PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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quinta-feira, junho 17, 2010

JORNALISTA, PROCURA-SE

Por Washington Araújo

Procura-se jornalista que devote suas energias à busca da verdade e não dos holofotes, que saiba distinguir a diferença entre o personagem que é noticia e aquele que transmite a notícia, que seja tão arejado a ponto de compreender que a luz é boa não importa em que lâmpada brilhe.

Procura-se jornalista que esteja sempre prestes a levar consigo um telescópio para o olho esquerdo e um microscópio para o olho direito de forma a ver a realidade sobre ângulos variados e apto a celebrar que a grande beleza da vida está no entendimento da rica diversidade humana.

Procura-se jornalista que seja especialista em cultura geral, que escreva sobre o que entende e saiba o exato tamanho de sua ignorância sobre o assunto que pretende abordar, que saiba fazer o artesanato dos fatos, ideias e palavras, sem deixar pontas soltas nem fios desencapados.

Procura-se jornalista que saiba distinguir entre liberdade de expressão, de impressão, de pressão; que veja sua atividade não como o Quarto Poder, mas sim como um serviço essencial à vida organizada da sociedade, como um espelho do mundo dotado de visão e fala.

Equação biquadrada - Procura-se jornalista que seja generoso no uso dos substantivos e parcimonioso no uso dos adjetivos, que em caso de dúvida não ultrapasse o sinal vermelho da ética e do bom senso e que concorde que a ética do jornalista é a mesma do marceneiro.

Procura-se jornalista que se sinta indignado e denuncie a quem de direito qualquer empresário ou político, artista ou profissional liberal que lhe acene ou lhe ofereça qualquer vantagem financeira em troca da publicação de notícia favorável aos seus negócios, à sua carreira ou à sua área de atuação político-partidária.

Procura-se jornalista que, em confronto com as forças da natureza, testemunha ocular de eventos catastróficos, ocupe-se em ajudar a salvar uma ou mais vidas, em socorrer e amparar feridos, e que seja sábio o suficiente para deixar de lado obrigações contratuais imediatas como a observância de data-limite para envio de matéria, tomada de fotos específicas e que nunca pergunte a quem se encontra com a vida por um fio "como você está se sentindo?"

Procura-se jornalista que tenha uma visão muito apurada do que é justiça, ética, liberdade, democracia, equidade, bem-estar social, distribuição de renda, mobilidade social, inclusão social, inclusão digital, inclusão étnico-racial e que tenha uma sede de conhecimento insaciável, sempre se atualizando sobre o estado da arte no mundo.

Procura-se jornalista que não resenhe livro sem antes tê-lo lido, não critique filme a que não tenha assistido e não elogie álbum sem antes ter escutado todas as músicas, que se orgulhe mais dos livros que leu do que dos livros que escreveu e que saiba declamar "Navio Negreiro", de Castro Alves, cortar com a mão direita, equação biquadrada de segundo grau, fração e saiba conjugar o verbo "resfolegar".

Matérias arredias - Procura-se jornalista que não se submeta a qualquer forma de pressão, seja ideológica ou econômica e que se apresente de hora em hora ante o tribunal de sua consciência, o único dotado de poderes para julgá-lo de maneira equânime.

Procura-se jornalista que seja tão bom na crítica quanto na autocrítica, que entenda tanto da Ilíada de Homero como do efeito-estufa, que entenda causas e efeitos das crises econômicas mundiais de 1929 e de 2009, que esteja bem familiarizado com índices e siglas como IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), FIB (Felicidade Interna Bruta), PIB (Produto Interno Bruto), Índice de Gini, Dow Jones, Nasdaq.

Procura-se jornalista que possua senso crítico, conhecimento do idioma, latitude de ação, humildade para conferir e voltar a conferir suas anotações antes de enviar seu texto para publicação.

Procura-se jornalista que respeite os direitos do leitor, não rotule sua opinião como informação, trate a informação de maneira imparcial sem exigir credenciais ideológicas e que considere muito natural ouvir o outro lado, principalmente quando se tratar de assunto que diga respeito também à honorabilidade de personagens enfocados.

Procura-se jornalista que cultive a independência de pensamento, que não deseje ser mais realista que o rei, mais católico que o papa, que respeite a linha editorial de quem lhe propicia o emprego, mas que não que renuncie à condição de ser pensante e esteja confortável tantas vezes quantas forem necessárias para ser voto vencido em uma discussão editorial.

Procura-se jornalista que apenas numa vista d´olhos saiba diferenciar entre um escândalo real de corrupção e um escândalo pré-fabricado de corrupção, que não empreste seu nome a reportagens tão arredias à verdade dos fatos como os morcegos são à claridade do dia.

Pior tragédia - Procura-se jornalista que entenda a toponímia de São Luiz do Paraitinga, Berlim e Caruaru, que compreenda que as cidades têm alma, que são mais que meras aglomerações humanas, e que possa fazer ampla exposição sobre o que são hidrônimos, limnônimos, talassônimos, orônimos e corônimos.

