PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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quinta-feira, fevereiro 25, 2010

LOGOSOFIA

Estou lendo um livro interessante sobre logosofia, “Curso de Iniciação Logosófica”, ciência que busca auxiliar o ser humano na sua evolução, e que vai ocorrendo através do conhecimento de si mesmo, do seu interno. A ciência logosófica age como um "Norte" ao homem na sua longa caminhada. Foi criada para remediar esse lamentável descuido, esse vazio incomensurável que já transtornou não poucos juízos, levando a humanidade à desorientação e ao mais agudo pessimismo. Logosofia é uma jovem ciência criada em 1930 por Carlos Bernardo Gonzáles Pecotche.

Para o autor, o desamparo mental começa a ser experimentado na infância, segue na juventude e continua na fase adulta. Nunca houve na educação primária, no ciclo médio nem nas universidades ensinamento algum que instruísse o homem, desde tenra idade, sobre a forma de resguardar sua integridade psicológica, mental e moral. Não lhe foi ensinado a buscar e encontrar os recursos imponderáveis que sua mente contém e, de modo especial, a conhecer o uso de suas defesas mentais.

Caso essa preparação tivesse sido instituída no ensino comum, a humanidade não teria chegado à encruzilhada lamentável e perigosa em que hoje se encontra. Existiu sempre, não resta dúvida, uma injustificável indiferença por parte dos responsáveis pela condução docente, ou então um desconhecimento absoluto das possibilidades humanas a respeito de suas próprias defesas mentais.

Além do que acabamos de assinalar, há algo que necessariamente deve ser examinado à luz de reflexões e observações feitas com amplo critério humanístico e racional. Estamos nos referindo ao tratamento que se costuma dar à infância em certos setores da comunidade humana, especialmente os religiosos. Com efeito, há séculos se vem inculcando nas crianças crenças contrárias à razão, com vistas a submeter a mente infantil a um molde, a uma espécie de marca de fábrica impressa na alma, que dificilmente elas podem apagar depois, ao crescerem em idade. Uns lhes inculcam o temor a Deus, mas fazendo-as crer, naturalmente, que professar seu culto assegura a salvação. Outros lhes dizem que, se elas se afastarem das tradições, ritos e práticas, serão perseguidas eternamente e sofrerão um cruel destino. Em termos mais ou menos parecidos, sempre se pronunciaram e continuam se pronunciando outras seitas e correntes pseudo-espiritualistas.

Coincidem no método – ainda que pareça um paradoxo – as comunidades que obedecem ao rigor de ideologias extremistas, porque, como as religiões, elas transgridem a Lei Suprema, que concede ao homem a mais ampla liberdade de pensar, de sentir, de mover-se e atuar, conforme determina o pronunciamento universal que o criou livre e soberano de sua vida.

O certo é que nunca se examinou essa questão com a devida seriedade e consciência de sua vital importância. De nossa parte, julgamos um dever justificar, de certo modo, esse descuido por parte de educadores e pais de família, porquanto eles mesmos, em número considerável, foram submetidos em sua época a procedimentos similares. Portanto, como descobrir nos filhos ou alunos essa particularidade incrustada previamente em suas próprias vidas? É lógico que, para poder observar com liberdade de juízo a anomalia que assinalamos, se deva eliminar antes a trava que o impede, coisa bastante difícil naqueles que nem sequer suspeitam da existência, em si mesmos, de semelhante impedimento.

Os trechos acima são do livro “Curso de Iniciação Logosófica”

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Liberalismo e violência: o "ópio dos intelectuais"!

Casimiro De Pina

Nos últimos dias, vários artigos de opinião dados à estampa nos jornais domésticos incidiram num ponto fulcral: a responsabilidade das "teorias liberais" na propagação da violência (maxime, delinquência juvenil) em Cabo Verde.

