PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil
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segunda-feira, outubro 30, 2006

VELHOS AMIGOS DE PROFISSÃO

Mexendo no baú de lembranças encontrei uma preciosidade. Uma foto de velhos amigos jornalistas que, à época, 1992, trabalhavam no jornal A Gazeta, no Acre. Era um time de primeira classe. No retrato do passado estão Gleilson Miranda, fotógrafo de mão cheia, e os repórteres Chico Araújo, Dulcinéia Azevedo, Costa Júnior e Antônio Stélio. O único que aparece com uma chave de carro na bitaca na calça, é o Pulga, o motorista. Velhos tempos, velhos amigos, velhas histórias e velhas lembranças. Lembrança maior do jornalismo que fazíamos com qualidade, com responsabilidade com a informação. Infelizmente esse tempo morreu.

Após 14 anos essa galera continua na doce e perigosa profissão de informar. Todos eles conheceram outros ambientes, outras pessoas, novas descobertas, novos desafios, liberando em cada instante energia suficiente na busca de um novo amanhã, de um novo renascimento. Como isso faz bem ao espírito. Assumimos com clareza que somos seres capazes de mudanças radicais na carreira, na direção de vida, sem perceber que não somos mais os mesmos. Mesmo assim a alma continua jovem, o pensamento lúcido e mais amadurecido, o coração mais apaixonado pela arte de viver.

Com a distância geográfica que vivemos hoje, outras pessoas fazem questão de querer tomar o lugar deles, sem pressa, sem alarde. Os velhos companheiros de trabalho, seres humanos que conheci carregando no peito o escudo da liberdade, continuam vivos e puros em minhas lembranças. Eram eles e tantos outros que, juntos, sintonizavam pontos de vista de um mundo melhor, de uma vida mais humana, sentindo as vibrações de cada momento.

O tempo passa, o tempo voa, mas os sentimentos não. Esses não mudam nunca. Não importa o que fazem agora, importa saber que fazem com carinho, com amor e devoção. No duro caminho da vida, que não temos o dom de traçá-lo, muitas vezes nos perdemos nessa caminhada de pedras, flores, espinhos e nuvens. Os amigos vão se separando, mas não podemos deixar para trás nossas estórias que deram e dão estrutura, cor e brilho à nossa alma.

sexta-feira, outubro 27, 2006

ACREANA TEM GÊMEOS DE COR DE PELE DIFERENTE

A foto de um casal de gêmeos publicada na capa dos principais jornais do mundo, na quinta-feira (26), não me chamou atenção como um caso raro na ciência. No Brasil, o fato de gêmeos nascerem com cores diferentes de pele, não é tão estranho assim como os cientistas declararam de ser uma chance em um milhão. No Acre, especificamente em Brasiléia, fronteira com a Bolívia, uma brasileira pariu gêmeos, um branco e outro negro. A mãe e as crianças não foram parar em capa de jornal e nem ficaram famosas, como o caso da inglesa que a imprensa deu tanto destaque.

Tenho certeza que o caso do Acre é mais importante do que o inglês. Vou explicar por que: a morena britânica Kerry Richardson, que pariu dia 23 de julho dois garotos de cor de pele diferente, é descendente de nigerianos, enquanto que os meninos nascidos em Brasiléia, os pais são brancos. Leonardo e Cristhian (foto) nasceram de sete meses. Um tem cara de europeu e o outro parece um “curumim” de pele escura.

Especialistas brasileiros revelam que o caso pode ser explicado através de uma ovulação dupla. Na maioria das vezes, quando os gêmeos são idênticos, o mesmo embrião se divide ao meio e dá origem a outros dois, exatamente iguais entre si. Não é o caso da britânica que teria ovulado duas vezes no mesmo mês. Isto é, dois óvulos foram fecundados por diferentes espermatozóides.

A ciência aponta que em 2/3 das gestações gemelares, os gêmeos são bivitelinos, portanto não são idênticos; em 1/3 são univitelinos, portanto idênticos. Os gêmeos não-idênticos são formados pela fecundação de dois óvulos por dois espermatozóides. Na verdade, podem ou não ter o mesmo sexo e equivalem a duas gestações que se desenvolvem ao mesmo tempo e no mesmo ambiente.

Já os univitelinos ou idênticos formam-se quando um único óvulo, fecundado por um só espermatozóide, sofre posteriormente uma divisão. Logo, gêmeos idênticos têm necessariamente mesma carga genética e mesmo sexo.

