PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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quinta-feira, dezembro 25, 2008

OXALÁ! O MUNDO BRILHE AMANHÃ!

Chagas Freitas

A cada instante que assistimos às autoridades brasileiras falarem na TV a respeito da crise econômica que assola o mundo, que faz todas as grandes corporações tremerem nas bases, temos a impressão de que vivemos em outro mundo, talvez em outro planeta, já que elas asseguram que o Brasil está imune ao “tsunami” econômico que devassa impérios financeiros e corporações de tradição secular.

Tudo isso merece profunda reflexão, equilíbrio e sensatez. Aqueles que estão antenados além fronteiras sabem que o buraco é bem mais embaixo, e que o Brasil, apesar de sua aparente robustez econômica, não trafega em céus de brigadeiro.

Apenas alguns exemplos que corroboram esse raciocínio.

No Brasil:

- A Vale do Rio Doce, um dos gigantes do minério mundial, anunciou o fechamento de várias usinas no Estado de Minas Gerais e a conseqüente demissão de mais de três mil empregados;

- Mais de 40 mil brasileiras e brasileiros perderam seus empregos apenas no mês de novembro;

- As compras de Natal serão sobretudo de artigos baratos. Apenas para satisfazer o espírito natalino do povo brasileiro;

- Apesar de o barril de petróleo ter caído mais de 100 dólares ultimamente, o preço da gasolina não reflete essa baixa nas bombas. Muito pelo contrário! Isso em total dissonância com o que acontece no mundo inteiro. Não tem explicação que faça cristão acreditar. Mas é assim que o governo opera e o povo consente. Mamma mia!

As grandes montadoras, segundo entrevista publicada no “Le Monde”, do brasileiro Carlos Grossn, Presidente do Consórcio Renault-Nissan, se não houver injeção pesada de aporte financeiro dos governos, todas elas desmoronarão em efeito cascata, uma após a outra;

E tudo leva a crer que o nosso conterrâneo sabe onde a coruja dorme: esta semana a Toyota anunciou um prejuízo de 1,7 bilhão de dólares, o primeiro em sua história e ao mesmo tempo o governo norte-americano formalizou aporte de vários bilhões de dólares em socorro à sua indústria automobilística;

O tradicional banco Goldman Sachs faliu deixando um rombo de mais de 50 bilhões de dólares, passando a perna em muitos investidores, incluindo até os israelenses, sempre zelosos com seus ativos. De lambuja, até uns brazucas endinheirados dançaram;

As vendas natalinas na terra do Tio Sam nunca estiveram tão em baixa nos últimos 26 anos. As ofertas são do tipo: compre um e leve dois, mas nem isso serviu para quebrar o gelo e o temor dos compradores. Parecendo até haver uma sintonia entre o inverno inclemente e o ânimo dos eventuais fregueses;


De cada 10 norte-americanos, pelo menos dois já perderam emprego. Não é sem maiores preocupações que o presidente eleito Barak Obama promete criar mais de dois milhões de empregos nos próximos meses. Caso consiga, ainda assim, a taxa de desemprego nos Estados Unidos continuará muito alta;

No Reino Unido, mais de 2.000 escritórios tiveram que fechar as portas;

Nos últimos dias, 10 grandes bancos tiveram prejuízo de mais de nove bilhões de dólares;

Hoje, o Japão apresentou o maior orçamento de sua história, num montante de mais de um trilhão de euros. Tudo isso são reflexos de uma crise que não sabemos onde nos conduzirá.

Ao término de minha estada no Líbano, fiz escala em Paris e já no avião uma matéria de primeira página no “Le Monde” me chamou atenção. O título era sugestivo: “Crise financeira abala a indústria de restaurantes na França”. Como os franceses são conhecidos pelo seu requinte à mesa, li a matéria com cuidado e logo percebi a gravidade da situação.

O presidente da federação de restaurantes esclarecia que a crise econômica afetou sensivelmente o setor. Que a freqüência havia caído em torno de 25%, no segundo semestre deste ano. Que o número de pessoas que abdicaram do almoço estaria na faixa de 12% e igual percentual dividia a refeição com um colega, e que mais de 10% estavam levando marmita para o trabalho.

O certo é que os reflexos da crise financeira estão a olho nu, observa-se por toda parte. Os metrôs estão abarrotados de artistas caça-níqueis. O que já fora uma tradição poética na cultura francesa, tornou-se, atualmente, um imperioso meio de sobrevivência para muitos. Dentre tantos os que vi, chamou-me a atenção um grupo de mais de 10 músicos de ucranianos que passavam horas tentando algum trocado naquela temperatura de 2 graus negativos.

