-humoradas charges recebeu três vezes consecutivas o Prêmio José Chalub Leite de Jornalismo. "A charge do Braga representa a crítica político-social. O artista expressa graficamente sua visão de situações cotidianas, de forma burlesca e humorística. Como desenho crítico, satiriza poderosos por seu importante papel social", escreve o artista plástico Danilo de S´Acre sobre o livro de Braga. Acrescenta, também, que Braga, com um desenho direto e objetivo rói, corrói e constrói, e refaz situações estéticas sucintas de puro prazer da elegância artesã debochadas. "Braga é isso: uma charge cheia de graça", completa.

Braga utiliza a arte em suas várias formas para imprimir sua opinião, com isso escreveu, em parceria com Dinho Gonçalves, em 1995 a peça Tempo de Solidão, que virou livro em 1996 e espetáculo premiado em dois festivais no Paraná (Femucic e Fenata) em 1997. Neste período começou a desenhar charges e cartuns nos principais periódicos do Estado, sendo o jornal Página 20 o que o notabilizou, onde também emprestava seus conhecimentos na área de propaganda e marketing.

Em 2004 ganhou seu primeiro Prêmio José Chalub Leite de Jornalismo, na categoria charge, o que se repetiu nos dois anos seguintes. O reconhecimento o incentivou a publicar, em 2006, o livro Charges do Braga: história desenhada. Uma coletânea de trabalhos que retrata o cotidiano de pessoas comuns, costumes e fatos da vida política no Brasil e no exterior.

Hoje, Braga vive no Rio de Janeiro de onde mantém seu Bragger http://cartunistabraga.blogspot.com/, um blog de charges e impressões sobre o cotidiano, a arte e a cultura. Braga continua publicando suas no Jornal do Interior - que circula em Barbosa Ferraz e Corumbataí (PR) - e, agora, na Agência Amazônia http://www.agenciaamazonia.com.br/, que o trouxe a Brasília para lançar seu livro. Ter em mãos o livro de Braga é a garantia de boas gargalhadas.

Contatos:
Chico Araujo
61.8134.8121/ 8413.9822

Marcadores: ,

terça-feira, outubro 16, 2007

VIOLÊNCIA SITIA RIO BRANCO

Andrey foi executado com três tiros quando saia de uma festa em Rio Branco.

É impressionante o alto índice da violência urbana na capital do Acre. Nos finais de semana os números de homicídios, latrocínios, acidentes de trânsito e tantos outros crimes, estarrecem a sociedade que nos últimos anos vive sob o domínio do medo, da insegurança. O cidadão quando sai para o trabalho não sabe se no final do dia estará em casa novamente. A violência tomou conta do Acre e, de Rio Branco, principalmente.

Não adianta implantar “lei seca” para reduzir a criminalidade que assola nos quatro cantos da cidade. Nos jornais diários sangue de pessoas inocentes estampa as manchetes. Resta-nos a dor e a indignação. A dor de perda de nossos amigos e parentes. A indignação da atuação do aparelho de segurança pública deteriorado, recheado de policiais despreparados, viaturas quebradas, falta de combustível e, pasmem, até cassetetes a Polícia Militar do Acre está em carência. Está na hora, ou melhor, passando da hora, dos órgãos de segurança do Acre repensar o conceito SEGURANÇA PÚBLICA.

Todos os dias inocentes são assassinados. Recentemente, madrugada de segunda-feira (15/10), mais um inocente tomba assassinado com três tiros quando saia de uma festa num conhecido bar em Rio Branco: o Flutuante. Andrey como era conhecido pelos amigos, foi alvejado ao chegar ao carro de sua propriedade na rua principal do bairro da Base. Não teve tempo de reação, muito menos de qualquer defesa. O criminoso atirou a sangue frio para roubar alguns objetos pessoais, o que nos leva a crer que a vida para esse tipo de gente, se é que é gente, não vale mais nada. Repetindo: Está na hora, ou melhor, passando da hora, dos órgãos de segurança do Acre repensar o conceito SEGURANÇA PÚBLICA.

