PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil
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segunda-feira, janeiro 18, 2010

PESCARIA DA TRAIRAGEM

Fui pescar com o amigo Nonato de Souza, gente da melhor qualidade, papo bom etc. Nonato é jornalista daqueles de conversa mole, se não tiver cuidado fala o dia todo contando causos. Fomos à colônia do pai de um outro amigo, Salomão Matos, da TV Globo no Acre. Pegar peixe qualquer um pega no mercado, mas num açude é uma outra história.

Chegamos lá fomos arrancar minhocas debaixo de uma mangueira. Minhocas bonitas todas reboculosas, cheias de charme, um convite para uma boa pesca. Enchemos uma lata das melhores e maiores petiscos de peixe. Caminhamos em direção ao açude pelo campo cheio de bois e vacas. A princípio tivemos medo dos bichos soltos ao nosso redor, mas fomos no peito e na raça prontos para uma boa corrida em direção a cerca mais próxima.

Nonato não bebe água que passarinho não bebe. Eu, por outro lado, levei uma caixinha de gelada porque ninguém é de ferro, principalmente para amenizar as picadas de mutucas e carapanãs na beira do açude. Botamos as minhocas n`água e vamos esperar alguém da água beliscar. Nada, nada. Nós dois iguais bocós à espera de um peixe com fome. A tarde se aproximava e nada de peixe.

Meu amigo como bom cunversador puxou uma “lera”, um papo até legal. Ele disse cumpadi “vamu falar mal da vida dos otros”. Fiquei mei abestaiado por uns momentos, mas como os pexes tavam longe da nossa isca aceitei a proposta. Joguei o anzol na água “duaçude” e Nonato vociferou: tu parece qui num sabe pescá! De repente ele pegou uma isca e rebolou longe, no mei do açude. Foi puxando devagarim quando sentiu a fisgada e alarmou “é dos grandes cumpadi”. Quando puxou era uma piaba fraquinha, fraquinha. Mas foi uma festa.

Diante da piaba Nonato sem eira nem beira disse: isso parece alguém lá do jornal. Ri a bessa e falei homi peloamordeDeus vamos pescar! Que nada, Nonato queria mesmo era falar dos plobemas da vida dos outros. A pescaria começou a tomar outro rumo. Ele deu a idéia de começar a falagem pelo o alfabeto. Explico: na letra “A” fomos lembrando os amigos e pau. A criatura em questão tava no sal, no cacete, santo não era de jeito nenhum.

Marrapaiz foi só falar em traíra que tudo mudou. Meu anzol deu uma beliscada danada que pensei ser um tubarão. Dei a mussica e arrastei a bicha pro barranco. Nonato que não tem nada de besta, falou em nome de outro colega e outra traíra foi fisgada. Daí em diante a trairagem foi grande, falando os nomes e as traíras saindo da água. Pra encurtar a conversa em menos de uma hora pegamos mais de 20 desses peixes que o povo fala mal, e uma cinco piabas.

Meu cumpadi feliz igual pinto em beira de cerca disse que tava na hora da gente ir embora, o dia tava acabando e a viagem de volta era um tanto grande, além deste pescador ter ingerido uma caixinha de geladas. A pescaria, sem dúvida, proveitosa até demais. Arrumamos o quiba, sem as latas secas, e preparamos a volta para casa. Eu dirigindo e, ele, dizendo “vamos dividir os peixes”, que para mim aquela tarde não tinha preço.

Já perto de casa falei: “cumpadi a pescaria foi porreta mas fico com as piabas e tu com as traíras porque não gosto desta misturança com esse tipo de ser vivo, seja da terra ou da água. Nonato arregalou os olhos e começou a separar o pescado, quando lhe falei: “meu amigo peixe é peixe, traíra é traíra e sempre será traíra. Agora temos amigos que também são traíras e, quando se juntam, vira uma grande trairagem.

Pitter Lucena é jornalista e mestrando em Comunicação no MERCOSUL, em Brasília.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

PEDOFILIA NO ACRE: ATÉ QUANDO?

Existem coisas que ninguém entende. Uma delas é desse advogado flagrado com uma menor praticando sexo dentro de um motel e que a justiça lhe ofereceu uma pena sociável de cinco anos de reclusão em regime semi-aberto. João Figueiredo Guimarães, 63 anos, foi preso com a boca na botija praticando crime sexual com uma menor de 13 anos de idade. A data: 13 de novembro de 2009. Além dessa criança, o advogado havia se saciado em suas taras sexuais com a irmã mais velha da menina. Uma pergunta que não quer calar: quantas outras indefesas crianças foram vítimas desse monstro advogado?

Mas não é somente esse advogado que tem culpa no cartório dos homens e de Deus. No Acre, em todos os municípios há prostituição infantil mas a justiça não quer ver. Não quer ver porque não lhe interessa colocar membros da corte, amigos, em saias justas ou mesmo prisão. Como seria divino que essa última palavra do parágrafo fosse lei, se justiça existisse para os calhordas e canalhas que se escondem atrás da capa escura dessa própria lei.

O fato da prisão desse advogado não é nada. A rotina do crime sexual contra crianças continua em alta escala na periferia de Rio Branco e demais municípios do Acre. Quem se importa com isso? São crianças que, segundo o juízo de muitos, fazem sexo por fazer. O dinheiro que recebem compra um batom, um sapato. Mas será que isso mesmo? Isso está certo? Esses monstros sabem muito bem, muitos têm filhas, contribuem para a infelicidade do resto da vida de uma criança.

Uma criança em formação corporal e intelectual não tem discernimento de vida. Se é pobre e alguém oferece alguma coisa, ela, na sua miséria, concordará num mimo. Quer deixar de ser um peso na família, geralmente com outros tantos irmãos, vivendo num ambiente familiar degenerado pela falta do mínimo conforto para ser gente. Daí surge a necessidade, ou não, de pensar diferente. Pela falta da família busca em outras vias uma vida melhor. Mas o que fazer se a situação está rumo ao caminho do abismo?A resposta está na cara: falta de políticas sociais do governo para tirar jovens do ostracismo que se encontram hoje. Até quando vamos viver nessa história sem resultados?

Diante desse contexto no texto, a CPI da Assembléia Legislativa do Acre (Aleac) não passou de uma palhaçada, uma coisa tipo assim para boi dormir. Ou melhor, para mães vítimas desse crime de gente grande, se conforme a digerir a dor da destruição da família. De uma filha ou um filho perdido nas mãos dos pedófilos de plantão.

A CPI da Aleac não disse para que veio, não disse nada e não vai fazer nada. Por quê? Vou dizer: em mais dos 50% processos que estão sob segredo de justiça eu tive acesso. Sei quem são os denunciados e, portanto, nada vai sair do lugar. A CPI deve e tem o direito de exigir que o judiciário mande todos os processos de pessoas denunciadas sobre pedofilia no Acre para seu conhecimento. Se não a CPI não valerá nada, aliás, até agora demonstrou não fazer nada.

Diante de tudo isso nos resta a crer na impunidade com a complacência da justiça. Essa justiça que deveria nos salvaguardar das injustiças. Cadê a sociedade que há décadas passadas exigia um mundo melhor? Calou-se? No mais estou aflito por falta de justiça. Somente justiça exijo nesse mundo sonhador e, que talvez, algum dia, meu sonho se torne realidade.

* Pitter Lucena é jornalista e mestrando em Comunicação no MERCOSUL, em Brasília.

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