NÃO VINGOU
Quando se fala em vingar, o primeiro pensamento nos remete ao ato de vingança, ou algo parecido. Mas existe outro tipo de vingar diferente do que diz o Aurélio: tirar desforra, castigar ou punir. Me refiro ao verbo vingar usado nos seringais, na vida cotidiana do seringueiro, dos povos da floresta. Mas especificamente quando nasce uma criança. A expressão vingar naquela região é comum desde priscas eras. Vingar é o termo utilizado quando o recém-nascido não resiste às primeiras horas de vida. “O filho da comadre Maria não vingou, nasceu morto. Que pena vamos esperar o outro”. E assim vai rodando o mundo.
Para quem conhece a vida nos seringais sabe perfeitamente o quanto é difícil sobreviver no isolamento da selva amazônica. Não falo sobre os seringais de beira de estrada, de quatro, cinco horas de viagem. Cito famílias que residem a quatro, cinco dias de viagem à pé, para chegar a um ponto civilizado. Homens e mulheres destemidos que trabalham de domingo a domingo, faça sol ou chuva para manter a família alimentada.
Saúde e educação são dois conceitos inutilizados naqueles rincões distantes, onde doenças como a malária mata mais que o trânsito das grandes cidades. Mas estão lá esquecidos, sem lenço e sem documento. Vivendo por viver. Carteira de identidade, CPF, título de eleitor, carteira de vacina... esqueça, isso não existe. O documento necessário é apenas uma espingarda de grosso calibre para se defender das onças e matar uma embiara para matar a fome dos meninos buchudinhos.
Uma coisa interessante se percebe nos seringais. Mesmo com o problema de vingamento da meninada, em cada casa de seringueiro tem pelo menos uma meia dúzia de bocas miúdas para alimentar. É impressionante a disposição do seringueiro para fazer menino. Uma vez perguntei para um cumpadre lá no meio do mato o porquê de tanto menino. Ele respondeu que como no seringal não tem televisão a diversão e brincar com a mulher antes de dormir. E olha que seringueiro dorme cedo, no máximo oito da noite.
Mas vamos voltar ao verbo vingar. No seringal, quando a mulher está perto de parir, é chamada uma parteira para aparar o rebento. O problema é que sempre essa pessoa mora de seis a 10 horas de viagem. Quando o marido é esperto busca a parteira uns 15 dias antes da data do parto prevista pela grávida. Muitas vezes a parteira não chega a tempo e a pequena criaturinha não vinga. “Foi obra de Deus, foi Ele que quis assim, Ele sabe o que faz”. A mãe que nunca viu um médico na vida acredita no “chamado de Deus” e pronto, o filho é enterrado no fundo quintal. Isso quando a mãe não morre também durante o parto.
Hoje com o avanço da tecnologia ainda morrem crianças bem assistidas pela medicina, imagine o que acontece num parto de alto risco no meio da floresta, sem remédios nem para dor de cabeça. Talvez seja por isso que filho de seringueiro, na sua maioria, sempre recebe o nome de um santo, por ter vingado por um milagre de Deus.
Para quem conhece a vida nos seringais sabe perfeitamente o quanto é difícil sobreviver no isolamento da selva amazônica. Não falo sobre os seringais de beira de estrada, de quatro, cinco horas de viagem. Cito famílias que residem a quatro, cinco dias de viagem à pé, para chegar a um ponto civilizado. Homens e mulheres destemidos que trabalham de domingo a domingo, faça sol ou chuva para manter a família alimentada.
Saúde e educação são dois conceitos inutilizados naqueles rincões distantes, onde doenças como a malária mata mais que o trânsito das grandes cidades. Mas estão lá esquecidos, sem lenço e sem documento. Vivendo por viver. Carteira de identidade, CPF, título de eleitor, carteira de vacina... esqueça, isso não existe. O documento necessário é apenas uma espingarda de grosso calibre para se defender das onças e matar uma embiara para matar a fome dos meninos buchudinhos.
Uma coisa interessante se percebe nos seringais. Mesmo com o problema de vingamento da meninada, em cada casa de seringueiro tem pelo menos uma meia dúzia de bocas miúdas para alimentar. É impressionante a disposição do seringueiro para fazer menino. Uma vez perguntei para um cumpadre lá no meio do mato o porquê de tanto menino. Ele respondeu que como no seringal não tem televisão a diversão e brincar com a mulher antes de dormir. E olha que seringueiro dorme cedo, no máximo oito da noite.
Mas vamos voltar ao verbo vingar. No seringal, quando a mulher está perto de parir, é chamada uma parteira para aparar o rebento. O problema é que sempre essa pessoa mora de seis a 10 horas de viagem. Quando o marido é esperto busca a parteira uns 15 dias antes da data do parto prevista pela grávida. Muitas vezes a parteira não chega a tempo e a pequena criaturinha não vinga. “Foi obra de Deus, foi Ele que quis assim, Ele sabe o que faz”. A mãe que nunca viu um médico na vida acredita no “chamado de Deus” e pronto, o filho é enterrado no fundo quintal. Isso quando a mãe não morre também durante o parto.
Hoje com o avanço da tecnologia ainda morrem crianças bem assistidas pela medicina, imagine o que acontece num parto de alto risco no meio da floresta, sem remédios nem para dor de cabeça. Talvez seja por isso que filho de seringueiro, na sua maioria, sempre recebe o nome de um santo, por ter vingado por um milagre de Deus.
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