GEOECOLOGIA DA AMAZÔNIA: Notas para um debate (Parte 2)

As florestas possuem um sistema de reciclagem que captura os nutrientes através de uma estratégia de fixação biológica promovida por bactérias do solo. O manto de detritos (rochas intemperizadas, troncos caídos em decomposição, animais mortos etc) cria condições para efetivação da citada reciclagem.
As florestas úmidas sustentam-se sobre os solos dos grupos latosólicos e podzólicos. Os mesmos se caracterizam por uma baixa disponibilidade de nutrientes e sais minerais. De tal maneira, que 58 % do nitrogênio circulante no sistema está nas plantas e nos solos. A produtividade desse tipo de florestas está na biomassa, transferindo-se pouco material para os solos. A renovação do húmus é extremamente rápida, o que significa que os detritos não se acumulam nos solos. Os solos são ácidos, ricos em elementos tóxicos; têm rápida e intensa circulação de matéria e intenso calor e humidade.
As paisagens naturais amazônicas constituem para as atividades humanas, um meio ecológico peculiarmente extremo, na medida em que predominam solos ácidos, ricos em elementos tóxicos, que possuem rápida e intensa circulação de matéria e intenso calor e humidade.
Tudo isso conduz a uma acentuada instabilidade, fragilidade e baixa resistência dos espaços naturais e a um reduzido potencial natural para as atividades agrícolas, em razão do predomínio de pouca fertilidade agrícola e do processo de latosolização, além das difíceis condições de acessibilidade e comunicação.
Pode-se citar também a sua contribuição significativa para à existência de condições extremamente complexas de adaptabilidade humana ao meio natural.
A Amazônia, aparentemente parece um todo homogêneo mas, na realidade, esta região é marcada por uma significativa diferenciação das paisagens naturais. As regularidades de diferenciações das paisagens naturais podem distinguir-se de acordo com as três estruturas anteriormente mencionadas:
* Estrutura geólogo-geomorfológica: a diferenciação não é muito marcada, mas é clara no sentido meridional. Na parte mais interior, o relevo é formado por terras firmes, relativamente altas (altitudes de até 200 metros), onduladas e até colinosas. A parte central forma uma planície que é ocupada por superfícies planas ou pouco inclinadas, dos divisores de águas até a artéria fluvial. Na parte litorânea, forma-se a planície litorânea, onde o relevo toma a forma de tabuleiros e os terraços planos mais dispostos em grades. Os depósitos de areias, argilitos intemperizados e aluviões, mudam para depósitos de arenitos e areias marinhas misturadas com aluviões. A diferenciação geral é controlada, além de tudo, pela existência de planícies de inundações (várzeas) nos rios e igarapés e os diferentes níveis de terraços aluviais na artéria fluvial.
* Estrutura hidro-climática: A diferenciação climática fundamental é controlada pelas variações nas precipitações anuais e na duração do período de seca, no sentido meridional. Assim, em toda a parte mais ocidental predomina o clima super úmido, sem período seco, com precipitações totais entre 1700 - 2000 mm por ano; a parte central é caracterizada pelo clima úmido – semi-seco, com um a três meses secos, e médias de 2000-2500 mm de precipitação; a parte mais litorânea é própria de clima úmido, com um mês seco e precipitações anuais de 2000-2500 mm. Do ponto de vista hidrográfico e hidro-geológico, formam-se três unidades claras. O extremo ocidental é formado por aqüíferos livres, de importância hidro-geológica pequena, apresentam-se as nascentes de muitos pequenos rios e as enchentes ocorrem próximas aos rios principais. A parte central é formada por aqüíferos contínuos de importância hidro-geológica média, e a zona de trânsito dos rios e afluentes é submetida a inundações permanentes e sazonais. A parte litorânea, formada por aqüíferos contínuos, de grande importância hidro-geológica, que experimenta o trânsito e a acumulação das águas bem como as inundações permanentes e estacionais.
* Estrutura edafo-biótica: Reflete a influência complexa dos fatores geólogo-geomorfológicos e hidro-climáticos, destinando-se a diferenciação em um sentido meridional. Na parte ocidental predominam os solos argissolo vermelho amarelo e cambissolo hálico. Nesta região, predominam as florestas abertas; na parte central os solos predominantes são os argissolos Vermelho-amarelo, Plintossolo Hálico e Latossolo amarelo baixo, com uma cobertura de florestas densas.
A combinação de todos os componentes naturais permite distinguir e construir a tipologia das paisagens, conforme mostra-se no Mapa. No aludido mapa, mostram-se 5 unidades taxonômicas; tipo (de acordo com o regime térmico), subtipo (regime de precipitações), classe (macro relevo), grupo (estrutura geológica) e espécie (solos e vegetação). Distinguem-se no total 23 tipos de paisagens. Baseando-se nas combinações dos tipos de paisagens pode-se distinguir uma regionalização, ou seja, a determinação de indivíduos físico-geográficos.
A Planície da Depressão Amazônica, na Regionalização Físico Geográfica do Brasil, é considerada como um domínio, que junto com outros 4 domínios (Planaltos Venezuelano das Guianas, Planalto Brasileiro, Planície do Pantanal e Uruguai e a Depressão Paraná -Paraguai) fazem parte do país físico geográfico das Planícies e Planaltos da América do Sul.
A Planície da Depressão Amazônia, por sua vez é dividida em duas províncias:
* A Planície Ocidental, formada pelos distritos das Planícies de Rio Negro, Solimões e Purus. A Planície Ocidental é formada por duas grandes unidades. A parte ocidental mais úmida e alta e a parte central mais plana e sub úmida. A Amazônia Ocidental é um exemplo clássico das paisagens equatorial úmida. Nesta região se estendem os “rios de águas brancas”, que correm lentamente e possuem múltiplos meandros, caracterizados pelo predomínio de partículas em suspensão. Nesta mesma região espalham-se os igarapés que se encontram em um plano de inundação baixo. No plano de inundação alto, cujas cheias só alcançam nos períodos de grandes inundações, formam-se as várzeas altas. A terra firme ocupa partes ligeiramente onduladas, que não são inundadas.
* A Planície Oriental é formada pelos distritos da Planície de Manaus e da Planície de Belém, sendo constituída por planícies litorâneas úmidas. Nesta região o clima consiste em uma variante do subequatorial úmido e semi-úmido, com um período seco, possuindo em suas florestas espécies caducifólias. Frequentemente formam-se mesas de rochas quartzíticas. Os rios que correm nesse embasamento recebem o nome de ”rios negros” e são formados por depósitos orgânicos, predominantemente com poucos nutrientes. Nesta região se estende o amplo delta do rio Amazonas, alcançando uma faixa de até 80 km, ocupado por uma extensa cobertura de manguezais.
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