PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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sexta-feira, setembro 15, 2006

AMAZÔNIA - De Galvez a Chico Mendes

A autora Glória Perez e o diretor geral Marcos Schechtman estão à frente de uma superprodução da TV Globo que vai contar mais de cem anos da história da região amazônica. A minissérie Amazônia - De Galvez a Chico Mendes, que estréia na TV Globo em janeiro, abordará temas como a preservação da Amazônia, a luta de Chico Mendes, a união dos povos da floresta, o desenvolvimento sustentável, o cotidiano dos seringueiros e a conquista territorial do estado do Acre, revelando muitos fatos desconhecidos da região.

Amazônia - de Galvez a Chico Mendes vai ao ar em janeiro, retratando a história da Amazônia e seus povos e revelando como o estado do Acre se tornou território brasileiro através da luta de sua gente. A trama, que começa no final de 1899, abordará três fases da conquista, em épocas distintas, abarcando 100 anos da história da região e passando por heróis como o espanhol Luis Galvez, o militar Plácido de Castro e o seringueiro Chico Mendes. "A minissérie começa no período áureo da borracha, quando, em plena revolução industrial, apenas a região amazônica produzia borracha no mundo, despertando o interesse e a cobiça de outros países", explica a autora Glória Perez. A minissérie revelará detalhes da história real do Acre, que, para muitos, poderá parecer ficção, pois é muito rica em aventuras, romances e emoções.

A minissérie vai mostrar como foi a conquista do Acre através do cotidiano de duas famílias que representam as classes socioeconômicas então predominantes na região, a do seringalista e a do seringueiro, e suas perspectivas em relação às constantes disputas no estado. Para mostrar a cultura, os conflitos e a vida de riqueza e luxo dos seringalistas, a trama contará a história do coronel Firmino, casado com dona Júlia, pai de Tavinho e Augusto. E, para retratar a saga difícil de um povo batalhador e suas características, a minissérie detalhará o dia-a-dia da família de Bastião, sua mulher dona Angelina, e seus filhos, a primogênita Delzuite, Bento e o caçula Tonho que, assim como milhares de famílias, migraram do Nordeste para o Acre na tentativa de ganhar dinheiro através da extração do látex das seringueiras.

A primeira fase falará dos heróis que batalharam, cada um a seu jeito, para conquistar a independência do Acre, como o advogado José de Carvalho (Juca de Oliveira), que, com uma intimação, sem derramar sangue, expulsou os bolivianos. "José de Carvalho foi processado por crime de lesa-pátria e chegou a ser proibido até de entrar no estado do Amazonas", contou Glória Perez.

O segundo herói foi o aventureiro espanhol Galvez (José Wilker), que se apaixonou pela causa da região e declarou o Estado Independente do Acre. "Apesar de ser conhecido apenas pelo seu lado mulherengo e aventureiro, quando o momento histórico chegou, ele soube se mostrar à altura. A educação era a prioridade para o governo de Galvez que criou escolas para alfabetizar adultos e desenvolveu um projeto inovador, o da escola itinerante", explicou a autora. Glória destacou que uma das audácias foi partir para a conquista territorial com uma companhia de zarzuela, cheia de moças bonitas e encantadoras, e não com um exército.

A terceira personalidade é o militar idealista, Plácido de Castro (Alexandre Borges) que liderou a revolução acreana. "Plácido treinou um exército de seringueiros, armados de rifles e facões, de tal maneira que eles venceram o exército formal da Bolívia, equipado com o melhor armamento da época!", explicou Glória Perez.

Na segunda fase da minissérie, o período da decadência da borracha será contado através de tramas ficcionais que revelarão o que acontecia nos seringais que estavam em declínio. Com a plantação organizada das seringueiras na Malásia, o Brasil perdeu a liderança na produção e viu o preço do látex cair no mercado. Este momento é inspirado nos romances "O Seringal", de Miguel Jeronymo Ferrante, e "Terra Caída", de José Potiguara. "É uma maneira de apresentar artistas acreanos que o Brasil não conhece ou de ressaltar outros que já são conhecidos internacionalmente, como João Donato, que está compondo para a minissérie", revela Glória Perez.

A terceira fase retratará um período histórico mais atual, por volta de 1980, quando o seringueiro Chico Mendes (Cássio Gabus Mendes), líder dos povos da floresta, chamou a atenção do Brasil e do mundo para preservação da floresta amazônica e de seu ecossistema.

Amazônia - De Galvez a Chico Mendes tem autoria de Glória Perez, direção geral de Marcos Schechtman e direção de Pedro Vasconcelos, Marcelo Travesso, Carlo Milani, Roberto Carminati e Emílio di Biasi. A minissérie tem estréia prevista para o dia 02 de janeiro de 2007.