Transcrevo agora matéria do jornal Folha do Acre de segunda-feira. Dos sete corpos que deram entrada no Instituto Médico Legal de Rio Branco, um deles era do meu amigo Andrey. A pergunta que não quer calar: até quando vamos continuar vivendo sob os auspícios da violência, da marginalidade, da morte?

Estudante de medicina assassinado no centro da cidade
Sete corpos deram entradas ao IML durante o final de semana. Um assassinato bárbaro ocorrido na madrugada de segunda-feira, em frente ao Bar Flutuante, bairro Base, centro da cidade quando o estudante de medicina Éliton Andrey Batista Roque, 33, foi assassinado a tiros dentro de sua camionete vermelha de placa MZQ-7860.

Com dois tiros no tórax e um no coração, Éliton Andrey Batista Roque foi executado na madrugada de ontem. Ele cursava medicina em uma universidade de La Paz, Bolívia.

Membro de família tradicional de Rio Branco, Andrey curtia as férias e retornaria a La Paz ontem. A polícia trabalha com a hipótese de assalto seguido de morte, pois existem informações de que dois cordões de ouro e de prata desapareceram.

O sargento Paulo Silva disse que, por volta de 1h10, ele e seus comandados passavam com uma viatura no calçadão da Gameleira quando ouviram os disparos do outro lado do Rio Acre.

Deslocaram-se imediatamente para a Rua Barbosa Lima, proximidades do estacionamento do Bar Flutuante, no bairro da Base, e encontraram Éliton Andrey sem vida na D-20.

Alegria de viver
Conheci Andrey em novembro de 2006 no restaurante Papinha em Rio Branco. Na ocasião disse-me que tentava uma bolsa de estudos numa faculdade de medicina em La Paz, Bolívia. Sempre alegre e brincalhão conversava com todas as pessoas que estavam no local. Não tinha inimigos, pelo contrário, muitos e muitos amigos. Era um camarada muito querido por todos, pela sua alegria de viver e enfrentar a vida. Para ele não havia tempo ruim. Havia esperança e sentimentos cheios de beleza. Sonhava em ser médico para, segundo ele, ajudar os mais necessitados. Sua vida, curta vida, sempre esteve marcada pela a utopia de um mundo melhor.

quarta-feira, outubro 10, 2007

SOLIDÃO

Tem dias que acordamos atravessados, com vontade de fugir de casa, das pessoas, do mundo. Nesses dias seria bom nem pensar, respirar. Apenas esperar pela mensagem que não veio, pelo sol que passou, pelo vento que parou, pelo vazio que chegou. É nesse momento que vivo além da solidão desse vazio.

Quem ainda não sentiu o sabor amargo da solidão? Quem nunca pensou que está só em meio a uma multidão? Ou quem ainda não se sentiu solitário ao lado de alguém? Com certeza a maioria de nós sabe o que é a solidão, da qual estamos tentando escapar. A maioria de nós tem consciência dessa pobreza interior.

Passeando por várias linhas de pensamento, observamos que quando se ama alguma coisa, há naturalmente comunhão com essa coisa, mas o amor não é uma palavra, um nome, um simples ato de pensar. Não se pode amar aquilo a que damos o nome de solidão porque não temos plena consciência dela.

Há nesse conflito interior uma grande vontade de fugir de nós mesmo. Logo, isso que denominamos de vazio é um processo de isolamento que é o produto do relacionamento cotidiano, porque, no relacionamento, consciente ou inconscientemente, estamos procurando a exclusão da nossa própria existência. Nesse momento há um leve desejo de fechar a porta e dizer adeus a nós mesmo.

A solução do problema não vai ser encontrada nas teorias, que servem somente para aumentar o isolamento. Mas, sim, na mente, que é pensamento, empenhado em fugir da solidão.

O escritor Arthur Schopenhauer, disse em uma de suas obras que “Quem não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre”.

Na minha humilde forma de pensar, acredito que solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo; não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar; não é o retiro voluntário que a gente se impõe as vezes, para realinhar os pensamentos; não é o vazio de gente ao nosso lado nem tampouco a plenitude de gente a nossa volta.