O que faz diferença nas gestações gemelares é o número de placentas. Quando são duas placentas, uma para cada feto, a gestação é menos complicada, mas será mais complicada se houver apenas uma placenta para os dois fetos. Gêmeos não-idênticos obrigatoriamente têm duas placentas. Entretanto, somente de 10% a 15% dos gêmeos idênticos têm placentas separadas.

E o caso da acreana de Brasiléia? Médicos que acompanharam seu pré-natal afirmam que os gêmeos dividiram a mesma placenta, ou seja, foram fecundados por um óvulo e um espermatozóide apenas. O nascimento dos meninos acreanos, em 2002, não gerou nenhum acontecimento inédito por parte da classe médica brasileira. Pelo sim, pelo não, vale o registro dos gêmeos de cor de pele diferente porque um deles é meu afilhado.

terça-feira, outubro 24, 2006

SOBRE CAXINGUBA E VEADOS

Desde criança sempre escuto estórias e mais estórias sobre a caxinguba, ficus insipida Willdenow var. insípida, um fruto muito apreciado por veados, Cervus elaphus ervidae, animais em abundância na selva amazônica. A caxinguba é também conhecida por guajinguva e lombrigueira. Em Xapuri, cidade distante 180 quilômetros da capital, antes de ser conhecida como umbigo do mundo em meio ambiente, tinha o doce apelido de terra da caxinguba. Isso, claro, Xapuri era detentora da fama por ser rica na produção da fruta que veado gosta tanto que lambe os beiços.

Maldade. Pura maldade das más línguas. Xapuri era chamada também de princesinha do Acre até a década de 90. De Xapuri saíram grandes homens como Adib Jatene, Armando Nogueira, Jarbas Passarinho, Chico Mendes, Nazaré Pereira, José Vasconcelos e tantos outros. Este que vos escreve também nasceu naquela cidade onde os linguarudos dizem que os moradores andam de costas. Cidade histórica do Acre, Xapuri tem São Sebastião como padroeiro.

As estórias sobre Xapuri e os veados são muitas. Os veados que me refiro neste parágrafo são aqueles homens, como dizia o saudoso jornalista Zé Leite, de sabor atrás. Os gozadores de plantão afirmam que pela manhã, o entregador de pão anuncia a venda do produto de forma diferente. Em vez de gritar pelas ruas da cidade “olha o pão, olha o pão”, soltam os pulmões gritando “olha a rosca, olha a rosca”. Claro que essa missiva continua sendo brincadeira para mexer com o brio dos machões de Xapuri.

Certa vez ouvir uma estória interessante. Um vendedor de maçãs decidiu viajar à Xapuri para vender um caminhão carregado do produto. Ele ficou sabendo que o povo da cidade não conhecia a fruta e pensou que iria ganhar um bom dinheiro. Ledo engano. Passou uma semana anunciando as maçãs num carro de som e não vendeu uma sequer. Depois de conversar com algumas pessoas no mercado municipal, foi informado que o povo gostava de uma frutinha chamada de caxinguba.

O vendedor não perdeu tempo. Correu para o caminhão e começou a gritar “caxinguba de Rio Branco, caxinguba de Rio Branco”. Foi uma correria infernal. Todo mundo queria experimentar a fruta de outra cidade. Filas foram formadas e até a polícia foi chamada para não haver confusão. O experto vendedor, dizem, vendeu todo o estoque de maçã como se fosse caxinguba, em menos de uma hora. Refeito do susto e do prejuízo que iria ter, voltou voando para São Paulo para nunca mais voltar a Xapuri, uma cidade de gente que tem o estranho hábito de saborear uma fruta adorada por veados.

Em agosto passado tive o prazer de conhecer o coração da Reserva Chico Mendes, em Xapuri. Conversando com os seringueiros da região disse que queria conhecer a tal caxinguba, pedido que resultou em risos a boca pequena. Confesso que nunca havia visto a tal fruta, mesmo tendo nascido no maior reduto de comida de veado. Para encurtar a conversa, trouxe quase um quilo de caxinguba para os amigos de Brasília. Eles gostaram.

quarta-feira, outubro 18, 2006

HILDEBRANDO: NOVO JULGAMENTO

O Tribunal do Júri da 12ª Vara da Justiça Federal de Brasília prossegue na próxima segunda-feira, dia 23, às 9 horas, o julgamento do ex-deputado federal Hildebrando Pascoal, pelo assassinato do soldado do Corpo de Bombeiros, Sebastião Crispim, morto a tiros em setembro de 1997, quando participava de uma festa no bairro Sobral, em Rio Branco. Mais dois acusados também irão a julgamento: João Souza e Reginaldo Rocha.