Portanto, quando as autoridades brasileiras alardeiam que o Brasil está imune à crise, devemos ter o cuidado e o zelo necessário que a grave situação exige. Elas estão tentando tampar o sol com peneira. Essas nossas reservas cambiais são apenas um acalento diante da crise que teremos de enfrentar. Todo cuidado é pouco!

Desejo a todos um Feliz Natal e que o Ano de 2009 nos apresente um outro cenário do que o das nuvens negras que sufocam Paris e as grandes economias atualmente. Oxalá!
Chagas Freitas é economista, pós-graduado em Administração Financeira e poliglota.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

BACURAU E O ELEITOR PAI DÉGUA

Li dias desses que o cidadão mais que acreano do que nunca, Francisco Augusto Vieira Nunes, o Bacurau, recebeu o título de cidadão acreano. Mesmo sendo amazonense, Bacurau, foi mais acreano do que muitos dos vivem no Acre fazendo estripulias com a coisa pública. Era um cabra honesto, de respeito e valores pessoais que poucos chegam aos pés dele. Dedicou maior parte de sua vida à causas que a maioria dos acreanos nunca quiseram saber. Viveu uma vida clamando por justiça. E, por justiça, morreu afirmando que foi um homem feliz.

Conheci Bacurau nas eleições de 1996. Ele era candidato a deputado estadual. Viajamos por quase o Acre inteiro promovendo reuniões e comícios. Naquela mesma eleição estavam Marina Silva, hoje senadora da República e o filósofo e ex-deputado federal Marcos Afonso. Com seu jeito simples, humanitário e atencioso com as pessoas, Bacurau tinha sua forma peculiar de transmitir seu recado diante da platéia.

Uma vez saímos de um restaurante em Tarauacá, por volta da meia-noite, caminhamos pela rua distraidamente rumo ao hotel conversando sobre a política do Brasil. Ele me dizia que somente um presidente operário poderia mudar a cara do país e a vida da classe trabalhadora. Foi uma conversa um tanto longa. Ele caminhava devagar por causa de suas dificuldades e, eu, sem pressa para chegar a lugar algum.

Nos comícios, Bacurau chamava a atenção do público. Com voz firme e palavras escolhidas Bacurau finalizava seu discurso da seguinte forma: “meus amigos, existem três tipos de eleitores nesse Brasil. O primeiro é o eleitor mama na égua, aquele que vive sempre agarrado no poder; o segundo é o eleitor filho duma égua, aquele que sabe que a situação é complicada mas vota por dinheiro e, o terceiro, é o eleitor pai dégua, aquele que vota nas propostas do PT para mudar o Acre e o Brasil”. Bacurau era ovacionado pelo público porque sabia lidar com a platéia, falava a voz do povo.

Francisco Augusto Vieira Nunes, o Bacurau, nasceu em Manicoré, no Estado do Amazonas, em 1939. Bacurau contraiu hanseníase aos cinco anos de idade, na década de 40. Desde a infância conheceu de perto o preconceito e o isolamento do convívio social. Na adolescência passou a morar no hospital colônia de Porto Velho e lá ganhou o apelido de Bacurau, nome de um pássaro da região.

No início da década de 60 foi internado na colônia Souza Araújo, em Rio Branco, no Acre. Por seu envolvimento efetivo nas questões da comunidade, tornou-se um líder comunitário respeitado. Até a sua morte, em 1997, participou ativamente de várias lutas sociais, foi reconhecido e premiado internacionalmente pelas iniciativas e conquistas. Bacurau foi um dos fundadores do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase – Morhan –, em 1981.

A trajetória humanista e corajosa de Bacurau serve tanto de modelo àqueles que deixam o próprio destino reger suas vidas, como de reforço do espírito de luta daqueles que se empenham em promover transformações sociais. É preciso lembrar sempre de pessoas que não se entregaram diante das dificuldades e das omissões alheias.

Solidariedade
O casal Bacurau e Terezinha não teve filhos biológicos, entretanto, ele criou os cinco filhos dela, de outro casamento, como se fossem seus. Além destes, criou várias outras crianças como filhos, durante toda a vida. Teve época em que abrigou nove pessoas, mas jamais faltou um prato de comida. A casa ficava aberta para qualquer um que necessitasse, fosse amigo, estivesse de passagem ou fosse visitar.