Solidão é muito mais que isto. Solidão é quando nos perdemos da vida, dos sentimentos, do amor, da nossa companhia. Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão, pela nossa alma.

Marcadores:

segunda-feira, outubro 08, 2007

Parlamento da América do Sul será construído "passo a passo"

Senador Geraldo Mesquita Júnior, presidente da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul.

A construção do futuro Parlamento da América do Sul deverá ocorrer "passo a passo e sem pressa", como ficou definido em seminário realizado na sexta-feira (5), na cidade boliviana de Cochabamba, com a presença de 56 parlamentares de 12 países do continente.

A cautela na adoção desse novo organismo foi defendida pela delegação brasileira presente ao encontro, que prefere direcionar o maior empenho, nesse momento, à consolidação do Parlamento do Mercosul.

- Houve um discurso unânime a favor do princípio da integração regional, mas existem organismos em funcionamento e não podemos dispersar energia, pois devemos nos concentrar no que já existe - disse o senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC), presidente da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, que esteve em Cochabamba acompanhado do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, e do deputado Cláudio Diaz (PSDB-RS), vice-presidente da representação.

Segundo a proposta discutida na Bolívia, o Parlamento da América do Sul seria composto pelos Parlamentos Andino e do Mercosul, além de representações de Chile, Guiana e Suriname, que não participam de nenhum dos dois blocos. O novo órgão se reuniria duas a três vezes por ano e contaria, a partir de 2011, com deputados eleitos pelas populações de cada país - com exceção dos três convidados - para integrar os seus dois respectivos legislativos regionais.

Durante café da manhã que reuniu deputados e senadores brasileiros, na segunda-feira (8), todos os presentes manifestaram preocupação com a proposta de criação do novo parlamento, lançada inicialmente pelo governo boliviano. O novo órgão, também conhecido como Espaço Parlamentar Sul-americano, teria sede em Cochabamba e poderia realizar sessões tanto na cidade boliviana como nas cidades sedes do Parlamento do Mercosul e do Parlamento Andino - Montevidéu e Bogotá.

O senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS) lembrou que a presença de parlamentares brasileiros em Montevidéu, para participar da sessão do Parlamento do Mercosul, devia-se à aprovação da criação do novo órgão legislativo pelos Congressos Nacionais de cada um dos países membros do bloco. A secretaria-executiva da União das Nações Sul-americanas (Unasul) chegou a apresentar, no seminário de Cochabamba, uma proposta de Tratado Constitutivo do Parlamento Sul-americano - ou Parlamento do Unasul - que não foi aceita pela delegação brasileira.

O presidente do Parlamento do Mercosul, deputado uruguaio Roberto Conde, lembrou que os presidentes dos países que compõem o Unasul solicitaram, em dezembro de 2006, o estudo de um projeto para a criação do Parlamento Sul-americano. Na sua opinião, esse novo organismo não enfraqueceria o recém-criado Parlamento do Mercosul, uma vez que seu principal objetivo seria o de debater a "política de convergência" dos dois blocos econômicos envolvidos, o Pacto Andino e o Mercosul.

- É preciso deixar claro que não se trata de criar um novo parlamento, mas, sim, de unir dois parlamentos que já existem - afirmou Conde.

Marcadores:

sexta-feira, outubro 05, 2007

O BRASIL DE LULA - VÍDEO

Veja este vídeo gravado por Zé Ramalho e faça uma reflexão sobre o país que vivemos e o país que queremos. Lula, com certeza, continua na luta para acabar o Brasil. Vamos fazer algo por este país. Cadê os cara-pintadas? Parece que morremos ou estamos anestesiados. Vamos acordar!!!