Procura-se jornalista que entenda tanto de Fernando Pessoa quanto de Umberto Eco, que conheça amiúde as biografias e o pensamento vivo de Winston Churchill e Boris Pasternak, Rui Barbosa e Cláudio Abramo, que compreenda que a História é a também o relato encadeado da vida dos grandes homens.

Procura-se jornalista que conheça em profundidade o que é um linotipo e uma gralha, um tipógrafo e um scanner, um prefácio e um posfácio, prolegômenos, uma composição bem feita, um hipertexto e uma nota de rodapé, uma orelha e um texto indicativo, a gramatura do papel que se tem na mão e a marca d´água, a folha de rosto e o que significa 1.844 terabytes.

Procura-se jornalista bastante familiarizado com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que saiba relacionar seus artigos com a crítica de políticas públicas para a população urbana e rural, para brancos e negros, índios e ciganos, meninos nas creches e meninos de rua, católicos e evangélicos, judeus, muçulmanos e bahá´ís, budistas e hindus, seguidores do candomblé e do Santo Daime, espíritas e ateus.

Procura-se jornalista que entenda, de uma vez por todas, que a pior tragédia na vida de um ser humano é aquilo que morre dentro dele enquanto ele ainda está vivo.

quinta-feira, junho 10, 2010

TUTTI BUONA GENTE!

Ipojuca Pontes, do Mídia Sem Máscara

O candidato à presidência da República José Serra afirmou, em recente entrevista de rádio, que a cocaína consumida no Brasil vem da Bolívia. Literalmente, ele disse o seguinte: "A cocaína vem de 80% a 90% da Bolívia, que é um governo amigo, não é? Você acha que a Bolívia iria exportar 90% da cocaína consumida no Brasil sem que o governo (boliviano) fosse cúmplice? Impossível. O governo boliviano é cúmplice disso".

Antigo membro de uma organização clandestina envolvida na luta armada - a Ação Popular (AP) - o candidato tucano não abre o jogo. No entanto, qualquer sujeito que se interesse seriamente pela questão da droga pesada no mundo, em especial na América Latina, sabe perfeitamente que o tráfico da cocaína está hoje ligado por um hífen às FARC - Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia -, a organização terrorista gerada no baixo-ventre do Partido Comunista Colombiano em meados dos anos 1960.

O principal mentor da organização criminosa, Manoel Marulanda Vélez, o "Tirofijo" (morto de ataque cardíaco em 2008, aos 78 anos) entrou no ramo da guerrilha antes mesmo de Fidel Castro Ruiz, o Drácula do Caribe. Mas para tornar a guerrilha um excelente "medio de vida" depois de 30 anos laborando em roubos de cargas, extorsões, assassinatos, seqüestros, ocupação de terras pelo uso da força e contrabando de armas, "Tirofijo" voltou-se com toda força de que dispunha, no início dos anos 1980, para o bilionário negócio do narcotráfico, fazendo das FARC uma das organizações terroristas mais poderosas do mundo - senão a mais poderosa -, dispondo hoje de um efetivo bem armado de 12 mil homens.

Como se sabe, além da tarefa doentia de aterrorizar, as forças revolucionárias da Colômbia atuam na supervisão do plantio, colheita, beneficiamento, produção e distribuição da cocaína em larga escala. Segundo a DEA - Drug Enforcement Agency, americana - cerca de 60% da produção mundial da cocaína, que gera dividendos na ordem de 650 bilhões de dólares/ano, são distribuídas pelas FARC com a colaboração dos seus agentes "bolivarianos" instalados não apenas em boa parte da Colômbia, mas, de igual modo, em Cuba (dá-lhe, Fidel!), na Venezuela, Equador, Nicarágua, Brasil, Paraguai e Bolívia (perderam, por enquanto, Honduras), onde atuam com a conivência, a omissão e o interesse ideológico e econômico das esquerdas no poder.

(Conforme recomenda o manual da "Guerra de Quarta Geração", cujo objetivo, nas suas regras ortodoxas, é acabar de vez com a democracia representativa na AL e, em particular, nos Estados Unidos, a difusão da droga é arma tão ou mais valiosa do que qualquer instrumento bélico poderoso. Para repetir ainda uma vez o mote de Manuel Marulanda Vélez, "La coca es una destrozadora arma política").

Especialistas mais atentos do nosso cenário político observam, com propriedade, que os recursos provenientes do tráfico da cocaína ("narcodólares") financiaram os meios logísticos sem os quais os socialistas integrantes do Foro de São Paulo, vacinados pelo comunismo totalitário, não teriam as mínimas condições de tomar sob jugo boa parte do infeliz continente latino-americano.

De fato, figuras como Hugo Chávez, Evo Morales, o tarado Daniel Ortega (estuprou a filha adotiva), Rafael Correa e demais filiados do FSP, não só foram beneficiados com armas e o rico dinheiro das Farc, como até hoje convivem "numa boa" com a organização criminosa, considerada pela máfia esquerdista um genuíno "exército insurgente", merecedora da total solidariedade do "mundo progressista".

