PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil
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quarta-feira, dezembro 30, 2009

NUNCA É TARDE PARA AMAR

Quando me vi caído pensei que a vida havia me abandonado. Vinha de uma luta de fracassos em cima de fracassos. Estava num mundo sombrio e perigoso, andando pelos bares da vida em busca de solução que nunca encontrava, estava além do meu estar sofrido, nauseabundo de espírito, pobre em mais alto grau em visar o espelho da alma. Por onde caminhava pedras e espinhos me acompanhavam como se fossem meu destino de ser. Na escuridão apenas ruídos tenebrosos me acalentavam para continuar vivendo no labirinto que havia transformado a minha forma de viver.

Estava eu sem forças levado pelo mundo fácil e, ao mesmo tempo, difícil. Não vislumbrava luz, apenas trevas e o mundo mundano ao qual estava acostumado desde a adolescência. Nada fazia sentido, não havia caminho, só havia o nada e, por esse nada naveguei por longos anos. Brinquei com a vida ao extremo, fui ao céu que não conhecia e ao inferno que me era peculiar. Nunca fiz reclamações sobre o fardo que carregava por minha própria culpa, uma culpa até certo ponto, não minha. Viver era o suficiente, mas nunca como indigente.

Não havia razão apenas sentimentos apodrecidos atormentavam meu estado de espírito. Ao caminhar por estradas erradas minhas pegadas desapareciam na rala poeira da vida, como se não existissem, não fosse nada além de um ser vivo rastejando sobre a terra. Da pobreza e da fome sou profundo conhecedor, assim também como das sombras do mal que caminhavam junto a mim. Certa vez brinquei de roleta-russa com uns amigos malucos que afirmavam que, para eles, a vida também não tinha sentido. No segundo estalar do gatilho, o primeiro havia sido o meu, desistiram da brincadeira.

Eis que depois de caminhar por muitos anos em direção ao nada surge uma esperança para sair do buraco da tristeza e da solidão: uma mulher. Não uma mulher qualquer igual a tantas que fizeram parte do meu calabouço particular, da minha solidão indesejada, das minhas loucuras insanas para suprir um pouco de suplício de vida. Surge uma mulher que era diferente de todas que havia conhecido, era um facho de luz, uma estrela que aparecia diante dos meus olhos como uma deusa para me salvar.

Assim como no Inferno de Dante, sentia-me fraco e com vertigens, não sabia a quem pedir socorro, quando vi minha Beatriz que de longe em uma porta me chamava. Dirigi-me lentamente em sua direção e ela me disse: “Vamos, vou tirá-lo daqui.” Em meus perdidos pensamentos perguntei-lhe como alguém suportava tanto tempo aquele inferno e ela respondeu que não era mais necessário, que eu já havia passado por aquele estágio e não seria mais afetado por aquele ambiente. Ela trouxe-me à vida, longe do inferno que vivia.

Ela trouxe-me à primeira vista a paz, esperança e vida. Com todos os problemas – cada um tem os seus -, fui buscar nessa mulher o último fio de lucidez que ainda não havia acabado em minha sensatez. Não foi fácil mas insistir num relacionamento como se fosse o derradeiro nessa passagem terrena. Num grande esforço conseguir sua confiança, mesmo ela achando que fosse doido. Em 2010 fazem 18 anos que estamos juntos para a alegria do meu viver. Essa mulher fantástica que mudou minha vida chama-se Sonia Vogth, a razão do meu viver, o sentimento feliz do meu ser.

Sonia me ensinou a ver com outros olhos o que era fácil. Acendeu as lamparinas do meu espírito e trouxe minha alma perdida de volta. Nesses 18 anos venho conhecendo a cada dia um mundo diferente, uma história diferente, a minha transformação latente. Ninguém é perfeito, digo a ela, mas pretendo o ser um dia. Somos ainda uma pedra preciosa que precisa ser dilapidada a cada minuto e, acredito nisso para que o nosso mundo seja o mais belo possível, na medida do possível.

