QUATRO PONTO QUATRO
Vir ao mundo num último dia de um mês, escorregando para o outro, até me chama a atenção não por ser o derradeiro, mas, por está na porta do seguinte. Daí seria uma outra coisa, nada seria como o hoje de comemorar a estrada caminhada, o tempo passado e o presente sentido. As variações de percurso para chegar aqui foram muitas recheadas de alegrias e tristezas, de nortes incertos e escolhas feitas por razões e emoções. Mas vai-se vivendo chutando de vez em quando um balde aqui e outro ali. O importante é não parar no meio do caminho.
Sou o ponteiro doido de uma bússola sem direção, que num átimo de instante posso está em qualquer lugar, basta ter na carta da viagem imaginária o azimute dos sentimentos e deixar-se guiar para qualquer porto. Não precisa ter pressa ou agonia para chegar, no final vamos todos para o mesmo lugar. Irei um dia, mas, decerto, tenha certeza, contra minha vontade. Pensemos que a vida não passa de um passeio lento, ou não. Às vezes ela se torna colorida com rosas e seus cheiros divinos nos abrindo a porta para Deus. Outras, em preto e branco cheia de espinhos que machucam a alma, em tormentos de infinidade.
Dor e prazer. Duas situações que se misturam no decorrer da vida. Amor e ódio, idem. Esses elementos, depois de quatro ponto quatro, se apresentam para mim como caminhos a seguir. São setas para que cada um faça as devidas escolhas. Como luzes acesas que iluminam a árdua caminhada, os sentimentos falam por si só em tom firme e delicado para não machucar a sensibilidade dos que nos rodeiam. Busco na minha ferida a cura para o meu prazer. Portanto, amar é um dos caminhos a seguir e crer.
Vivo como a poesia de Drummond de Andrade quando diz que o amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar. Nesses quatro ponto quatro de vida, passeio de mãos dadas com Fernando Pessoa quando afirma em poesia: as vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido. E, o que me torna gente, penso eu, quando o mesmo Pessoa explica que tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Que venha o quatro ponto cinco.
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