Quatro acusados pelo envolvimento nesse crime foram julgados em maio deste ano. Os ex-policiais Alexandre Alves da Silva (Nim), Alex Fernandes Barros (Sargento Alex) e Raimundo Alves de Oliveira (Raimundinho). Eles foram condenados por homicídio triplicamente qualificado. Ronaldo Romero, no entanto, foi absolvido por falta de provas de participação no crime.

Na ocasião, Hildebrando Pascoal também deveria ter sido julgado, mas abdicou do advogado de defesa, sob a alegação de que o advogado Pedro Paulo Castelo Branco não havia estudado o processo com antecedência. No mês de agosto a mesma estratégia foi utilizada para adiar mais uma vez o julgamento.

No ano passado, Hildebrando foi condenado a 25 anos e seis meses de prisão pelo tribunal do júri da 10ª Vara da Justiça Federal de Brasília, sob acusação de ser o mandante do assassinato do policial civil Walter José Ayala, em 1997. O ex-deputado está preso desde setembro de 1999, acusado de envolvimento com o narcotráfico e de participação em um grupo de extermínio no Acre.

Hildebrando se tornou conhecido pelo suposto hábito macabro de usar motosserra para fazer picadinho de suas vítimas. Ao ter seu irmão assassinado numa disputa com um grupo rival, Hildebrando iniciou uma caçada aos responsáveis pelo crime. Fechou as divisas do Estado e mandou policiais para as ruas.

Antes de esquartejar com golpes de motoserra o matador de seu irmão, conhecido como "Baiano", Hildebrando teria ainda sido capaz de queimar com ácido um menino de 15 anos, suspeito de ter informações sobre o caso. Além disso, o ex-deputado teria também seqüestrado e torturado a mulher e os filhos do matador.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Açaí é uma esperança contra o AVC

Pesquisa feita junto aos moradores de Igarapé-Miri aponta o açaí como um aliado fundamental no combate ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), infarto e tromboses porque ele possui 33 vezes mais antocianina que a uva, que fez cientistas franceses recomendarem doses diárias de vinho para reforçar o organismo com a substância antioxidante que age contra a obstrução das artérias.

A pesquisa está sendo feita pelo cardiologista e presidente da Comissão de Pós-Graduação em Cardiologia de Medicina da Universidade Federal do Pará, Eduardo Costa. Após descobrir a presença da antocianina no açaí, substância que lhe dá cor, ele começou a pesquisa de campo em Igarapé-Miri, município com alto consumo da fruta.

A intenção é associar informações clínicas com a ingestão diária do açaí. Foram, então, analisados dados como fatores de risco (se a pessoa é fumante, se é obesa, se tem herança genética propícia às doenças etc.) peso, circunferência abdominal e resultados de exames de eletrocardiograma, colesterol, triglicerídeo e glicose de 346 pessoas.

Da pesquisa foram excluídas apenas as mulheres, porque a presença dos hormônios femininos na faixa até 45 anos de idade torna esse segmento menos sujeito a infartos, AVC e trombose. Os pesquisados também foram divididos nos grupos dos que tomam açaí diariamente (277) e dos que não tomam (69).

'Quem toma açaí tem HDL elevado e LDL normal. Quem não toma, tem LDL elevado e HDL normal', diz o pesquisador sobre o resultado das análises. As siglas representam os chamados bom (HDL) e mau colesterol (LDL).

Ele explica que situações de risco, como idade avançada, herança genética, fumo, diabetes, pressão alta, obesidade e sedentarismo causam lesões na parede da artéria, dando início a uma placa de LDL. Com o tempo, essa placa tende a aumentar, elevando o risco de se romper e provocar a coagulação do sangue.

DETALHAMENTO
O resultado desse conjunto de fatores é que as veias são obstruídas e não cumprem a função de levar o sangue ao cérebro, coração ou para o resto do corpo. As conseqüências variam de uma trombose nas pernas, por exemplo, ao popular derrame (AVC) e parada cardíaca, todas doenças que deixam seqüelas ou provocam a morte.