Com Sonia comecei a ver tudo mais diferente, mais belo. Converso com as plantas, olho melhor as estrelas, escuto melhor o som do vento, gosto mais da chuva e do orvalho no amanhecer do novo dia. Com ela, mesmo com os meus defeitos, acredito que um mundo melhor seja possível. Com ela acredito nas coisas mais lindas do amor, no amor que sinto na sua forma de olhar, na ressurreição da vida e em Deus. Depois dessa longa jornada juntos só resta te confidenciar uma coisa que você sempre soube mas quero que todos saibam: TE AMO.

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segunda-feira, dezembro 21, 2009

CHICO DA SILVA, O ACREANO PRIMITIVO

Demorou mas chegou. Depois de muito tempo adquiri um quadro do maior artista primitivista do Brasil: Chico da Silva, um presente do artista plástico Jorge Rivasplata. Francisco Domingos da Silva nasceu no Acre, e aos 10 anos foi para Pirambu, bairro pobre de Fortaleza.

Perdeu o pai logo depois passando a fazer todos os tipos de serviços - consertando sapato, fogão, cobrindo guarda chuva etc. Em suas muitas andanças pela cidade, Chico às vezes parava em frente a um muro branco e fazia desenhos com carvão ou tijolo, colorindo-os com folhas. Foram estes desenhos, na Praia Formosa, que chamaram a atenção do crítico de arte e pintor Jean-Pierre Chabloz que passou a procurá-lo e foi seu primeiro incentivador.

Chabloz ensinou Chico da Silva a pintar com guache e passou a dar o material para que ele pintasse, além de comprar todas as suas telas - comprou mais de 40. Foi por intermédio dele que Chico da Silva expôs, pela primeira vez, no III Salão Cearense de pintura e no Salão de Abril de 1943, em Fortaleza. Em 45, junto com outros artistas cearenses, expõe na Galeria Askanasy e, durante a década de 50, suas obras vão ser vistas em várias galerias da Europa, conseqüência de um artigo a seu respeito no Cahiers d’Art, conceituada publicação francesa, que o considerou um pintor genuinamente primitivo.

O maior artista primitivo do Brasil, que imprimia nas suas pinturas toda a mitologia da região amazônica realizava através de uma expressão quase surrealista, e que está representado nas maiores coleções do mundo - como a da Rainha da Inglaterra - nunca teve suporte para estruturar sua carreira, apenas incentivos isolados, que o jogou em um meio desconhecido que o deslumbrou e, dentro do qual, sem orientação, acabou por perder-se.

Com informações de Cassandra de Castro Assis Gonçalves, bolsista da FAPESP e da Dra. Daisy Peccinini de Alvarado, da USP.

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terça-feira, dezembro 15, 2009

ACRE TEM UM DOS PIORES ÍNDICES DE DESENVOLVIMENTO DO PAÍS

A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), concluiu em junho de 2009, pesquisa que desenhou um mapa do desenvolvimento de estados e capitais brasileiras. Os dados foram cruzados com informações fornecidas nos últimos três anos, pelos os Ministérios da Educação, da Saúde e do Trabalho, dados oficiais. A pesquisa publicada anualmente, serve para ajudar a acompanhar a aplicação de políticas públicas e os impactos de desenvolvimento humano, econômico e social.

A FIRJAN, ao divulgar o relatório afirma que a metodologia empregada é pioneira e única. "O Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal o IFDM distingue-se por ter periodicidade anual, recorte municipal e abrangência nacional. A leitura dos resultados - por áreas de desenvolvimento ou do índice final - é bastante simples, variando entre 0 e 1, sendo quanto mais próximo de 1, maior o nível de desenvolvimento da localidade. Neste sentido, estipularam-se as seguintes classificações: municípios com IFDM entre 0 e 0,4 são considerados de baixo estágio de desenvolvimento; entre 0,4 e 0,6, de desenvolvimento regular; entre 0,6 e 0,8, de desenvolvimento moderado; e entre 0,8 e 1,0, de alto desenvolvimento."