Em si, este ataque ideológico não é novo. Aliás: é velho e bafiento. E faz parte do DNA das teses marxistas. Os marxistas sempre viram a Tradição da Liberdade como uma espécie de "cancro social", a extirpar a todo o custo, o quanto antes.
A liberdade individual seria apenas uma "falsa consciência", escondendo, atrás de si, a ânsia de dominação, se não de "exploração do homem pelo homem".

É uma tese com cerca de 200 anos. E não tem a mínima consistência, nem teórica, nem prática.

Do ponto de vista teórico, basta ler os Textos Fundadores do liberalismo moderno. De Adam Smith aos Federalist Papers, passando por John Locke ou Immanuel Kant, nenhum deles comporta o mais pequeno vestígio de violência (ou apologia da violência).

Os profetas antiliberais e "pós-modernistas" laboram, pois, num terrível equívoco.

Pelo contrário, muito pelo contrário, o liberalismo político é a doutrina mais pacífica e civilizada que se pode encontrar.

Os seus tópicos principais são e sempre foram estes: defesa incondicional da dignidade humana; respeito pela diferença (e, logo, pelo pluralismo: político, cultural e ideológico); liberdade; tolerância; progresso social; generosidade; excelência humana; Estado de direito; legalidade e transparência, etc..

Foi Locke quem escreveu, no séc. XVII, a famosa "Carta sobre a Tolerância", numa época marcada pela violência sectária e pelas guerras religiosas. Voltaire, o filósofo francês, viria a ser profundamente influenciado por estas ideias liberais e humanistas.

Associar o liberalismo à intolerância, ou ao desrespeito pela pessoa humana, é desconhecer, in totum, as suas bases teóricas e morais. Mais do que isso: é mentir descaradamente, falseando incrivelmente a realidade.

A mentira parte, essencialmente, de duas fontes: ignorância ou má-fé. E há, aqui, um fenômeno curioso.

Os intelectuais antiliberais, confiantes na "dialética", apostaram quase tudo na experiência, isto é, na história. A prática seria, para eles, o grande critério da verdade. Ora, o que nos diz a história? Que Karl Marx estava completamente errado. Que o socialismo falhou clamorosamente, gerando, de Cuba à Coréia do Norte, a mais lamentável pobreza e opressão política.

O socialismo, em vez de edificar o "paraíso na terra", inaugurou a Era do Genocídio e do extermínio em massa, a maior violência que a humanidade conheceu até hoje.

Muito do ressentimento dos intelectuais tem, pois, origem neste fenômeno de longo alcance: o falhanço do socialismo e das suas teses econômicas e políticas.

Ai daqueles cujas crenças não se concretizam! Formou-se um como que "vazio metafísico", que muitos, lamentavelmente, não conseguem ultrapassar.

As "viúvas de Moscovo", herdeiras de uma utopia generosa que terminou em distopia, vivem numa espécie de cisma permanente.

A história provou que o melhor sistema político é aquele que reconhece a liberdade da pessoa humana e os seus direitos naturais, "sob o único governo de Deus e das leis", como diria, numa síntese primorosa, Alexis de Tocqueville.

Ninguém disse que a tradição liberal é o sinônimo da perfeição.

O liberalismo, apesar dos seus inegáveis contributos na afirmação da dignidade humana e do progresso material, é apenas um sistema político e econômico. Tem as suas falhas, como qualquer outra criação humana. Mas é o melhor sistema inventado até hoje.

Arrancou milhões de pessoas da miséria (vide a China) e, a partir da Revolução Industrial, criou uma situação geral de conforto inimaginável nos séculos anteriores. Graças a isso, uma pessoa comum possui, hoje, um conjunto de vantagens que um nobre ou monarca não tinha na época medieval ou no século XVIII.

A esperança de vida aumentou de forma notável e a labuta quotidiana tornou-se inquestionavelmente mais fácil, mercê do "salto tecnológico" e da inovação que a economia de mercado normalmente proporciona.