Compositor e escritor
Em 1972, compôs a música “Lapinha na Mata”. Esta música virou um cântico conhecido na Igreja. Tempos depois a editora Irmãs Paulinas registrou em vinil. Bacurau teve várias músicas que são cantadas em celebrações e missas católicas.

O primeiro livro escrito por Bacurau chama “À Margem da Vida: num leprosário do Acre”. A publicação foi patrocinada pela Igreja Católica por expressar os ideais da Teologia da Libertação. Dom Moacyr e o padre Clodovis Boff foram os grandes incentivadores da obra que foi lançada em 1978.

No mesmo ano, Bacurau é convidado pelo Ministério da Educação para participar da coleção “Prosadores do Mobral”. A série foi criada para divulgar o Mobral e os livros eram escritos por antigos alunos do programa. Com isso, foi publicado “Chico Boi”, seu segundo livro, no início de 1979.

Os responsáveis pelo Mobral na região Norte do Brasil decidiram lançar o livro em Manicoré. Em sua cidade natal, Bacurau e a equipe do Mobral foram recebidos com honras e comício. Este evento o marcou porque jamais esqueceu a ironia do poder público e a hipocrisia de muitas pessoas que o receberam. A mesma prefeitura que decretou sua prisão domiciliar na sua infância, agora o homenageava, e algumas pessoas que apertaram sua mão com sorrisos no lançamento de seu livro, ajudaram na sua expulsão da cidade quando ainda era uma criança.

Bacurau gostava de compor músicas que exprimissem a alma e o espírito popular. Sua esposa conta que Bacurau preferia escrever deitado de bruços na cama do casal. Passava noites e noites acordado, lendo, escrevendo e musicando suas poesias. Outras vezes fazia música no banho ou sentado em sua cadeira predileta.

Em janeiro de 1988, a sua composição “João Seringueiro”, venceu o Festival Acreano de Musica Popular – FAMP. Foi uma realização para ele que nunca esqueceu a platéia aplaudindo entusiasmadamente a sua música.

As palavras de Bacurau precisam ser amplificadas e multiplicadas. O sonho de Bacurau precisa ser alimentado, pois o seu sonho é o sonho de cada um que acredita em um futuro melhor.

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segunda-feira, dezembro 15, 2008

CARTAS DO ORIENTE (6) - de Paris


Chagas Freitas

Esta é a última Carta sobre o Líbano, pois quando ela for colocada na web, eu estarei sobrevoando o Atlântico de volta à minha família e ao Brasil.

As semanas que passei no Líbano foram de surpresas agradáveis. E não poderia deixar de relatar mais alguns lugares que tive a sorte de conhecer.

Novamente na montanha, dessa vez em Harissa, um dos maiores locais de peregrinação cristã no Oriente Médio que abriga o monumento dedicado a Maria, a padroeira do Líbano e cuja devoção é também aceita no islamismo. A idéia de construí-lo foi do Papa Pio IX, em 1854. De Harissa tem uma linda vista da baia de Jounieh respaldada pela cor anil do mediterrâneo. Dentre os vários monumentos que o circundam, existe uma interessante igreja na forma de barco fenício e árvore de cedro, o símbolo do país, com capacidade para milhares de fiéis.

Agora, uma gruta. A Jeíta que é considerada uma das mais belas do mundo e que os libaneses, não sem razão, fazem árdua campanha para que ela seja incluída no rol das maravilhas do mundo. É, realmente, indescritível. Coisa quase sobrenatural! É revestida em estalagmite e estalactite e o governo cuidadosamente preparou umas pontes suspensas para o trajeto dos turistas na parte superior. Na inferior, só de barco, numa extensão de mais de 600 metros. É tudo espetacular!

As autoridades ambientais zelam tanto por sua preservação que já na entrada tem o aviso: “proibido fotografar” e eles levam tão a sério que até celulares ficam retidos pela segurança.

Após esse passeio, nos cafés das redondezas, as pessoas fumam narguilé, uma mistura de tabaco com ervas, antigo hábito dos mais velhos, mas hoje a coqueluche entre a juventude.

Em contraste às cenas alegres dos cafés, pela primeira vez, vi tanta mulher usando a burka, no Líbano, a vestimenta negra muçulmana que cobre a mulher da cabeça aos pés, deixando apenas um orifício à altura dos olhos, mas tem umas mais radicais ainda que nem isso tem, e sim, uma telinha ou um véu bem fininho. Coisas que aguçam a nossa curiosidade, já que no ocidente só vemos essas cenas pela tv.

