CARTAS DO ORIENTE (4)
Chagas Freitas
Visitaremos hoje a mais importante das ruínas romanas existentes: Baalbeck. Elas ficam no Líbano e foram construídas em homenagem a Baal, o deus sol dos sírios-fenícios.
Sua história é muito rica. No período helênico (333-64 a.C.) foi batizada de Heliópolis, a cidade do sol. Mas foi no período romano que alcançou o seu apogeu. Iniciou-se a construção do seu principal monumento, o Templo de Júpiter, com o imperador Augusto, no I século a.C., e concluído no reino de Nero (54-68 d.C.).
No período bizantino foram erradicados os ritos pagãos do seu templo e substituídos por uma basílica cristã, que não existe mais. No período árabe (a partir de 748 d.C.) a cidade foi cercada por grandes fortificações, mas, mesmo assim, caiu sob o julgo de vários conquistadores, dentre eles, o rebelde governador da província do Acre (hoje em Israel), Jezzar Pasha. Após ser destruída pelos mongóis em 1260, Baalbeck só foi conhecer, novamente, paz e prosperidade no reino dos mamelucos.
Baalbeck foi considerada uma das maravilhas da antigüidade. Está localizada no rico vale do Bekaa e já era uma importante rota comercial 1.000 anos a.C., por ser a mais próspera dentre as cidades de Canaã. Após dois terremotos devastadores, o primeiro no século VI e o segundo em 1751, grande parte de suas edificações resistiram ao tempo, como querendo nos dar o testemunho de sua beleza e opulência.
Quem tiver a sorte de visitar o Líbano, tem que conhecer Baalbeck, essa maravilha que os olhos não se cansam de admirar e reverenciar. É o ponto turístico mais distante de Beirute. O percurso é longo, em termos de Líbano, em torno de duas horas, por uma estrada que ainda mostra a marca devastadora da guerra de 2006 entre o Hezbollah e Israel.
A principal ponte da fronteira norte, a maior do país, próxima a fronteira síria, ainda não está totalmente recuperada e para se ter acesso à outra margem, usa-se um desvio protegido pelo exército libanês. Antes da nossa chegada ao local, a guia nos advertiu que era expressamente proibido tirar fotos e se alguém o fizesse, eles entrariam no ônibus, tomariam e quebrariam a máquina no ato.
Logo depois da ponte, depara-se com a linda paisagem das montanhas entre o Líbano e a Síria, ainda no próspero e importante Vale do Bekaa, uma extensão territorial de 115 km de comprimento, com a largura variando em 5 e 15 km. É nessa área onde o Brasil se faz mais presente em terras libanesas. São cidades, onde muitos de seus habitantes falam português e têm saudade dos bons tempos vividos na terrinha de Cabral. Em sua maioria, são muçulmanos que retornaram para que os seus filhos pudessem aprender a religião islâmica na língua original e por aqui foram ficando e o Brasil é hoje apenas uma boa referência em suas vidas.
Apesar da linda paisagem, com as culturas agrícolas a perder de vista, os cartazes dos mártires da revolução islâmica, em sua maioria jovens, estão fixados nos postes, e são às centenas. Aqui teve cartaz exposto, significa que já partiu para outra. Dizem que a exposição de foto de pessoa viva não porta boa sorte. Portanto, fotos e cartazes nem pensar: só para aqueles que partiram para encontrar Alá.
Finalmente, chega-se a Baalbeck, talvez o único lugar turístico no Líbano onde os vendedores de bugingangas perturbam os visitantes. Eles oferecem de tudo, desde moedas antigas, naturalmente, nada original; algumas cópias são quase perfeitas. Até camisas do Hezbollah entram no pacote. Parece que eles aprenderam a tática de além fronteiras, quando se vendiam camisetas para feijoadas de um certo partido político, cuja história tão bem nós conhecemos. Mas fomos advertidos que se nada nos interessasse, não parássemos, pois se parar, dança, tem que comprar a tal camiseta: os caras são um verdadeiro porre.
Livrando-se desses “vendedores”, finalmente pode-se contemplar Baalbeck, que parece a todos esperar, num show de grandeza, de majestade dentre as maravilhas arquitetônicas e testemunho de um período de esplendor dos romanos.
Suas ruínas são indescritíveis, imponentes, belas e registram também a passagem de outros conquistadores, principalmente, os árabes, que não contentes com a bela arquitetura romana, “melhoraram”, no pensamento deles, algumas partes do monumento. Felizmente, só o visitante atento conhecedor de arquitetura e/ou, como no meu caso, orientado por um bom guia, pode-se verificar à intromissão desses últimos.
