PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil
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quarta-feira, abril 18, 2007

EMPATE EM FAVOR DA VIDA!!!

Sei que nada sei, sei que nada sou. Mas vou entrar no debate sobre o projeto irracional do senador Tião Viana, que usa seu poder político para furar parte do Acre em busca de petróleo, andando dessa forma na contramão da história na defesa do meio ambiente. Como acreano do pé rachado, nascido e criado nos seringais de Xapuri, tenho todo direito de meter o bedelho onde achar necessário sobre meu pedaço de chão e, mais, quando perceber o real perigo de destruição da nossa floresta e seus habitantes que nela vivem a centenas de anos.

A princípio minha opinião é 100% contra qualquer tentativa que focalize destruir, seja em nome do desenvolvimento ou não, parte da maior diversidade de vida do planeta, fato que deixa o resto do mundo morrendo de inveja. Temos uma riqueza biológica que ninguém mais tem. O que falta na Amazônia são investimentos em pesquisas para que descubramos o potencial de energia limpa que está a nossa disposição sem precisar desmatar nada, sem precisar furar nada, sem precisar mexer com a vida de ninguém.

O senador Tião Viana bem que poderia, e pode, observar com mais atenção a falta de governo no apoio e incentivo aos povos da floresta. Mesmo passando necessidade para escoar seus produtos os seringueiros, ribeirinhos e produtores agrícolas amam o local onde moram e, por nada, nada mesmo, querem sair de lá. Eles querem que o governo faça investimentos como estradas vicinais, escolas, postos de saúde etc. Essa história de petróleo, por onde passou, deixou seqüelas até hoje não superadas. Petróleo é coisa do passado e, para acreanos, conscientes do dever de preservar a vida, é chegada a hora de um novo empate, dessa vez, contra essa prospecção de petróleo que tem cheiro da morte.

Não sou contra o desenvolvimento. Sou contra formas irracionais criadas para explorar os recursos da floresta. Se o governo brasileiro tivesse consciência e preocupação com a Amazônia hoje teríamos o melhor centro de estudo de biodiversidade do mundo. Ainda não temos a cultura da floresta. Não estamos educando o caboclo do futuro para que ele vá adiante dos seus pais na exploração do potencial econômico da região. Não estamos pesquisando o valor econômico da biodiversidade. Esses R$ 75 milhões que o senador disponibilizou para a tal prospecção seriam melhor investidos no melhoramento da qualidade de vida dos povos da floresta.

Já não basta a destruição da floresta acreana para plantar bois? Por quanto tempo viveremos sob idéias megalomaníacas em nome do “desenvolvimento”, quando sabemos que por trás disso tudo existem interesses particulares? Porque não melhorar as condições de trabalho do homem da floresta, que vive dela e tira o sustento dos filhos? A floresta vale mais, muito mais. Ela é pura vida alimentando outras vidas. Vamos ao empate!!!

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segunda-feira, abril 09, 2007

CAI A MÁSCARA DA FLORESTANIA

Um estudo feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente (IMAZON) com a colaboração de técnicos do Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC), sobre o desmatamento no Acre entre os anos de 1988 a 2004 aponta resultados impressionantes. A máscara do governo da florestania começa a cair quando os números da pesquisa revelam que nunca se desmatou tanto quando na gestão do governador Jorge Viana, do PT, entre 1999 a 2006.

O desmatamento bruto no Acre passou de 6.149 km2 em 1988 para 16.618 km2 até 2004, representando um aumento de 10.469 km2 de áreas desmatadas. Isso significa uma perda anual média de 650 km2 de florestas por ano neste período. A pesquisa foi concluída em setembro de 2006.

Os resultados das análises revelam que os municípios mais desmatados foram Plácido de Castro que perdeu 68% da sua cobertura florestal seguido por Senador Guiomard (65%), Acrelândia (49%), Capixaba (42%) e Epitaciolândia (41%). A Reserva Indígena que mais desmatou até 2004 foi a Reserva de Kaxinawá Colônia Vinte e Sete que perdeu 96% de sua cobertura florestal seguida da Reserva Igarapé do Gaúcho que perdeu 9%.

Em relação às regiões do Acre, observa-se que a região do Baixo Acre é a que sofreu maior desmatamento até 2004 perdendo 37,5% de sua cobertura florestal. A segunda região mais desmatada foi a do Alto Acre com 22% de áreas abertas até 2004. A região do Estado que apresentou menor área desmatada é a região de Purus, com 3,4% desmatados em 2004 no Estado.

Desmatamento nas UCs
No estado do Acre as Unidades de Conservação são divididas em cinco Reservas Extrativistas, cinco Florestas Estaduais, três Florestas Nacionais, um Parque Nacional e uma Unidade de Conservação de Interesse Ecológico.