Porém, a pesquisa ainda não é conclusiva. Segundo Eduardo Costa, estão sendo identificados mais moradores de Igarapé-Miri que não consomem o açaí. Ele também pretende consolidar os dados com o detalhamento do consumo. Falta saber, por exemplo, se a pessoa toma somente o açaí ou o ingere com o acompanhamento de outros alimentos como charque, peixe, açúcar.

A pesquisa está sendo ampliada também para o Amapá. Mas, de imediato, ele diz que uma coisa é certa: o consumo do açaí como refeição diária, independente do acompanhamento, e uma vida mais saudável reduzem os riscos de problemas arteriais.

Conclusões da pesquisa
* O açaí possui 33 vezes mais substância antioxidante (antocianina) que a uva.

* A substância impede a oxidação da parede das artérias e a obstrução que avança para doenças como AVC, trombose e infarto.

* Quem toma açaí tem HDL (bom colesterol) elevado e LDL (mau colesterol) normal.

Pesquisador se prepara para debater os resultados em Harvard
Ainda este ano, o cardiologista Eduardo Costa apresentará os resultados já alcançados para a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da América. No futuro, a descoberta poderá se transformar em um produto farmacêutico para ajudar na prevenção de males que, atualmente, são tratados com pílulas de estastinas ou com cirurgias como a angioplastia.

O cardiologista se prepara para discutir os resultados da pesquisa 'Comportamento de risco de doença arteriosclerótica coronária em amazônidas' com a equipe de medicina de epidemiologia clínica de Harvard, em 17 de novembro deste ano. O objetivo é decidir o futuro das análises.

Costa afirma que este é o único estudo realizado no Brasil. Iniciado em 1999, ele utiliza a mesma metodologia empregada por cientistas da França e Grécia que, em 1990, publicaram trabalho que afirmou terem os franceses e gregos menos colesterol e, portanto, menos risco de problemas arteriais (arteriosclerose), porque consumiam vinho regularmente.

No caso do açaí, a pesquisa que antecedeu à de Costa data de 1998 e foi produzida por pesquisador belga da área de Engenharia Química da UFPA, mas apenas identificou a antocianina. Também revelou que possuía uma diferença em relação à uva porque um litro do fruto amazônico possui 33 vezes mais dessa substância que a uva.

Outro trabalho em Cotijuba, por exemplo, apontou que 68% dos moradores possuíam baixo risco de arteriosclerose e 32%, médio. Nenhum se enquadrou na faixa de alto risco. Lá, a população se alimentava basicamente de peixe. Assim, a conjunção das descobertas reforça a tese de que a alimentação pode salvar vidas.

'Se não tiver fatores de risco, tomar açaí e comer peixe, envelhecerá bem', aposta o cardiologista que não descarta a possibilidade da fruta se transformar em uma aliada no combate a doenças tão eficiente quanto as estastinas (substâncias que desobstruem as artérias) e as cirurgias no coração.

RISCOS
A possibilidade anima o médico diante dos números da Saúde no Brasil e no mundo. As arterioscleroses, aponta, são responsáveis por 46% das mortes registradas mundialmente e as lesões nas artérias que dão origem às obstruções e conseqüentes tromboses, AVC e infartos têm origem em fatores de risco associados aos maiores problemas da atualidade.

Dois fatores, idade (homens acima de 35 anos e mulheres após a menopausa), não são preveníveis. Outros sete são: fumo, diabetes, pressão alta, obesidade, sedentarismo, colesterol alto e estresse diário relacionado ao trabalho, ao estudo e outras situações que aumentam a adrenalina.

Costa observa que a diabetes, hoje, atinge 10% da humanidade. A pressão alta afeta quatro em cada dez pessoas, com o agravante de que não apresenta sintomas e, quando descoberta, não é tratada da forma correta. A obesidade também chega à casa de 80% das mulheres acima de 40 anos e a 70% dos homens que vivem na região Norte do Brasil.

Para completar o quadro, ele afirma que 75% da população paraense se alimenta basicamente de frango ao invés do peixe. 'Não andam, não medem colesterol e esquentam a cabeça por motivos banais, liberando adrenalina, lesionando a parede da artéria que forma a placa da LDL', comenta, com a ressalva de que, diante desse panorama, o consumo de açaí pode ajudar, mas o consumidor deve lembrar que a fruta substitui um almoço porque um litro do suco tem a mesma quantidade de proteínas que um prato de arroz com feijão e carne.

