PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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terça-feira, outubro 24, 2006

SOBRE CAXINGUBA E VEADOS

Desde criança sempre escuto estórias e mais estórias sobre a caxinguba, ficus insipida Willdenow var. insípida, um fruto muito apreciado por veados, Cervus elaphus ervidae, animais em abundância na selva amazônica. A caxinguba é também conhecida por guajinguva e lombrigueira. Em Xapuri, cidade distante 180 quilômetros da capital, antes de ser conhecida como umbigo do mundo em meio ambiente, tinha o doce apelido de terra da caxinguba. Isso, claro, Xapuri era detentora da fama por ser rica na produção da fruta que veado gosta tanto que lambe os beiços.

Maldade. Pura maldade das más línguas. Xapuri era chamada também de princesinha do Acre até a década de 90. De Xapuri saíram grandes homens como Adib Jatene, Armando Nogueira, Jarbas Passarinho, Chico Mendes, Nazaré Pereira, José Vasconcelos e tantos outros. Este que vos escreve também nasceu naquela cidade onde os linguarudos dizem que os moradores andam de costas. Cidade histórica do Acre, Xapuri tem São Sebastião como padroeiro.

As estórias sobre Xapuri e os veados são muitas. Os veados que me refiro neste parágrafo são aqueles homens, como dizia o saudoso jornalista Zé Leite, de sabor atrás. Os gozadores de plantão afirmam que pela manhã, o entregador de pão anuncia a venda do produto de forma diferente. Em vez de gritar pelas ruas da cidade “olha o pão, olha o pão”, soltam os pulmões gritando “olha a rosca, olha a rosca”. Claro que essa missiva continua sendo brincadeira para mexer com o brio dos machões de Xapuri.

Certa vez ouvir uma estória interessante. Um vendedor de maçãs decidiu viajar à Xapuri para vender um caminhão carregado do produto. Ele ficou sabendo que o povo da cidade não conhecia a fruta e pensou que iria ganhar um bom dinheiro. Ledo engano. Passou uma semana anunciando as maçãs num carro de som e não vendeu uma sequer. Depois de conversar com algumas pessoas no mercado municipal, foi informado que o povo gostava de uma frutinha chamada de caxinguba.

O vendedor não perdeu tempo. Correu para o caminhão e começou a gritar “caxinguba de Rio Branco, caxinguba de Rio Branco”. Foi uma correria infernal. Todo mundo queria experimentar a fruta de outra cidade. Filas foram formadas e até a polícia foi chamada para não haver confusão. O experto vendedor, dizem, vendeu todo o estoque de maçã como se fosse caxinguba, em menos de uma hora. Refeito do susto e do prejuízo que iria ter, voltou voando para São Paulo para nunca mais voltar a Xapuri, uma cidade de gente que tem o estranho hábito de saborear uma fruta adorada por veados.

Em agosto passado tive o prazer de conhecer o coração da Reserva Chico Mendes, em Xapuri. Conversando com os seringueiros da região disse que queria conhecer a tal caxinguba, pedido que resultou em risos a boca pequena. Confesso que nunca havia visto a tal fruta, mesmo tendo nascido no maior reduto de comida de veado. Para encurtar a conversa, trouxe quase um quilo de caxinguba para os amigos de Brasília. Eles gostaram.

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