A UC de Relevante Interesse Ecológico Seringal Nova Esperança foi a Unidade de Conservação que mais perdeu sua cobertura florestal até 2004, com 36% de sua área original de floresta desmatada. Essa UC possui área de 2.584 hectares e localiza-se no Município de Xapuri; tem como objetivo proteger exemplares raros da biota regional, em especial as espécies Castanheira (Bertoletia excelsa) e Seringueira (Hevea brasilien).

Em segundo e terceiro lugar aparecem a Floresta Estadual do Mogno e a Reserva Extrativista Chico Mendes, com 4% e 3,6% de sua área desmatada até 2004, respectivamente. As Reservas Extrativistas do Alto Juruá e do Alto Tarauacá apresentaram aumento na taxa anual de desmatamento no período de 2000 a 2004. Essas áreas já desmataram até 2004 cerca de 2% do seu território.

Somente a Estação Ecológica do Rio Acre não apresentou desmatamento até 2004. As demais UCs que apresentaram menos de 1% do seu território desmatado foram as Florestas Nacionais Santa Rosa do Purus, São Francisco, Macauã e a Floresta Estadual Chandles.

Terras Indígenas
O Estado do Acre possui 32 áreas destinadas a Terras Indígenas, com um pouco mais de 27 mil quilômetros quadrados. A Terra Indígena mais desmatada até 2004 foi a Kaxinawá Colônia Vinte e Sete, com 95% de sua cobertura florestal original desmatada.

Em seguida aparecem as Terras Indígenas Igarapé do Gaúcho (9%), Kaxinawá do Baixo Rio Jordão (6,7%) e Reserva Arara do Rio Amônio (6%), Poyanawá (6%), Katukina/Kaxinawá (5%), Nukini (4%) e Curralinho (4%). Não foi detectado desmatamento na Terra Indígena Xinane até 2004. As demais Terras Indígenas tiveram menos de 4% do seu território já desmatado até 2004.

Assentamentos de Reforma Agrária
As áreas dos 109 assentamentos rurais mapeados pelo INCRA até 2004, totalizam aproximadamente uma área de 17 mil km², o que corresponde a 11 % do Estado do Acre. O projeto de Assentamento que mais desmatou até 2004 foi o Pólo Agroflorestal de Feijó com quase toda a sua área original desmatada (99%), seguido pelo assentamento Casulo Hélio Pimenta com 95% cobertura. Os assentamentos menos desmatados até 2004 foram o Minas e o Assentamento Acrelândia.

Analisando a contribuição relativa das camadas temáticas em relação ao desmatamento até 2004 do estado do Acre, os resultados do estudam apontam que as Unidades de Conservação contribuíram com apenas 5% do desmatamento total, seguido das Terras Indígenas com 1%. Os Assentamentos do INCRA contribuíram com 38% do desmate da cobertura do estado do Acre.

E agora, Viana?

A devastação no Acre, durante a gestão de Jorge Viana, foi maior do que se pensava

Leonardo Coutinho
Antonio Milena


O petista Jorge Viana governou o Acre por oito anos, de 1999 a 2006. Logo que chegou ao poder, percebeu que o discurso ambiental poderia lhe render projeção nacional e batizou sua gestão de "governo da floresta". No segundo ano de mandato, passou a alardear que havia contido o desmatamento em seu estado. Tornou-se um dos astros do petismo e aproximou-se do presidente Lula. Seu peso político aumentou tanto que, agora, mesmo sem mandato, disputa com José Sarney e Jader Barbalho quem apadrinhará o próximo superintendente da Sudam, a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia.

A imagem de Viana como protetor da natureza, no entanto, está tão ameaçada quanto a mata que ele diz defender. VEJA teve acesso a um estudo encomendado pelo próprio petista que mostra que, nos seis primeiros anos de sua gestão, a velocidade do desmatamento no Acre triplicou e chegou à marca de 995 quilômetros quadrados em 2004. É como se uma área de floresta do tamanho de catorze campos de futebol fosse derrubada por hora. Pior: o estudo, feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), revela ainda que, de todo o desmatamento do Acre, cerca de um terço ocorreu durante a administração de Viana. O então governador recebeu as conclusões do estudo em agosto do ano passado – e as escondeu.

Viana: bom de conversa, mas ruim de serviço
Em setembro de 2003, VEJA já havia informado que a devastação no estado aumentara no governo do PT. Viana se esforçou para desqualificar a reportagem. Alegou que os números apresentados estavam errados e escalou jornalistas pagos com dinheiro público para replicar sua defesa pelo país. Em seu estado, usou dinheiro do Erário para atacar VEJA nos jornais e TV locais. "No meu governo, o desmatamento só cai", jurava ele. Poderia ter-se poupado.