Convém ressaltar na vida camponesa libanesa os homens, principalmente, os que se ocupam da agricultura usam um chapeuzinho que vem da época dos egípcios. O que é muito natural, uma vez que o Líbano foi ocupado por 18 povos diferentes e muitos deles deixaram seus costumes e suas tradições num país com aproximadamente quatro milhões de habitantes, distribuídos em um território um pouco maior do que o estado de Sergipe. Esses muitos contrastes são mais que normais, para eles, libaneses.

Mais uma montanha, a derradeira desse nosso périplo libanês. Chegamos a um palácio das 1001 Noites, o Beit Eddine, próximo a Beirute, localizado entre árvores frutíferas, oliveiras e parreiras. Sua construção durou 30 anos e contou com os melhores arquitetos sírios de Damasco, Alepo e até italianos. Isso era só para quem tinha muito dinheiro e poder, o que não era problema para o Emir Backir II.

O Emir tinha o hábito de receber todos, mesmo que não soubesse origem ou nome do hóspede. Mas tinha uma regra: todos só podiam permanecer por três dias. E para atender os que o procuravam, faziam-se necessários muitos, muitos aposentos. Hoje alguns transformados em museus, outros destinados à residência de verão do presidente da república e outros à visitação pública.

Tinha também belos jardins onde o emir passeava com suas esposas sem serem vistas por ninguém. Tem até o túmulo da primeira delas, Sitt Chams.

No entanto, não poderia partir sem falar de algumas pessoas especiais que conheci na Terra do Cedro.

São tantos os brasileiros-libaneses ou libaneses-brasileiros que fica difícil enumerá-los. Me perdoem os não mencionados, mas o editor briga por espaço e não o tenho para incluir a todos.

Apenas vou destacar os habitantes de Sultan Yaculb, onde mais de 90% da população fala português e lá vive a família Barakat, cujo pai libanês, naturalizado brasileiro, viveu muitos anos no interior de São Paulo. Chegou a ser subprefeito de Rio Grande em São Bernardo do Campo, fez fortuna nos negócios, mas devido à falta de segurança no nosso país e as ameaças de seqüestro, resolveu fazer o caminho de volta.

Em Sultan Yaculb montou uma indústria de madeira e fabricação de móveis, que em poucos anos, tornara-se o mais importante empresário desse setor na região do vale do Bekaa.

Só que em 2006 aconteceu a guerra de Israel contra o Hezbollah e o destino havia guardado as suas surpresas. Numa manhã, o senhor Dib Barakat, encontrava-se na sede de sua indústria com alguns caminhões à porta. Vale ressaltar que qualquer veículo de porte grande não podia transitar. Os israelenses suspeitavam o transporte de foguetes pelo Hezbollah. Quem furasse a regra era destruído pelos mísseis da terra de Davi.

Os caminhões do senhor Barakat estavam parados. Mas, o exército de Israel não titubeou disparou um míssel contra o prédio da indústria com mais de 150 metros de comprimentos, dois andares, fazendo desaparecer até as máquinas, deixando uma cratera com mais de 15 metros de profundidade. O corpo despedaçado do senhor Barakat fora encontrado, em meio ao pouco que sobrou por seu filho brasileiro Najib, que hoje vive tentando reerguer o que fora o projeto de vida de seu pai.

Mas a tragédia continua. No dia do enterro do sr. Barakat, os aviões com pilotos automáticos israelenses sobrevoaram e metralharam que estava no cemitério. Alguns tiverem que pular na sepultura aberta para poder escapar. Mas, o nosso Najib vai levando a vida, cheia de sonhos, projetos e conquistando passo a passo a antiga clientela, refazendo o que pode ao lado de sua esposa, três filhos e a viúva, sua mãe, todos brasileiros.

Na Cidade de Sultan Yaculb só quem não fala português é o prefeito, o único que não teve de ser retirado da cidade durante a guerra de 2006, pelo cônsul do Brasil, Michael Gepp, que desfruta de grande prestígio, gratidão e admiração daquele povo, pois foi ele quem teve a coragem de seguir sempre à frente dos comboios que transportaram os nossos brasileiros do Bekka até a fronteira da Síria, onde, naturalmente, estavam todos seguros e muitos deles retornaram ao Brasil. Mas, Michael retornava com os ônibus vazios para repetir a façanha!