O próprio Lula, beneficiário do esquema, segundo relatório recolhido nos arquivos da Abin, recebeu na campanha presidencial de 2002 cerca de US$ 5 milhões, doados pelas Farc, por intermédio do falso padre Oliverio Medina, um diligente "embaixador" da organização narcotraficante no Brasil.

Muito bem, vamos ao que interessa: se eu, Ipojuca Pontes, que nunca fui governador de São Paulo (onde se consome a maior quantidade de cocaína no país e local onde está instalado o PCC - o Primeiro Comando da Capital, organização de bandidos a serviço das Farc) nem disponho de dezenas de baba-ovos para me repassar informações de bastidores, nem considero o uso da maconha uma "questão de saúde pública"; se eu, do meu lado, repito, já estou farto de saber que as Farc estão por trás da exploração da cocaína em todo território nacional - seja pelos escoadouros da Bolívia e Venezuela, seja pelas fronteiras do Paraguai ou Colômbia - por que não sabe disso o ex-governador José Serra, um político que, além de egresso da AP, tem no ex-assaltante de banco e ex-ministro da Justiça, Aluysio Nunes, um dos seus mais próximos aliados?

Considero estranho que só agora José Serra, depois de duas derrotas nas eleições presidenciais (2002 e 2006), denuncie, de forma canhestra, o "corpo mole" do governo boliviano no combate ao tráfico da cocaína enviada para o território brasileiro. Por acaso o candidato desconhece que o monopólio do narcotráfico pertence às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, cabendo aos países do entorno tão somente o papel de asseclas do crime?

Desde logo quero lembrar aos leitores que as eleições presidenciais de 2010 estão sendo consideradas como as mais dispendiosas das últimas décadas. É, ao que se informa, cacife para muitos bilhões de dólares - o que torna compreensível, portanto, o temor do candidato Serra quanto às doações bilionárias das Farc, uma organização que, quando entra em ação, com ou sem a "diplomacia"de Oliverio Medina, não brinca em serviço. Com efeito, uma coisa é denunciar a permissividade do cocalero Evo Morales e outra, bem diferente, é se meter contra as Farc, o Foro do São Paulo e seus fortes aliados.

De minha parte, penso que a denúncia de Serra, por tímida, cairá na luz escura do vazio. O próprio Serra, um homem favorável ao casamento gay, já afirmou que a droga, como o aborto, é "uma questão de saúde". O benemérito Lula, por sua vez, se diz preocupado com a expansão do mortífero crack, o subproduto da cocaína que representa menos de 10% da maconha consumida no Brasil - droga que Fernando Henrique Cardoso, sem tocar no nome das Farc, agora que ver liberada, assumindo mundialmente o papel de Paladino dos Viciados.

Pudera! Afinal, sono tutti buona gente!

PS - Outro dia escrevi que a maconha, com mais de 60 substâncias tóxicas, era um alucinógeno quase ou tão nocivo quanto o crack. Digo, repito e assino embaixo, pois não meço a sua periculosidade apenas pelo potencial químico. A maconha, entre os consumidores da pesada, é conhecida como a "Erva do Diabo", capaz de não só criar dependência e vício, como estimular, pela euforia impulsiva, atos criminosos. A própria OMS a considera um alucinógeno anti-social por excelência.

O paraibano Zé do Queijo, já morto, garantia que a maconha era a única droga que se devia temer, pois a pivetada, com um "baseado na cabeça", por um nada matava sem pestanejar - ao contrário do que ocorre com o consumidor do crack, que deseja apenas "curtir o barato" e ficar "na dele", infindavelmente.

Zé do Queijo sabia do que estava falando. Enfrentou soberano, durante quinze anos, o tráfico da droga na Rocinha, a maior favela da América Latina, e no complexo do Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, no coração da Zona Sul. Conheci a figura de perto, era um sujeito duro. Teve a amante morta por um maconheiro e morreu lutando para manter viva a sua Birosca do Zé.

Deus o tenha em bons modos.

terça-feira, junho 01, 2010

É SIMPLES

Cícero Fernandes

É simples enxergar a razão.
Dá razão, ver o sentido para a coisa
Até que seja algo.

Enquanto algo,
Alcançar um sentido
Para existir a razão.

Posto que ser, passa,
Por ser em quem estar é fazer
Possível o existir.

Se existindo, criar outras razões
Fazer e o gerúndio de todos os verbos
Uma virtualidade para o sujeito.

Como vocativo,
Agente da passiva,
Um sujeito oculto.

Um código de barras.
Pagar pelo fôlego,
Que traz o universo Nano.

Proselitismos da robótica,
As coisas como um Lego
Que se encaixa, reordena.

Uma boa dose de vida
Reconsiderar os enganos
Torna tudo simples.

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