Estão no elenco da minissérie os atores Alexandre Borges, Antônio Petrin, Betina Viany, Cacau Melo, Caio Blat, Cássio Gabus Mendes, Christiane Torloni, Claudio Marzo, Dan Stulbach, Debora Bloch, Diogo Vilela, Emílio Orciollo Neto, Eriberto Leão, Giovanna Antonelli, Ilya São Paulo, Irene Ravache, José de Abreu, José Wilker, Juca de Oliveira, Júlia Lemmertz, Leona Cavalli, Leopoldo Pacheco, Letícia Spiller, Marcelo Faria, Mussunzinho, Paula Pereira, Paulo Goulart, Pedro Paulo Rangel, Suyane Moreira, Suzana Faini, Tânia Alves, Vanessa Giácomo, Vera Fischer, Vera Holtz e Werner Schunemann, entre outros.

A história do Acre e seus três heróis
Em 1899, o Acre vivia uma situação de conflito, pois, apesar de ser território boliviano, fora povoado por brasileiros que migravam do Nordeste atraídos pela exploração da borracha, que estava em sua fase áurea devido à revolução industrial. Quando a Bolívia decidiu retomar seu território, almejando justamente o lucro obtido com o látex extraído das seringueiras, o governo brasileiro não se opôs, pois a região, de acordo com o Tratado de Ayacucho, pertencia de fato ao país vizinho. O povo acreano se revoltou com a situação e seringueiros, liderados pelo espanhol Luis Galvez, resistiram à ocupação boliviana.

No dia 14 de julho - uma referência ao dia da queda da Bastilha -, concretizaram a criação do Estado Independente do Acre. Galvez foi aclamado presidente do novo país e desenhou a bandeira do Estado Independente. Mas acabou despertando o descontentamento de muitos seringalistas, que se revoltaram com os impostos cobrados pelo novo governo. Em 28 de dezembro de 1899, Galvez foi deposto pelo seringalista Antônio de Souza Braga, que não conseguiu se manter no poder e, em menos de um mês, devolveu-lhe o comando. O Governo Federal brasileiro, porém, sabendo que a desobediência deste tratado colocava em risco suas relações internacionais, em março de 1900, destitui Galvez e devolve a região do Acre à Bolívia.

Enquanto isso, Plácido de Castro, militar gaúcho que já havia morado no Rio e Janeiro e São Paulo, decidiu tentar a sorte no Norte do país, demarcando seringais na Amazônia. Nesta época, liderados pelo jornalista Orlando Lopes, intelectuais e boêmios de Manaus organizam uma expedição para expulsar os bolivianos e retomar o Acre. Porém, sem experiência na arte militar, o levante intelectual foi derrotado.

Diante disto, os revoltosos chegaram à conclusão de que precisavam de um líder militar e convidaram Plácido de Castro, que aceitou o desafio.

A Bolívia arrendou o Acre para o Bolivian Syndicate, dando ao sindicato o poder de explorar as terras do Acre e ocupá-las militarmente durante 30 anos. Lino Romero foi enviado a Puerto Alonso para preparar a passagem da administração ao Bolivian Syndicate.

Começa, então, o movimento armado contra a Bolívia, liderado por Plácido de Castro e bancado pelos seringalistas da região. Vencida a guerra, a diplomacia brasileira entrou em ação, e através do tratado de Petrópolis, o Acre foi, finalmente, incorporado ao Brasil. Mas não como estado, como haviam sonhado os que lutaram por aquele desfecho - como território.

Como território, continuou ignorado e sem receber assistência do governo federal. Plácido de Castro, que se transformara num mito para o povo e numa ameaça para aqueles que disputavam o poder local, acabou assassinado numa emboscada, em 1908. Apesar da luta de sua família por justiça, seus assassinos nunca foram punidos, e nem sequer abriu-se um processo para apurar os fatos.

O terceiro líder da história do Acre, que também foi cruelmente assassinado em 1988, justamente em Xapuri, primeiro ponto da conquista de Plácido, foi o seringueiro Chico Mendes, que chamou a atenção não só do Brasil, mas também a do mundo para a preservação da floresta que vinha sendo destruída desde a década 70, quando os seringais começaram a ser transformados em pastos para gado. Compreendendo que a preservação da floresta era a preservação das condições de vida dos seringueiros, Chico Mendes criou um movimento de resistência para impedir o desmatamento, só que desta vez de forma pacífica, usando apenas o diálogo como arma. Uniu seringueiros e índios numa grande frente conhecida pelo nome de Povos da Floresta. O seringueiro foi condecorado pela ONU e sua luta reconhecida pelas organizações internacionais de proteção ao meio ambiente. Fonte: Site da Globo

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Gostei muito da abordagem que você fez em relação a história do Acre e que foi feita de uma maneira resumida mas de uma grande importancia para nós acreanos pois mostra a nossa história e a história de nossos antepassados que lutaram para que esta terra fosse parte do Brasil com muita bravura e muito patriotismo, parabéns...
Sidney Torres

9:20 AM  
Anonymous Anônimo said...

Adoro a história do povo acreano, principalmente quando contada com tanto entusiasmo e paixão por este pedaço do Brasil tão esquecido...parabéns!

2:59 PM  

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