(www.ecodebate.com.br) matéria originalmente publicada pelo O Liberal, PA - 13/10/2006

segunda-feira, outubro 09, 2006

FORRÓ DAS QUATRO BOLAS

Era criança, mas lembro de muitas coisas do seringal onde morava com meus pais no seio da Amazônia boliviana. Dentre tantas lembranças, uma festa na casa de um compadre seringueiro é bem especial. Como a distância entre as casas na floresta sempre é longa, 15, 18, 20 quilômetros, percebe-se que diversão naquela região é coisa rara, muito rara. Para o caboclo da mata, entretanto, não existe lonjura quando o assunto é requebrar o esqueleto ou ralá o bucho num forró.

Logo cedo da manhã, depois do quebra jejum, o seringueiro começa a arrumar o “quiba” para a caminhada rumo à casa do compadre dono da festa. As crianças menores vão no jamaxi carregado pelo pai, as maiores encaram a pernada dos vários quilômetros. Para a viagem o seringueiro não esquece da espingarda, uma faca peixeira, uma lata de farofa e um litro de álcool puro. A bebida é para aquecer a festa. No varadouro, ele dita a velocidade do passo seguido pela mulher. A viagem é sempre em silêncio.

Próximo à casa da festa o seringueiro dá um tiro de espingarda para anunciar que está chegando. Quando a noite se aproxima os homens, sempre separados das mulheres, começam o ritual de beber álcool para começar o forrobodó. As mulheres usam vestidos de chita, se enfeitam como podem para alegrar o marido e aos amigos que as esperam para a dança. Em muitas festas há mais homens do que mulheres por causa dos solteiros, mas isso não é problema.

Com o início da festa os homens entregam as facas para o dono da casa. Precaução e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Se por um lado as mulheres se preocupam com a comida que será servida, os homens esperam a noite chegar para fazer o famoso “barreiro”, local onde se esconde a bebida nos arredores da casa. Geralmente álcool da tampa azul misturado com mel de abelha, batizado de “melado”, é a principal bebida dos seringueiros. Depois do jantar o toca-disco dá o tom do furdunço.

Geralmente em festas de seringal, poucos são os discos disponíveis de forró. As mulheres não podem recusar dançar com outro homem, isto é, aplicar a famosa “canelada”. Essa recusa já resultou em confusão porque o homem se sente rejeitado. Por isso que as armas são entregues ao dono da casa e escondidas. Em algumas festas duas mulheres dançam com mais de dez homens.

Pela madrugada, com o cansaço das mulheres e os homens embriagados, começa o chamado forró das quatro bolas. Embalados pelo álcool, homem dança com homem pelo resto da noite. Quando a bebida acaba eles apelam para tudo que contém álcool como desodorantes e perfumes. Dança de homem com homem no seringal não é coisa do outro mundo. É uma forma de extravasar o sentimento de solidão a que estão submetidos no inferno da selva amazônica.

sexta-feira, outubro 06, 2006

A VERDADE ESTÁ NA CARA, MAS NÃO SE IMPÕE

O que foi que nos aconteceu? No Brasil, estamos diante de acontecimentos inexplicáveis, ou melhor, "explicáveis" demais. Toda a verdade já foi descoberta, todos os crimes provados, todas as mentiras percebidas. Tudo já aconteceu e nada acontece. Os culpados estão catalogados, fichados, e nada rola. A verdade está na cara, mas a verdade não se impõe. Isto é uma situação inédita na História brasileira.

Claro que a mentira sempre foi a base do sistema político, infiltrada no labirinto das oligarquias, claro que não esquecemos a supressão, a proibição da verdade durante a ditadura, mas nunca a verdade foi tão límpida à nossa frente e, no entanto, tão inútil, impotente, desfigurada.

Os fatos reais: com a eleição de Lula, uma quadrilha se enfiou no governo e desviou bilhões de dinheiro público para tomar o Estado e ficar no poder 20 anos. Os culpados são todos conhecidos, tudo está decifrado, os cheques assinados, as contas no estrangeiro, os tapes, as provas irrefutáveis, mas o governo psicopata de Lula nega e ignora tudo.