No quesito geração de emprego, foi pesquisado o comportamento da economia formal, o estoque de emprego e o salário médio do trabalhador; para educação utilizaram variáveis como: taxa de matrícula na educação infantil, taxa de abandono, taxa de distorção idade série, percentual de docentes com ensino superior, média de horas aula diárias e os resultados do o IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica; na saúde foram estudados os números de: consultas pré-natal, óbitos por causas mal definidas, óbitos infantis por causas evitáveis.

O Acre, de acordo com os dados da FIRJAN, ficou em vigésimo lugar no ranking que mede a qualidade de vida no país, se comparado com os outros 27 estados. No topo da lista aparecem estados que conseguiram diminuir as desigualdade social: São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais, e outros. O IFDM dos acreanos não passou de: 0,5. O número é considerado baixo, mas, em estágio de desenvolvimento regular.

Quando é feita leitura das capitais em que os governos mais investiram no bem estar do povo, a revelação é assustadora. Rio Branco, ficou em penúltimo lugar, alcançou média 0,7. Ou seja: tem um crescimento regular e moderado. O cenário é mais assustador quando é feita a comparação com períodos anteriores, e se descobre que o Acre não diminuiu nem em 5% as desigualdades sociais, num período dois anos. No mesmo relatório é possível acompanhar como se comportou cada cidade do Estado, no levantamento.

Os números de acordo com a leitura feita pela FIRJAN, indicam que as cidades acreanas estão ainda bem longe de se transformarem no "melhor lugar da Amazônia para se viver até 2010", como prometeram os governos. E faltam apenas 17 dias para terminar 2009. A pesquisa foi elaborada no período que a Frente Popular, governa o Estado.

Todas as informações estão disponíveis no site do sistema FIRJAN.

Veja os gráficos

Redação, ac24horas

sexta-feira, dezembro 04, 2009

MUNIZ:DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS

Nunca no Acre havia visto coisa tão horrenda como essa que aconteceu nesta semana com um jornalista Antônio Muniz, acreano do pé rachado. O crime dele, falar a verdade. A verdade dói e por isso custa caro. Sendo jornalista custa muito mais no Acre. Muniz foi preso por uma lei que não existe mais, graças a Deus. Muniz foi preso por ser autêntico, libertário, humano, consciente de suas atribuições profissionais. No processo que calou sua boca e sua escrita, está presente o clamor da ditadura, da censura e de atos parecidos com os defendidos por Hitler nos anos 40.

Muniz sempre foi fiel à sua filosofia política, familiar e aos amigos. Sempre soube dividir as coisas em seu devido tempo. Digo isso por conhecimento de mais de 20 anos de convivência. Homem de ser seguido por suas posições, sempre valorizando a liberdade do homem de expressão, do falar, de ouvir e escrever a megera verdade que dói a tantos e, que, perturba a tantos outros. Muniz não baixa a cabeça, mesmo em situações que deveriam serem feitas. Sua verdade com a verdade lhe rendeu a prisão. Quem o prendeu sabe que seu direito de pensar foi estuprado por um ato político, nada mais.

No Acre vive-se uma violência sombria invisível produzida por outra ainda mais feroz, a violência produzida pelos que exercem o poder da comunicação e controlam tudo por detrás dos bastidores. Os manipuladores das sombras, que não são sombras nos últimos anos, invadem a privacidade do homem comum. À luz dessa verdade tentam apagar a qualquer custo vozes e letras que transmitem ao mundo a certeza e sua convicção. Por isso o jornalista Muniz ao tentar manter a chama acesa da verdade sofre as conseqüências. A verdade dita por ele lhe rendeu a cadeia, com certeza, para um homem de bem, o inferno que nunca pensou entrar nele. Parecido com o de Dante, porem muito pior.

Antônio Muniz passou alguns dias na cadeia por conta de uma lei famigerada e extinta e, seus algozes, pensaram em sua família? Ligar para um amigo é coisa comum, agora ligações que ultrapassam a 10 mil reais do exterior por conta do dinheiro público é diferente. Muniz deveria ter essa prerrogativa de, pelo menos, ligar para a família e dizer que a sua prisão era justa: ter falado a verdade.


* Pitter Lucena é jornalista acreano e mestrando em Comunicação no MERCOSUL em Brasília.

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