Clique aqui: http://br.youtube.com/watch?v=pbTe4SSVvzI

O meu país – Letra Zé Ramalho

Um país que crianças elimina
que não ouve o clamor dos esquecidos,
onde nunca os humildes são ouvidos
e uma elite sem Deus é quem domina.
Que permite um estupro em cada esquina
e a certeza da dúvida infeliz,
onde quem tem razão baixa a cerviz
e se massacram o negro e a mulher.
Pode ser o país de quem quiser,
mas não é, com certeza, o meu país.

Um país onde as leis são descartáveis
por ausência de códigos corretos,
com quarenta milhões de analfabetos
e maior multidão de miseráveis.
Um país onde os homens confiáveis
não têm voz, não têm vez, nem diretriz,
mas corruptos têm voz e vez e bis
e o respaldo de estímulo em comum.
Pode ser o país de qualquer um,
mas não é, com certeza, o meu país.

Um país que perdeu a identidade.
Sepultou o idioma português.
Aprendeu a falar pornofonês,
aderindo a global vulgaridade.
Um país que não tem capacidade
de saber o que pensa e o que diz
que não pode esconder a cicatriz
de um povo de bem que vive mal.
Pode ser o país do carnaval,
mas não é, com certeza, o meu país.

Um país que seus índios discrimina
e as ciências e as artes não respeita.
Um país que ainda se morre de maleita
por atraso geral da medicina.
Um país onde a escola não ensina
e hospital não dispõe de raios X.
Onde a gente do morro é feliz,
se tem água de chuva e luz do sol.
Pode ser o país do futebol,
mas não é, com certeza, o meu país.

Um país que é doente e não se cura
e quer ficar sempre no terceiro mundo.
Que do poço fatal chegou ao fundo,
sem saber emergir da noite escura.
Um país que engoliu a compostura,
atendendo a políticos sutis
que dividem o Brasil em mil brasis
pra melhor assaltar de ponta a ponta.
Pode ser o país do faz-de-conta,
mas não é, com certeza, o meu país.

Marcadores: ,

segunda-feira, outubro 01, 2007

JANELAS DO TEMPO

A crônica fez a fama de muitos escritores. Invadiu a imprensa e se transformou em objeto do desejo de muitos jornalistas. Houve momentos em que se tornou impossível distinguir o cronista do jornal ou da revista ou com os quais colaborava, da mesma forma como era impraticável pensar em revista ou jornal sem os cronistas preferido dos leitores. No fim de algum tempo, essa simbiose se tornou obrigatória em todo o mundo.

No Brasil, é claro, não poderia ter sido diferente. Com o passar dos tempos, os cronistas se transformaram em colunistas. E ter coluna cativa equivalia e a ter prestígio, fama e poder. Cronistas ou colunistas imperavam na imprensa que se prezava. Hoje, já não sabemos distinguir uns dos outros. A maioria dos leitores já não sabe se o cronista de hoje é o colunista de ontem ou se o colunista de ontem é o cronista de hoje.

Ao que parece, cronistas e colunistas são os jornalistas de hoje que ainda mantêm viva, a despeito da informática e da Internet, a antiga tradição da Imprensa que sobrevive desde que Gutemberg a inventou e a liberdade de consciência se tornou um dos apanágios da Democracia contemporânea.

É, longa, nobre e cheia de boas lembranças, a lista dos cronistas, como hoje é variada embora às vezes insossa a relação dos colunistas. Balzac foi cronista, como Émile Zola, que fez do J’Acuse! a mais famosa das crônicas de sua época. Esse, aliás, foi o caminho que deu fama à crônica e aos cronistas. Célebres como escritores, famosos como cronistas que, mais do que jornalistas, foram poetas, pensadores, autores, polígrafos.

Terá havido reportagens mais insinuantes que as crônicas de Hemingway? O que foi em suma nosso velho e venerado Machado de Assis, senão o mais fino dos cronistas de sua época, como jornalista e repórter, a ironizar a vida que imitava os personagens de seus imperecíveis romances e de seus contos inesquecíveis?