Questionado ou flagrado, o psicopata não se responsabiliza por suas ações. Sempre se acha inocente ou vítima do mundo, do qual tem de se vingar. O outro não existe para ele e não sente nem remorso nem vergonha do que faz. Mente compulsivamente, acreditando na própria mentira, para conseguir poder.

Este governo é psicopata!!! Seus membros riem da verdade, viram-lhe as costas, passam-lhe a mão nas nádegas. A verdade se encolhe, humilhada, num canto. E o pior é que o Lula, amparado em sua imagem de "povo", consegue transformar a Razão em vilã, as provas contra ele em acusações "falsas", sua condição de cúmplice e comandante em "vítima".

E a população ignorante engole tudo. Como é possível isso? Simples: o Judiciário paralítico entoca todos os crimes na fortaleza da lentidão e da impunidade. Só daqui a dois anos serão julgados os indiciados - nos comunica o STF. Os delitos são esquecidos, empacotados, prescrevem. A Lei protege os crimes e regulamenta a própria desmoralização.

Jornalistas e formadores de opinião sentem-se inúteis, pois a indignação ficou supérflua. O que dizemos não se escreve, o que escrevemos não se finca, tudo quebra diante do poder da mentira desse governo.

Sei que este é um artigo óbvio, repetitivo, inútil, mas tem de ser escrito... Está havendo uma desmoralização do pensamento. Deprimo-me: "Denunciar para quê, se indignar com quê? Fazer o quê?". A existência dessa estirpe de mentirosos está dissolvendo a nossa língua. Este neocinismo está a desmoralizar as palavras, os raciocínios. A língua portuguesa, os textos nos jornais, nos blogs, na TV, rádio, tudo fica ridículo diante da ditadura do lulo-petismo.

A cada cassado perdoado, a cada negação do óbvio, a cada testemunha, muda, aumenta a sensação de que as idéias não correspondem mais aos fatos! Pior: que os fatos não são nada - só valem as versões, as manipulações. No último ano, tivemos um único momento de verdade, louca, operística, grotesca, mas maravilhosa, quando o Roberto Jefferson abriu a cortina do país e deixou-nos ver os intestinos de nossa política.

Depois surgiram dois grandes documentos históricos: o relatório da CPI dos Correios e o parecer do procurador-geral da República. São verdades cristalinas, com sol a pino. E, no entanto, chegam a ter um sabor quase de "gafe". Lulo-petistas clamam: "Como é que a Procuradoria Geral, nomeada pelo Lula, tem o desplante de ser tão clara! Como que o Osmar Serraglio pode ser tão explícito, e como o Delcídio Amaral não mentiu em nome do PT? Como ousaram ser honestos?”.

Sempre que a verdade eclode, reagem. Quando um juiz condena rápido, é chamado de exibicionista". Quando apareceu aquela grana toda no Maranhão (lembram, filhinhos?), a família Sarney reagiu ofendida com a falta de "finesse" do governo de FH, que não teve a delicadeza de avisar que a polícia estava chegando...

Mas agora é diferente. As palavras estão sendo esvaziadas de sentido. Assim como o stalinismo apagava fotos, reescrevia textos para coonestar seus crimes, o governo do Lula está criando uma língua nova, uma novi-língua empobrecedora da ciência política, uma língua esquemática, dualista, maniqueísta, nos preparando para o futuro político simplista que está se consolidando no horizonte.

Toda a complexidade rica do país será transformada em uma massa de palavras de ordem, de preconceitos ideológicos movidos a dualismos e oposições, como tendem a fazer o populismo e o simplismo.

Lula será eleito por uma oposição mecânica entre ricos e pobres, dividindo o país em "a favor" do povo e "contra", recauchutando significados que não dão mais conta da circularidade do mundo atual. Teremos o "sim" e o "não", teremos a depressão da razão de um lado e a psicopatia política de outro, teremos a volta da oposição mundo x Brasil, nacional x internacional. A esquematização dos conceitos, o empobrecimento da linguagem visa à formação de um novo ethos político no país, que favoreça o voluntarismo e legitime o governo de um Lula 2 e um Garotinho depois.

Assim como vivemos (por sorte...) há três anos sem governo algum, apenas vogando ao vento da bonança financeira mundial, só espero que a consolidação da economia brasileira resista ao cerco político-ideológico de dogmas boçais e impeça a desconstrução antidemocrática. As coisas são mais democráticas que os homens.