O certo é, se Michael Gepp pudesse concorrer a qualquer cargo eletivo junto aquele povo, certamente seria imbatível, e veja que não é pouca gente, só de eleitores brasileiros são mais de dois mil registrados no Consulado. Tem até uma praça em homenagem ao ex-presidente José Sarney, inaugurada por ele em pessoa. Sultan Yaculb é uma parte distante do Brasil, de quem todos falam com saudades.

Mas, o prefeito que ficou pra trás e não falava português tratou de suprir essa grave lacuna perante aos seus munícipes, casou-se com uma gaúcha. É aquela história: o seguro morreu de velho.

E o Michael Daher, grande figura humana, é o nosso brasileiro das artes. Possuí um belo espaço cultural numa das mais chiques ruas de livrarias e restaurantes de Beirute, em Gemayzel. Ele é o grande incentivador das artes latino-americanas na região, principalmente, os cubanos.

Estivemos numa manhã na casa dele nas montanhas. Ele nos ofereceu umas maçãs, tiradas do seu jardim, pareciam favos de mel, tão gostosas como jamais provei. Espero um dia poder voltar ao Líbano e poder ficar algumas horas no pomar dele, em época de colheita, naturalmente.

Antes de terminar, gostaria de coração, agradecer e enviar um abraço fraterno ao nosso querido Cônsul-Geral Michael Gepp, a Bel, a Cris, ao Jorge, ao Abdallah, a Silvana, a Souhalia, a Ana Maria, a Frida, a Amal, a Geraldine, a Nadia, ao Jean, a Pamela e a Maria que tão importantes para que a minha estada no Líbano fosse de boas e muito boas lembranças.

Caso o destino permita, as Cartas do Oriente retornarão na segunda quinzena de janeiro próximo. Relataremos sobre a Jordânia, Síria e Istambul. Aproveito para desejar a todos um Feliz Natal e que o Ano de 2009 nos porte muitas coisas boas, edificantes, saúde e paz. Au revoir Liban!!!! Inch’allah!!!

domingo, dezembro 07, 2008

CARTAS DO ORIENTE (5)

Chagas Freitas

Saindo de Baalbeck continuamos pelo vale do Bekaa para chegármos na parte da tarde à outra jóia, principalmente, para nós cristãos: as ruínas de Aanjar, onde ainda, também, se fala o aramaíco, a língua de Jesus Cristo. É um lugar singular, naturalmente, em proporções bem menores do que a majestosa Baalbeck, mas, também, significativo.
Suas ruínas registram que Aanjar fora um importante centro comercial. São ainda perceptíveis as marcas de suas 500 boutiques, onde se comercializavam as mais caras mercadorias daqueles tempos.

Os mosaicos, dentre os poucos que sobreviveram ao tempo, retratam o modo de vida de seus antigos habitantes, ainda hoje, em sua maioria, descendentes do povo armênio, que se dedicam à agricultura, principalmente, ao cultivo do algodão. Pela sua localização, cercada por montanhas, pode-se imaginar uma atmosfera das 1001 Noites.

Na realidade, o Líbano é um museu a céu aberto, que registra a história de muitos povos. Em quase todo lugar se depara com sítios arqueológicos de importância significativa, por onde continuaremos fazendo um pequeno passeio através dos tempos.

De volta ao litoral: Byblos que foi porto de pescadores na idade neolítica e é habitado continuamente desde sua fundação, há mais de 7.000 anos. Também conhecida pelos povos antigos como a Cidade das Letras. Na língua fenícia, é “Jbeil”, que significa “cerâmica”. Sua prosperidade teve início 3.000 a.C. graças ao comércio com os egípcios, onde os faraós compravam a madeira usada na construção de seus templos.

Com toda sua importância, Byblos não poderia deixar de ser objeto de cobiça. Foi conquistada, dentre outros, por Alexandre, o Grande, que deixou importantes registros do período helênico. Os cruzados construíram a igreja de São João Batista, no estilo romano, no início do séc.XIII, cujas ruínas são o testemunho de um terremoto que devastou a cidade.

Foram os fenícios, e, muito provavelmente de Byblos, que deixaram uma descoberta que mudou a forma de comunicação dos povos antigos até os dias atuais. Eles reiventaram a escrita, isto é transformaram complicados hieróglifos egípcios num sistema mais simples e eficiente de escrever que usamos atualmente.