O computador e a Internet que os "investigadores" utilizam para pesquisar e, com frequência, denegrir as teses liberais são, ainda, um produto das sociedades liberais e não dos pruridos fantasmagóricos de um Fidel Castro ou Paulo Freire.

Voltemos ao nosso país. Nardi Sousa volta a dar voz à confusão e ao ressentimento.

Escrevendo no jornal A Semana (de 19/2/2010, p. 12), o sociólogo afirma que "Cabo Verde importou na década de 1990 um modelo inspirado em teorias liberais", o qual iria, vejam só!, "complicar ainda mais a situação social dos pobres"! Inacreditável...

O que o Nardi não sabe, ou finge ignorar, é que a situação social dos pobres já estava bastante "complicada", por causa das políticas desastrosas do Partido Único. Quando este regime ruiu, a situação social era, de facto, explosiva em Cabo Verde.

Dizer que um modelo é "importado" não significa rigorosamente nada.

Cabo Verde, ao longo da sua história, sempre importou modelos.

E isto em si não é mau: as boas práticas e os bons exemplos devem ser imitados, seja nas Artes, na Filosofia ou nas Ciências em geral. É esta, aliás, a condição do progresso civilizacional e humano. Karl Popper escreveu páginas definitivas a este respeito, em termos de Metodologia Científica.

Se apagarmos tudo e resolvermos, estribados num nacionalismo atávico, construir o nosso mundo "a partir do zero", o mais provável é, num ápice, regressarmos à barbárie e à caverna primitiva!

A tabula rasa é a filosofia do atraso e da decadência civilizacional.

A questão não é essa. A questão de fundo é: ver as consequências do modelo importado.

Por exemplo, ver as consequências morais, econômicas, religiosas, políticas, etc., do modelo totalitário do partido único. Ver até que ponto empobreceu, em todos os aspectos, a sociedade cabo-verdiana. Um diagnóstico social sério não pode ignorar este ponto fundamental.

Como se pode afirmar, como faz irresponsavelmente o Nardi, que o modelo da década de 90 "complicou ainda mais a situação dos pobres" se foi, nessa época, que a pobreza conheceu uma diminuição acentuada?

Definitivamente: a afirmação nardiana é um cliché, um assomo de ressentimento ideológico (o "ópio dos intelectuais" de que falava Raymond Aron), sem qualquer fundamento ou base factual.

O Nardi, docente universitário, devia deixar essa conversa frouxa, jungle food, aos palpiteiros da JPAI.

A pobreza diminuiu na década de 90; e graças às políticas liberais, que o Nardi tanto abomina, a situação social dos pobres melhorou significativamente. Basta consultar os relatórios do PNUD acerca do índice de Desenvolvimento Humano na década de 90.

O (re)lançamento do sector privado e a atração do investimento externo foram fatores positivos que impulsionaram o crescimento econômico e fizeram diminuir o desemprego em Cabo Verde. Um investigador sério não pode ignorar esta realidade.

Além disso, há um dado curioso que normalmente aparece em certas análises: a atribuição das culpas todas à sociedade. A "sociedade" aparece como uma espécie de "entidade ciclotímica" e misteriosa que fabrica delinquentes e marginais.

O indivíduo pode ter cometido os atos mais bárbaros e condenáveis, mas (coitadinho!) é "vítima" da situação social, do "sistema" e, em última instância, da...sociedade! Ora, trata-se de um perigoso fenômeno de desresponsabilização, que urge denunciar e combater.

A pessoa humana (o indivíduo que age) não é uma folha levada pelo vento ou guiada pela "sociedade". Nada disso. O Homem é um ser livre e responsável. Antes de agir, pensa e antecipa as consequências da sua ação.

Não é a "sociedade" que o leva a praticar crimes ou incivilidades: é a sua consciência.