Baalbeck é tão magnânima que quase todos os mortais se rendem diante sua beleza. Até o nosso querido Dom Pedro II, em 1876, não resistiu e escreveu seu nome em uma de suas colunas, tornando-se, assim, provavelmente, o primeiro pichador dessa beleza dos tempos romanos. E vejam que dom Pedro foi umas das personalidades mais marcantes de seu tempo, de cultura ímpar. Mas, também era humano e tinha as suas fraquezas: amava o belo!
Quem ver as monumentais colunas do Templo de Júpiter não imagina o trajeto que elas fizeram até chegar a Baalbeck. Foram todas fabricadas na Roma antiga e transportadas até o Líbano. Somente um império poderoso, que contasse com muito dinheiro e “ajuda espontânea” dos abastardos da época, poderia se dar a tal luxo e capricho.
Em conseqüência dos terremotos, os prejuízos foram grandes. Dezenas de colunas do Templo de Júpiter desmoronaram. Entretanto, seis resistiram e, milagrosamente, uma ao lado do outra, com se fossem gêmeas. Esse fato deixou curiosos os especialistas, porque apenas, as colunas sobreviventes permaneceram juntas? Sob as ordens de Justiniano, outras colunas foram transferidas para Constantinopla para serem usadas na construção da famosa Rainha Sofia.
Como a verdade sempre prevalece, análises com técnicas modernas, constataram que as colunas que continuarem em pé, assim como todas os outras, foram construídas em três partes distintas, mas deveriam ser todas interligadas com um tipo de metal caríssimo naqueles tempos e o “empreiteiro” espertamente, apenas faturou o produto, mas não o entregou conforme a encomenda. Portando, apenas as entregues de forma não manipuladas, sobreviveram . Assim, lamentavelmente, essa esperteza com o dinheiro público já tem uma longa estrada e vem fazendo discípulos através dos séculos.
O monumento melhor conservado do complexo é o Templo de Baco, construído na primeira metade do Segundo século a.C.. Muitos afrescos ainda existem, dentre eles, um de excepcional beleza mostrando a cobra picando Cleópatra.
Infelizmente, do Templo de Vênus restam apenas escombros. Mas, tudo é gigantesco, maravilhoso, como maravilhosa e inesquecível são a lembrança de quem um dia teve o privilégio de admirar Baalbeck.
Visitaremos hoje a mais importante das ruínas romanas existentes: Baalbeck. Elas ficam no Líbano e foram construídas em homenagem a Baal, o deus sol dos sírios-fenícios.
Sua história é muito rica. No período helênico (333-64 a.C.) foi batizada de Heliópolis, a cidade do sol. Mas foi no período romano que alcançou o seu apogeu. Iniciou-se a construção do seu principal monumento, o Templo de Júpiter, com o imperador Augusto, no I século a.C., e concluído no reino de Nero (54-68 d.C.).
No período bizantino foram erradicados os ritos pagãos do seu templo e substituídos por uma basílica cristã, que não existe mais. No período árabe (a partir de 748 d.C.) a cidade foi cercada por grandes fortificações, mas, mesmo assim, caiu sob o julgo de vários conquistadores, dentre eles, o rebelde governador da província do Acre (hoje em Israel), Jezzar Pasha. Após ser destruída pelos mongóis em 1260, Baalbeck só foi conhecer, novamente, paz e prosperidade no reino dos mamelucos.
Baalbeck foi considerada uma das maravilhas da antigüidade. Está localizada no rico vale do Bekaa e já era uma importante rota comercial 1.000 anos a.C., por ser a mais próspera dentre as cidades de Canaã. Após dois terremotos devastadores, o primeiro no século VI e o segundo em 1751, grande parte de suas edificações resistiram ao tempo, como querendo nos dar o testemunho de sua beleza e opulência.
Quem tiver a sorte de visitar o Líbano, tem que conhecer Baalbeck, essa maravilha que os olhos não se cansam de admirar e reverenciar. É o ponto turístico mais distante de Beirute. O percurso é longo, em termos de Líbano, em torno de duas horas, por uma estrada que ainda mostra a marca devastadora da guerra de 2006 entre o Hezbollah e Israel.
A principal ponte da fronteira norte, a maior do país, próxima a fronteira síria, ainda não está totalmente recuperada e para se ter acesso à outra margem, usa-se um desvio protegido pelo exército libanês. Antes da nossa chegada ao local, a guia nos advertiu que era expressamente proibido tirar fotos e se alguém o fizesse, eles entrariam no ônibus, tomariam e quebrariam a máquina no ato.