Como esse povo estava a anos luz de seus contemporâneos, eles inventaram, de lambuja, os algarismos arábicos baseados num inteligente sistema de ângulos.

Nesse diálogo entre o passado e o presente, nas ruelas de Byblos convivem lindas casas com paredes de pedras, janelas arcadas, charmosos barzinhos, hotéis, um clube por onde passaram muitas pesonalidades (Marlon Brando, Sophia Loren, David Rochefeller, Brigitte Bardot, o nosso ex-presidente José Sarney). Até, eu deixei a minha foto. Mas, se um dia ela se juntará às dos outros ilustres visitantes, serão outros 500! Nessa paisagem com belas árvores chega-se até o porto de onde os fenícios se lançavam de corpo, alma e espírito aventureiro por mundos nunca dantes navegados para se tornarem os maiores conquistadores da história dos mares.

No Líbano, o diálogo entre as montanhas é permanente. Portanto, vive-se subindo e descendo, descendo e subindo, como as ondas do mar e as escalas da vida. As montanhas de cedro, em Bicharre, são fascinantes já que a pouca distância do litoral, alcança-se grandes altitudes e nesse pequeno espaço geográfico pode-se ter a neve e, ao mesmo tempo, contemplar o azul do mediterrâneo, com banhistas à praia.

Bsharre é a terra natal de Gibran Khalil Gibran, onde foi erguido um museu em sua homenagem. Aqui, também, não se foge à regra: “santo de casa não obra milagre”. Gibran teve que emigrar, primeiro para a França e depois para os Estados Unidos, onde alcançou a fama com a publicação de sua mais famosa obra “O Profeta”, em 1923. Ele, também, foi um pintor competente e tudo isso pode-se ver no museu, onde, repousam os seus restos mortais.

Vistaremos outra montanha, mais alta e distante de Beirute, no vale do Bekaakafra, terra de São Charbel, o santo mais venerado do Líbano e a quem se atribuem muitos milagres. Como eu já fui frequentador de sua igreja em Abidjan, capital da Costa do Marfim, tão logo aqui cheguei percebí que, na zona cristã, há fotos desse santo por todos os lados. Aliás, nos lugares onde vivem os cristãos existem muitas capelinhas, nas esquinas e as pessoas quando passam, inclusive dirigindo automóveis, fazem o sinal da cruz.

Foi um gentil convite de um irmão libanês-brasileiro que ganhei nessa minha feliz estada Beirute, o Jean Zaarur que com sua mulher Geraldine e seu bebê Eli me proporcionaram momentos inesquecíveis.

Numa manhã de domingo, juntamente, com minhas queridas amigas Isabel e Cristina, partirmos em direção à minha nova aventura. A viagem foi muita bonita, uma paisagem deslumbrante, mas quando só olhava para baixo: santo Deus, só calafrios! Lembra a famosa estrada na Bolívia.

Como numa dessas felizes coincidências da vida, a propriedade da família dos Zaarurs fica à entrada da gruta, onde são Charbel, passou as primeiras décadas de sua vida meditando.

Por ser filhos de pastores, ela fora incumbido de tomar conta de umas vaquinhas e cabras no pé da montanha. Foi lá que ele descobriu sua vocação religiosa. Visitei, também, no vilarejo, a igreja de seu batismo e a que ele trabalhou como religioso. No Líbano existem outros lugares a ele dedicados e tive a sorte de a todos visitar, sempre na companhia desses meus queridos amigos de viagens religiosas.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

PLÁSTICO: VILÃO DO MEIO AMBIENTE?

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado dia 2 de dezembro de 2008 no Instituto de Educação Superior de Brasília, por Pitter Lucena e Nathália Priscilla. O curso, claro, jornalismo. A nota, para a nossa alegria, foi 10.

As embalagens plásticas demoram segundos para serem produzidas e podem levar até 500 anos para se degradar, causando diversos tipos de poluição à natureza e ainda provocando entupimentos de bueiros, o que causa alagamentos. Por isso, diminuir o uso de embalagens tornou-se uma preocupação mundial. Mesmo depois do surgimento de plásticos oxibiodegradáveis e biodegradáveis, a preocupação permanece.