Alguns otimistas dizem: "Não... este maremoto de mentiras nos dará uma fome de verdades!". Não creio. Vamos ficar viciados na mentira corrente, vamos falar por antônimos. Ficaremos mais cínicos, mais egoístas, mais burros. O Lula reeleito será a prova de que os delitos compensaram. A mentira será verdade, e a novi-língua estará consagrada.

É amigos. Este texto deve se transformar na maior corrente que a internet já viu. Talvez assim, possamos nós, que não somos burros não, mais uma vez salvar o Brasil. Passe para quantas pessoas você puder. Se você é brasileiro e gosta de seu País, faça algo por ele. Essa é a hora.

Arnaldo Jabor

quarta-feira, outubro 04, 2006

A MORTE PEDE CARONA AÉREA

A noite do dia 30 de agosto de 2002 jamais será esquecida para muitos acreanos. Ainda tenho pesadelos sobre a queda do avião Embraer EMB-120 Brasília da Rico Linhas Aéreas que matou 23 pessoas quando se preparava para pousar no aeroporto de Rio Branco, no início de uma fatídica noite de chuva torrencial e ventos fortes. Naquela noite de sexta-feira, eu tinha a missão de fechar a capa do jornal A Gazeta, onde trabalhava, e ir para casa descansar. Mas não foi isso que aconteceu. Por volta das 18:30 o pesadelo começou. Até hoje carrego na memória imagens, sons e cheiro, da maior tragédia em que trabalhei como repórter. Naquela noite alguns amigos foram embora sem se despedir.

Embora queira esquecer o passado, o acidente com o avião da Gol que matou 155 pessoas na sexta-feira (29/09) na Amazônia, as imagens do horror que presenciei no Acre vieram à tona. As recordações ainda são nítidas. À época estava acontecendo uma feira agropecuária em Rio Branco, mas as atividades foram canceladas. Parte das vítimas era de empresários e pecuaristas que participariam do evento.

De acordo o Departamento de Aviação Civil (DAC), a aeronave foi atingida por uma forte rajada de vento com velocidade cerca de 150 quilômetros por hora quando se preparava para pousar no aeroporto da capital. O vôo saiu de Cruzeiro do Sul e fez uma escala em Tarauacá, a 330 quilômetros de Rio Branco. Caiu a cerca de 10 km da cabeceira da pista. Não houve explosão.

Desespero e dor dos familiares
Depois de checar as informações via telefone, acionei um repórter de polícia para ir ao local do acidente. Sai da redação do jornal para fotografar a chegada das vítimas ao Pronto Socorro. Por volta das oito horas da noite, a polícia fez um cordão de isolamento nas proximidades do hospital, para que o Corpo de Bombeiros não tivesse problema de trânsito na chegada com as vítimas do acidente.

Quando as vítimas começaram a chegar ninguém sabia quem estava vivo e quem estava morto. Muitos corpos chegavam em carrocerias de caminhonetes banhados em sangue. Outros, mutilados, eram levados diretos para o Instituto Médico Legal (IML). Próximo da porta do hospital, correria, gritos e desmaios de pessoas que buscavam informações sobre parentes e amigos. A noite parecia não ter fim.

No IML uma multidão esperava a chegada dos corpos. A então superintendente do Ibama, Idelcleide Rodrigues, estava inconsolável sob a chuva que caia sem parar. Ela perdeu o pai, o deputado federal Idelfonso Cordeiro (PSDB-AC), e a mãe Arlete. O parlamentar chegou a ser resgatado com vida, mas morreu pouco antes de chegar ao hospital.

Os carros do Corpo de Bombeiros não conseguiram entrar no ramal por causa das más condições da estrada. O acesso só era possível com carros com tração nas quatro rodas e mesmo assim muitos ficaram atolados. Apesar do difícil acesso, familiares percorreram a pé os 4,5 quilômetros que separam a BR-364 do local da queda, na tentativa de prestar alguma ajuda e obter melhores informações. Homens do 4º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS) formaram um cordão de isolamento para evitar a presença de curiosos.

Na madrugada do dia 31, quando todos os corpos haviam sido resgatados, estava eu dentro do IML olhando os corpos dos amigos mortos, lembrei que era meu aniversário. Estranhamente, comemorei a data derramando lágrimas de adeus.

FOTOS PITTER LUCENA