PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil
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sexta-feira, julho 24, 2009

SOPA DE LETRAS

Parado que nem água de açude. Assim estou. De férias do trabalho sem fazer nada. As idéias são muitas, mas a vontade, com o freio de mão puxado, não saio do canto. A intenção inicial era tomar um café em Paris e depois andar de bicicleta em Amsterdam. Não deu certo. O carro quebrou, pifou, ficou igual meu estado de espírito, estacionado em pensamentos vãos. Fazer o quê? Já que está assim vou deixar o filme correr em câmera lenta, sem vontade de partir, menos ainda de chegar.

Quero, agora, escorar meu eu num muro qualquer e ver o tempo passar, lentamente, sem pressa, ver alegorias descerem do arco-íris em preto e branco. Em pequenos devaneios em penumbra, procuro algo que me chame a atenção além dos pensamentos febris sobre tantas teorias. Nada me agrada, apenas observo centelhas iluminadas passarem ao largo da minha míope visão. Passam rápidas sem nenhuma informação de lucidez, quem sabe ainda por minha reclusão de entendimento. Não importa. Estou hibernando para o sol da vida.

Assim estou, enclausurado dentro de mim mesmo sem permissão de olhar a janela do ontem, apenas espiar pequenas fendas do hoje, sem medo do clarão do amanhã. Quero isso por questões ainda não decifradas pelo meu subconsciente para o bem estar da alma, que diferente de milhões de seres humanos, anda leve e solta. É bom saber que os loucos, no extremo de suas loucuras, se acham lúcidos e serenos. Como seria difícil se a loucura não existisse, a vida na teria graça e a humanidade não teria conceitos do certo e do errado.

Nessa preguiça mental as horas passam lentamente como nuvens em dias ensolarados. Outro dia fui abastecer o carro o frentista disse que apertasse com força as teclas da maquininha do cartão de crédito. Puta que pariu. Falei para ele que não gostaria de fazer nenhum esforço, estava em fase de contenção de energia. Num processo de construção e desconstrução de mim mesmo e, assim, como poderia pensar em números e teclas, às 10 horas da madrugada? Não teve jeito, joguei fora milhões de neurônios na árdua arte de raciocinar para lembrar a porra da senha. Que merda.

Para fazer este texto outro desconforto generalizado. Primeiro para encontrar as letras, depois colocá-las em ordem e, por último, colocar um pensamento em construção, coisa que literalmente, estava em decomposição mental. Mas como não tem jeito para se livrar do ofício de escrever, situação que alimenta minha alma, eis que surge essa sopa de letras que me tirou do jejum de duas semanas. Agora, se me permitem, vou voltar para o fundo da rede que me espera ao meu lado e, depois, outro esforço para tomar uma cachacinha enquanto o tempo passa. Não tenho pressa vou bem devagarzinho para não cansar. Aliás, cansei só em pensar em ficar cansado.

quinta-feira, julho 16, 2009

COLETIVO BRASIL

Duas vezes por semana ando de ônibus em Brasília porque minha filha utiliza o carro na aula da faculdade no período noturno. O meu trajeto, claro, do trabalho para casa, distante 40 quilômetros. Nesta terça-feira foi um dia daqueles, digo daqueles de pagar pecados e outras cositas mas. O coletivo que sempre pego passa as cinco da tarde, mas na terça resolveu não aparecer. Fiquei esperando no ponto, observando as pessoas como elas conversam, reclamam, cochicham, se maldizem, esperneiam, e por ai vai. E, nada do meu ônibus expresso que passa perto da minha casa. Acho que quebrou, pifou, ou coisa assim. Não apareceu na hora marcada e a situação ficou ruim.

Peguei o primeiro que apareceu, já lotado, para não ficar sofrendo ao sol das cinco da tarde no ponto de ônibus do Senado Federal. Queria chegar em casa e, na ansiedade, entrei e pensei minha casa me espera. Que nada, o maldito começou a rodar por caminhos diferentes do meu itinerário, parando aqui, ali, acolá e tome eu em pé com meus problemas de coluna. A idade faz isso com a gente, mais cedo ou mais tarde ela bate à sua porta e já era. Sacoleja de um lado, de outro, muita gente vira sardinha enlatada, mas o caminho continua. Na primeira metade do trajeto sempre entrando gente e tome a se avolumar no rabo do coletivo onde estava este abestado.

Fiquei em pé próximo à porta de saída. De um lado uma senhora ouvindo música no celular, do outro uma mulher baixinha, menor do que eu, cara de não boas amizades que pelo semblante dizia tudo sobre o sofrimento de estar ali, naquele imprensado, não reclamava, não dizia nada. Quando você está nessa situação, a primeira coisa que deve fazer é não tirar o pé do chão, se tirar já era, o lugar que era seu fora ocupado por alguém próximo de você e bau bau cachimbo de pau. Virou Saci Pererê.

Continuo segurando a barra. Na minha frente, sentada, uma mulher que se fazia dormir para não oferecer a cadeira para uma criança ou uma pessoa idosa. Tava na dela. Tive a infeliz idéia de mastigar um chiclete, pensando em distração. Que nada. Depois de 50 minutos a borracha na boca e as dores na coluna eram infernais. Que fazer? Não há nada que seja proveitoso nesse momento. Para aqui, desce ali e o sofrimento aumentando.

Mas é nesse inferno passageiro que vemos um mundo diferente. No para e desce e para e sobre um Brasil se revela diante de si. São cearenses, acreanos, maranhenses, piauienses, de todas as raças e credos ocupando um mesmo lugar. Que coisa linda observar as conversas, os sotaques, os olhares, as delicadezas, as rudezas, roupas, sapatos, cheiros e cores. É num coletivo lotado, com gente se esfregando nas suas costas, que nota-se um mundo novo e velho ao mesmo tempo. Velho para as pessoas que vivem isso todos os dias, novo para quem entra na brasilização nossa de cada dia.

Nesse vai e vem da freada do ônibus que se ver a beleza das pessoas trabalhadoras, dos sonhos de cada uma delas, da pureza de pensamento que ao chegar em casa busca sentir a alegria dos filhos, da família e de ter vivido mais um dia. Na cidade grande o maior prêmio é retornar ao lar são e salvo na certeza de um amanhã melhor. Por essas razões acredito que cada nascer do sol o brasileiro é mais brasileiro porque não desiste nunca.

Depois de mais de uma hora, dores insuportáveis, mas imaginando um Brasil mais bonito desço no meu destino e ando mais um quilômetro para chegar em casa, antes, porém, paro num boteco para uma boa cachaça, porque ninguém é de ferro.

segunda-feira, julho 13, 2009

VALE A PENA

Não sou quem atira,
Pois, não é desejo meu ferir
Sou o ativado,
O que quer ser abatido,
Consumido em vida.

Sou o tempo
Que o tempo consome
No existir das coisas.
Uma existência
Para além do horizonte.

Sou quem sabe,
Um entre tantos,
Embalados no viver.
Talvez uma forma
De expressar meu ser.

Sou e estou fazendo história
Mesmo num mundo pequeno
Posso mudar um móvel de lugar.
Posso mudar o tempo com o presente
Em busca de um futuro. E já é passado.

Cícero Fernandes

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