Uma família de quatro pessoas chega a utilizar em média mil sacolas plásticas por ano. Por isso, tirando esse tipo de embalagem plástica de circulação contribui para que o meio ambiente não perca seus recursos naturais. A produção de qualquer produto que se consome elimina gás carbônico, que ajuda a produzir o efeito estufa, deteriorando ainda mais a camada de ozônio, principalmente por essas sacolas serem derivadas de petróleo. Em vários lugares do mundo essa prática já foi adotada, mas muito tem se discutido sobre o assunto e pouco tem feito o governo e o cidadão.

A proposta do projeto é saber se o plástico é ou não o vilão do meio ambiente. Visando esses aspectos ambientais, essa grande reportagem busca dados sobre a destruição já causada, alternativas à diminuição da poluição ambiental devido ao grande aumento de resíduos plásticos no mundo e opiniões de especialistas sobre o assunto. TCC clique aqui

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terça-feira, dezembro 02, 2008

10, NOTA 10. ESTOU CURTINDO

Apresentei TCC nesta terça-feira. A nota foi a melhor possível. Depois colocarei na internet todo o conteúdo do trabalho que durou mais de três meses de pesquisa. Por enquanto vou curtir a nota. 10 é 10 e pronto. A pesquisa foi Plástico: vilão do meio ambiente?

A preocupação com o meio ambiente tem aumentado com o crescimento da economia, pois quanto maior for a produção, maior será a poluição. Com isso as pessoas têm acesso cada vez mais a embalagens de uso único, que eliminam sustâncias químicas prejudiciais ao nosso planeta. O uso de embalagens plásticas causa entupimento de bueiros, acúmulos de lixos que contribuem para alagamentos em época de chuva nas cidades e retardam a decomposição de materiais degradáveis.

O trabalho pretende mostrar que devemos ter responsabilidade sócio-ambiental e como é de extrema importância para o futuro do meio ambiente, a despoluição. Além de nos tornarmos pessoas ecologicamente corretas e poder atuar nessa área dentro da profissão de jornalista.

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segunda-feira, dezembro 01, 2008

CARTAS DO ORIENTE (4)

Chagas Freitas

Visitaremos hoje a mais importante das ruínas romanas existentes: Baalbeck. Elas ficam no Líbano e foram construídas em homenagem a Baal, o deus sol dos sírios-fenícios.

Sua história é muito rica. No período helênico (333-64 a.C.) foi batizada de Heliópolis, a cidade do sol. Mas foi no período romano que alcançou o seu apogeu. Iniciou-se a construção do seu principal monumento, o Templo de Júpiter, com o imperador Augusto, no I século a.C., e concluído no reino de Nero (54-68 d.C.).

No período bizantino foram erradicados os ritos pagãos do seu templo e substituídos por uma basílica cristã, que não existe mais. No período árabe (a partir de 748 d.C.) a cidade foi cercada por grandes fortificações, mas, mesmo assim, caiu sob o julgo de vários conquistadores, dentre eles, o rebelde governador da província do Acre (hoje em Israel), Jezzar Pasha. Após ser destruída pelos mongóis em 1260, Baalbeck só foi conhecer, novamente, paz e prosperidade no reino dos mamelucos.

Baalbeck foi considerada uma das maravilhas da antigüidade. Está localizada no rico vale do Bekaa e já era uma importante rota comercial 1.000 anos a.C., por ser a mais próspera dentre as cidades de Canaã. Após dois terremotos devastadores, o primeiro no século VI e o segundo em 1751, grande parte de suas edificações resistiram ao tempo, como querendo nos dar o testemunho de sua beleza e opulência.

Quem tiver a sorte de visitar o Líbano, tem que conhecer Baalbeck, essa maravilha que os olhos não se cansam de admirar e reverenciar. É o ponto turístico mais distante de Beirute. O percurso é longo, em termos de Líbano, em torno de duas horas, por uma estrada que ainda mostra a marca devastadora da guerra de 2006 entre o Hezbollah e Israel.

A principal ponte da fronteira norte, a maior do país, próxima a fronteira síria, ainda não está totalmente recuperada e para se ter acesso à outra margem, usa-se um desvio protegido pelo exército libanês. Antes da nossa chegada ao local, a guia nos advertiu que era expressamente proibido tirar fotos e se alguém o fizesse, eles entrariam no ônibus, tomariam e quebrariam a máquina no ato.