O estudo do Imazon, feito com base em imagens de satélite, tem um grau de precisão inédito no país e confirma o diagnóstico da destruição. No Acre, entretanto, Viana mantém sua boa imagem, principalmente entre os onguistas. Sintomático. Lá, nem os "povos da floresta" andam preocupados em manter as árvores em pé. No seringal Nova Esperança, em Xapuri, 36% da floresta dentro de sua área foi destruída.

A Reserva Extrativista Chico Mendes está salpicada de pastagens. Fatos assim mostram que a falta de avaliações isentas e sem romantismo ameaça tanto a preservação ambiental quanto o crescimento econômico em um estado que já perdeu 11% de suas florestas e continua a ostentar alguns dos piores indicadores sociais do país.

André Dusek/AE


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quarta-feira, abril 04, 2007

FILHOS DO BOTO

As histórias do boto-cor-de-rosa retratadas pela novelista acreana Glória Perez na minissérie “Amazônia de Galvez a Chico Mendes”, muitas lembranças de minha infância vieram à tona. Minha infância foi vivida às margens do igarapé Judia que desemboca no rio Acre, no final do bairro 6 de Agosto. Quando o rio enchia, as águas do igarapé represavam propiciando ambiente perfeito para acasalamento dos botos da cor rosa e vermelhos. Os mais velhos, como meu pai, contavam estórias complicadas sobre os botos, entre elas, de que eles eram perigosos quando chamados de "cunhado".

Lenda pura. Na verdade, depois de muitos anos, descobri que os botos gostavam mesmo era de brincar com as pessoas e, claro, quando ouviam aos gritos o nome “cunhado”, para eles era um chamado para mais uma brincadeira dentro d`água. Os mais antigos, homens conhecedores de rios mais caudalosos da Amazônia, afirmavam que aquela demonstração agitada dos botos era um grande perigo. Canoas poderiam afundar e os provocadores ameaçados de morte por afogamento. A medida para amenizar a “situação de perigo” era fazer silêncio e fincar uma faca na proa do barco. Somente dessa forma os botos se sentiriam ameaçados e iriam embora.

Na Amazônia brasileira existem mil e uma histórias e lendas sobre botos. Nas comunidades ribeirinhas é comum encontrar crianças cujo pai é o boto. Isso porque a mãe solteira com medo de revelar o nome do homem que a engravidou, geralmente nos barrancos dos rios, afirmam que o filho é obra do boto. As moças eram orientadas pelos pais a não tomarem banho no rio, sozinhas, para não serem seduzidas pelos botos. Quanta ingenuidade. Era exatamente o que elas queriam. Pular a cerca com homens que lhes davam bugigangas de presentes e depois colocar a culpa da gravidez no lendário boto.

Segundo as crendices populares da Amazônia, quando os ribeirinhos promovem festas nos barracões próximos do rio, o boto, vestido com roupa branca, impecável e de chapéu na cabeça, mistura-se entre os homens. Ostenta elegância, educação e demonstra habilidade na dança, atraindo os olhares das mulheres que imediatamente ficam encantadas por ele. O boto escolhe a dama com a qual dançará por toda a noite, enquanto os homens lançam olhares de inveja e de ciúmes. Essa dama é sempre a moça mais linda e a mais cobiçada do baile.

Quase sempre a dançarina enamora-se do lindo jovem e sai com o boto, ao relento, para passear debaixo das árvores. Meses após o baile a moça ainda encantada e saudosa dos carinhos do “homem” mais galante que conheceu, apresenta os primeiros sinais de gravidez não planejada. Ela não tem dúvida: “foi o boto”. Ao registrar o filho a mãe solteira informa com orgulho que “o pai da criança é o boto”.

As histórias são infindáveis. Contam os mais velhos que os órgãos sexuais, sejam do boto macho ou fêmea, são muito utilizados em feitiçarias, visando a conquista ou domínio do ente amado. Porém o mais utilizado mesmo é o olho de boto, considerado amuleto dos mais fortes na arte do amor. Dizem que segurando na mão um amuleto feito de olho de boto, tem que ter cuidado para olhar pois o efeito é fulminante: pode atrair até mesmo pessoas do mesmo sexo que ficarão apaixonadas pelo possuidor do olho de boto, sendo difícil desfazer o efeito.

A partir de agora, as mulheres já sabem do perigo que correm quando forem tomar banho em rios e igarapés da Amazônia. Podem, num piscar de olhos, ficarem grávidas de um boto. A Delzuite, da Minissérie Amazônia, que conte essa história.

FOTOS PITTER LUCENA