A decisão é pessoal e irrenunciável. O sr. A pode, na verdade, ser pobre, mas só pratica crimes se quiser. Há uma decisão interior, um ato volitivo inquestionável.

As teorias que atribuem as culpas da violência à "sociedade" são, pois, profundamente desumanizantes, porque negam, liminarmente, a Condição Humana e um dos seus aspectos constitutivos: a responsabilidade.

A Tradição da Liberdade sempre pensou de forma diferente: acredita que o progresso social só acontece numa sociedade forte, com instituições saudáveis, proteção das liberdades fundamentais, Estado de direito, transparência (imprensa livre, etc.) e um espaço largo para que a criatividade se exerça e, pela via da inovação, resolva o problema milenar da pobreza e da carestia.

Uma sociedade onde o crime é justificado, e não combatido, está condenada ao fracasso e ao subdesenvolvimento.

Não há Liberdade sem Responsabilidade.

http://www.midiasemmascara.org/

terça-feira, fevereiro 09, 2010

CARTA BOROCOCHÔ

Nos últimos meses ando meio borocochô. Acredito que saibam o que seja borocochô. Pois é... Ando um tanto desligado dos assuntos da escrita e do pensamento solto. Enrolado mais que arame farpado, meu foco de leitura se voltou para o curso de mestrado que anda mais lento do que jabuti acorrentado. Mas vamos em frente que atrás vem gente (mais velha do que andar pra frente), na tentativa de retornar à minha rotina de trabalho.

Tá difícil a coisa melhorar por aqui. Para complicar mais o que já tava complicado, criou-se agora, aqui no Senado, o ponto eletrônico dos servidores. A instituição quer saber dos fantasmas, ainda bem que não sou um deles. Com a correria do mestrado, os engarrafamentos de cidade grande e o ponto do Senado, estou sofrendo igual sovaco de aleijado. Mas não posso me queixar e nem ficar resmungando pelos cantos, afinal os problemas existem para serem solucionados, e cá estamos nós na fita.

Sei que a vida de ninguém é melzinho na chupeta, por isso, não largo o osso nem chego ao fim da corda para não apertar o pescoço. Nos últimos tempos chute na canela é igual carinho de mãe, dedo no olho é apenas um pequeno cisco que teimou entrar em lugar errado e, como num jogo de futebol, na hora da macaca, do pescoço para baixo é bicudo. Estou naquele esquema onde a regra é clara: só é falta quando se pisa na língua. O jogo é bruto e estamos no meio dele sem eira nem beira, sem lenço e sem documentos. Há proibições como gritar, por exemplo. Isso jamais.

No mais estou sobrevivendo sem arranhões buscando, no limite permitido pelo temporal, manter a altivez, o equilíbrio, a emoção e a paz para continuar respirando nesse vale de lágrimas. Não que a vida seja dura, pois rapadura é doce mas não é mole, mas exijo acreditar que uma vida de sucesso seja efetiva nos homens de boa vontade, de alma serena e coração abarrotado de conhecimentos divinos.

Alguns pensam que estou mais fraco do que caldo de piaba, mas asseguro que não é bem assim. Ainda não transvariei para chamar cachorro de caixote nem urubu de meu louro. Se me jogares na parede, ainda assim direi que amo sem nada em troca. Não importa o quanto resisto para não desistir, o quanto me encontro para não me perder e o quanto observo para saber que é realidade. Gosto da verdade seja ela nua ou crua.

Falando em verdade, o que Nietzsche pensou sobre isso: “É um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias”. Ainda segundo Nietzsche, o que é grande no homem, é que ele é uma ponte e não um fim: o que pode ser amado no homem, é que ele é um passar e um sucumbir.

Por isso, meus amigos, todos os dias tomba um leão nessa luta desigual que parece não ter fim. Mas estou a postos para o bom combate ou para o arranca-rabo que vier. De canhão ou baladeira a coragem é minha bandeira.

FOTOS PITTER LUCENA