Logo depois da ponte, depara-se com a linda paisagem das montanhas entre o Líbano e a Síria, ainda no próspero e importante Vale do Bekaa, uma extensão territorial de 115 km de comprimento, com a largura variando em 5 e 15 km. É nessa área onde o Brasil se faz mais presente em terras libanesas. São cidades, onde muitos de seus habitantes falam português e têm saudade dos bons tempos vividos na terrinha de Cabral. Em sua maioria, são muçulmanos que retornaram para que os seus filhos pudessem aprender a religião islâmica na língua original e por aqui foram ficando e o Brasil é hoje apenas uma boa referência em suas vidas.
Apesar da linda paisagem, com as culturas agrícolas a perder de vista, os cartazes dos mártires da revolução islâmica, em sua maioria jovens, estão fixados nos postes, e são às centenas. Aqui teve cartaz exposto, significa que já partiu para outra. Dizem que a exposição de foto de pessoa viva não porta boa sorte. Portanto, fotos e cartazes nem pensar: só para aqueles que partiram para encontrar Alá.
Finalmente, chega-se a Baalbeck, talvez o único lugar turístico no Líbano onde os vendedores de bugingangas perturbam os visitantes. Eles oferecem de tudo, desde moedas antigas, naturalmente, nada original; algumas cópias são quase perfeitas. Até camisas do Hezbollah entram no pacote. Parece que eles aprenderam a tática de além fronteiras, quando se vendiam camisetas para feijoadas de um certo partido político, cuja história tão bem nós conhecemos. Mas fomos advertidos que se nada nos interessasse, não parássemos, pois se parar, dança, tem que comprar a tal camiseta: os caras são um verdadeiro porre.
Livrando-se desses “vendedores”, finalmente pode-se contemplar Baalbeck, que parece a todos esperar, num show de grandeza, de majestade dentre as maravilhas arquitetônicas e testemunho de um período de esplendor dos romanos.
Suas ruínas são indescritíveis, imponentes, belas e registram também a passagem de outros conquistadores, principalmente, os árabes, que não contentes com a bela arquitetura romana, “melhoraram”, no pensamento deles, algumas partes do monumento. Felizmente, só o visitante atento conhecedor de arquitetura e/ou, como no meu caso, orientado por um bom guia, pode-se verificar à intromissão desses últimos.
Baalbeck é tão magnânima que quase todos os mortais se rendem diante sua beleza. Até o nosso querido Dom Pedro II, em 1876, não resistiu e escreveu seu nome em uma de suas colunas, tornando-se, assim, provavelmente, o primeiro pichador dessa beleza dos tempos romanos. E vejam que dom Pedro foi umas das personalidades mais marcantes de seu tempo, de cultura ímpar. Mas, também era humano e tinha as suas fraquezas: amava o belo!
Quem ver as monumentais colunas do Templo de Júpiter não imagina o trajeto que elas fizeram até chegar a Baalbeck. Foram todas fabricadas na Roma antiga e transportadas até o Líbano. Somente um império poderoso, que contasse com muito dinheiro e “ajuda espontânea” dos abastardos da época, poderia se dar a tal luxo e capricho.
Em conseqüência dos terremotos, os prejuízos foram grandes. Dezenas de colunas do Templo de Júpiter desmoronaram. Entretanto, seis resistiram e, milagrosamente, uma ao lado do outra, com se fossem gêmeas. Esse fato deixou curiosos os especialistas, porque apenas, as colunas sobreviventes permaneceram juntas? Sob as ordens de Justiniano, outras colunas foram transferidas para Constantinopla para serem usadas na construção da famosa Rainha Sofia.
Como a verdade sempre prevalece, análises com técnicas modernas, constataram que as colunas que continuarem em pé, assim como todas os outras, foram construídas em três partes distintas, mas deveriam ser todas interligadas com um tipo de metal caríssimo naqueles tempos e o “empreiteiro” espertamente, apenas faturou o produto, mas não o entregou conforme a encomenda. Portando, apenas as entregues de forma não manipuladas, sobreviveram . Assim, lamentavelmente, essa esperteza com o dinheiro público já tem uma longa estrada e vem fazendo discípulos através dos séculos.
O monumento melhor conservado do complexo é o Templo de Baco, construído na primeira metade do Segundo século a.C.. Muitos afrescos ainda existem, dentre eles, um de excepcional beleza mostrando a cobra picando Cleópatra.
Infelizmente, do Templo de Vênus restam apenas escombros. Mas, tudo é gigantesco, maravilhoso, como maravilhosa e inesquecível são a lembrança de quem um dia teve o privilégio de admirar Baalbeck.
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