Logo depois da ponte, depara-se com a linda paisagem das montanhas entre o Líbano e a Síria, ainda no próspero e importante Vale do Bekaa, uma extensão territorial de 115 km de comprimento, com a largura variando em 5 e 15 km. É nessa área onde o Brasil se faz mais presente em terras libanesas. São cidades, onde muitos de seus habitantes falam português e têm saudade dos bons tempos vividos na terrinha de Cabral. Em sua maioria, são muçulmanos que retornaram para que os seus filhos pudessem aprender a religião islâmica na língua original e por aqui foram ficando e o Brasil é hoje apenas uma boa referência em suas vidas.

Apesar da linda paisagem, com as culturas agrícolas a perder de vista, os cartazes dos mártires da revolução islâmica, em sua maioria jovens, estão fixados nos postes, e são às centenas. Aqui teve cartaz exposto, significa que já partiu para outra. Dizem que a exposição de foto de pessoa viva não porta boa sorte. Portanto, fotos e cartazes nem pensar: só para aqueles que partiram para encontrar Alá.

Finalmente, chega-se a Baalbeck, talvez o único lugar turístico no Líbano onde os vendedores de bugingangas perturbam os visitantes. Eles oferecem de tudo, desde moedas antigas, naturalmente, nada original; algumas cópias são quase perfeitas. Até camisas do Hezbollah entram no pacote. Parece que eles aprenderam a tática de além fronteiras, quando se vendiam camisetas para feijoadas de um certo partido político, cuja história tão bem nós conhecemos. Mas fomos advertidos que se nada nos interessasse, não parássemos, pois se parar, dança, tem que comprar a tal camiseta: os caras são um verdadeiro porre.

Livrando-se desses “vendedores”, finalmente pode-se contemplar Baalbeck, que parece a todos esperar, num show de grandeza, de majestade dentre as maravilhas arquitetônicas e testemunho de um período de esplendor dos romanos.

Suas ruínas são indescritíveis, imponentes, belas e registram também a passagem de outros conquistadores, principalmente, os árabes, que não contentes com a bela arquitetura romana, “melhoraram”, no pensamento deles, algumas partes do monumento. Felizmente, só o visitante atento conhecedor de arquitetura e/ou, como no meu caso, orientado por um bom guia, pode-se verificar à intromissão desses últimos.

Baalbeck é tão magnânima que quase todos os mortais se rendem diante sua beleza. Até o nosso querido Dom Pedro II, em 1876, não resistiu e escreveu seu nome em uma de suas colunas, tornando-se, assim, provavelmente, o primeiro pichador dessa beleza dos tempos romanos. E vejam que dom Pedro foi umas das personalidades mais marcantes de seu tempo, de cultura ímpar. Mas, também era humano e tinha as suas fraquezas: amava o belo!

Quem ver as monumentais colunas do Templo de Júpiter não imagina o trajeto que elas fizeram até chegar a Baalbeck. Foram todas fabricadas na Roma antiga e transportadas até o Líbano. Somente um império poderoso, que contasse com muito dinheiro e “ajuda espontânea” dos abastardos da época, poderia se dar a tal luxo e capricho.

Em conseqüência dos terremotos, os prejuízos foram grandes. Dezenas de colunas do Templo de Júpiter desmoronaram. Entretanto, seis resistiram e, milagrosamente, uma ao lado do outra, com se fossem gêmeas. Esse fato deixou curiosos os especialistas, porque apenas, as colunas sobreviventes permaneceram juntas? Sob as ordens de Justiniano, outras colunas foram transferidas para Constantinopla para serem usadas na construção da famosa Rainha Sofia.

Como a verdade sempre prevalece, análises com técnicas modernas, constataram que as colunas que continuarem em pé, assim como todas os outras, foram construídas em três partes distintas, mas deveriam ser todas interligadas com um tipo de metal caríssimo naqueles tempos e o “empreiteiro” espertamente, apenas faturou o produto, mas não o entregou conforme a encomenda. Portando, apenas as entregues de forma não manipuladas, sobreviveram . Assim, lamentavelmente, essa esperteza com o dinheiro público já tem uma longa estrada e vem fazendo discípulos através dos séculos.

O monumento melhor conservado do complexo é o Templo de Baco, construído na primeira metade do Segundo século a.C.. Muitos afrescos ainda existem, dentre eles, um de excepcional beleza mostrando a cobra picando Cleópatra.

Infelizmente, do Templo de Vênus restam apenas escombros. Mas, tudo é gigantesco, maravilhoso, como maravilhosa e inesquecível são a lembrança de quem um dia teve o privilégio de admirar Baalbeck.

FOTOS PITTER LUCENA