Hoje já não sabemos se as crônicas de Rubem Braga emularam as reportagens que de que Joel Silveira foi mestre, ou se as reportagens de mestre Joel inspiraram as crônicas do famoso cronista que foi mestre Braga. As aventuras e desventuras de um e de outro podem ser medidas pelos altos e baixos de uma época trepidante em que crônicas e reportagens disputavam espaço nos jornais e revistas em que imperavam pensadores, literatos e repórteres e escritores de todo calibre. Afinal, qual foi o escritor, dos mais nobres e refinados, aos menos reconhecidos e proclamados que não se fez repórter e quantos dos mais famosos cronistas, de que Castelinho foi um exemplo, não se fizeram como ele escritores de vasto e variado público?

Por trás de cada cronista seguramente há um jornalista, da mesma forma que sob a personalidade de cada jornalista se esconde um cronista.

O que não é comum nem usual, é que cada cronista e cada jornalista abrigue dentro de si um filósofo, um pensador e um ensaísta. Pois este é, justamente, o caso de Cláudio Porfiro, doutor em Filosofia, ensaísta, poeta e jornalista. Alguém com tantos e tão variados interesses intelectuais, que seria impossível tentar classificá-lo. Creio que a tanto não ousaria nenhum de seus amigos e nenhum de seus leitores, para não falar dos que, a essas condições, junta-se a de seus admiradores. Pois este é o inusitado de um intelectual e um pensador que não cabe na estreiteza dos rótulos e no convencional das classificações.

Melhor do que afirmá-lo, e mais apropriado ainda do que dizê-lo, é deixar os rótulos e classificações de lado e constatar, cada um dos que terão a ventura de ler seus livros, o quanto de verdade há na afirmação de que, rompendo os limites estreitos de nossos conceitos, Cláudio Porfiro é por suas qualidades, por sua prosa e por sua poesia, o mais qualificado dos cronistas que conhecemos, o mais clarividente ensaístas dos que já lemos e o mais didático dos filósofos de todos com os quais convivemos.

Cláudio Porfiro é muito mais do que isso. No fundo da alma, Porfiro não passa de um garoto que nunca esqueceu a vida de infância em Xapuri, mesmo depois de ter ganhado o mundo em busca do conhecimento e da felicidade. Felicidade essa que sempre esteve à sua espera nas ruas, nos amigos e da gente de Xapuri.

Ao abrir as páginas de sua cria Janelas do Tempo, que será lançado brevemente, Cláudio Porfiro escancara os sentimentos da vida de meio século de existência. Passeia leve e livremente pelo caminho das lembranças. Em uma de suas crônicas, ele afirma que não está ainda para escrever reminiscências. “Sou apenas um moço que já houve por bem atravessar meio século de vida bem vivida. Todavia, há dias em que umas lembranças muito ternas me vêm à memória. Às vezes me emociono. Às vezes divago um tanto... Mas findo por retratá-las em papel, em meu nome e em homenagem a tantos quantos povoaram e tornaram realidade os meus sonhos juvenis”.

Janelas do Tempo retrata os sentimentos de um jovem malandro, batizado de Cláudio Porfiro, um eterno apaixonado pela vida e as belezas do mundo. E foi em Xapuri que conheceu, verdadeiramente, as mulheres mais belas dos seus sonhos, com todo o respeito que cabe na alma deste poeta insano e cortês

Para Porfiro, pelo menos uma dentre tantas verdades não dói. Por isto, afirma que tem quatro pilares básicos que sustentam as suas rasantes sazonais. Primeiro, a família que lhe deu origem, depois, o doce lar e a mulher amada, depois, as escolas gratuitas que freqüentou ao longo dos anos e, enfim, o boteco, de onde jorram em borbotões frases de efeito e comentários que partem de espíritos altamente inteligentes e ligeiramente etilizados... E tudo isso é a minha cara, realmente, revela. Feito por encomenda, lá em Xapuri, papai houve por bem caprichar no produto made in seringal. Ora pois!...

Janelas do Tempo não é apenas uma obra de crônicas. É um apanhado de histórias, nossas histórias, resgatadas pela memória sensível de Porfiro e, claro, os amigos deverão degustar sua leitura em qualquer boteco.

Marcadores:

FOTOS PITTER LUCENA