PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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sexta-feira, agosto 10, 2007

GEOECOLOGIA DA AMAZÔNIA: Notas para um debate (Parte 2)

As florestas da Amazônia apresentam um funcionamento de auto-regulação. Para formar a densa biomassa que possuem, essas florestas necessitam de uma alta taxa de fotossíntese e de disponibilidade de nutrientes. As aludidas florestas não vivem dos nutrientes do solo, que possuem baixa fertilidade.

As florestas possuem um sistema de reciclagem que captura os nutrientes através de uma estratégia de fixação biológica promovida por bactérias do solo. O manto de detritos (rochas intemperizadas, troncos caídos em decomposição, animais mortos etc) cria condições para efetivação da citada reciclagem.

As florestas úmidas sustentam-se sobre os solos dos grupos latosólicos e podzólicos. Os mesmos se caracterizam por uma baixa disponibilidade de nutrientes e sais minerais. De tal maneira, que 58 % do nitrogênio circulante no sistema está nas plantas e nos solos. A produtividade desse tipo de florestas está na biomassa, transferindo-se pouco material para os solos. A renovação do húmus é extremamente rápida, o que significa que os detritos não se acumulam nos solos. Os solos são ácidos, ricos em elementos tóxicos; têm rápida e intensa circulação de matéria e intenso calor e humidade.

As paisagens naturais amazônicas constituem para as atividades humanas, um meio ecológico peculiarmente extremo, na medida em que predominam solos ácidos, ricos em elementos tóxicos, que possuem rápida e intensa circulação de matéria e intenso calor e humidade.

Tudo isso conduz a uma acentuada instabilidade, fragilidade e baixa resistência dos espaços naturais e a um reduzido potencial natural para as atividades agrícolas, em razão do predomínio de pouca fertilidade agrícola e do processo de latosolização, além das difíceis condições de acessibilidade e comunicação.

Pode-se citar também a sua contribuição significativa para à existência de condições extremamente complexas de adaptabilidade humana ao meio natural.

A Amazônia, aparentemente parece um todo homogêneo mas, na realidade, esta região é marcada por uma significativa diferenciação das paisagens naturais. As regularidades de diferenciações das paisagens naturais podem distinguir-se de acordo com as três estruturas anteriormente mencionadas:
* Estrutura geólogo-geomorfológica: a diferenciação não é muito marcada, mas é clara no sentido meridional. Na parte mais interior, o relevo é formado por terras firmes, relativamente altas (altitudes de até 200 metros), onduladas e até colinosas. A parte central forma uma planície que é ocupada por superfícies planas ou pouco inclinadas, dos divisores de águas até a artéria fluvial. Na parte litorânea, forma-se a planície litorânea, onde o relevo toma a forma de tabuleiros e os terraços planos mais dispostos em grades. Os depósitos de areias, argilitos intemperizados e aluviões, mudam para depósitos de arenitos e areias marinhas misturadas com aluviões. A diferenciação geral é controlada, além de tudo, pela existência de planícies de inundações (várzeas) nos rios e igarapés e os diferentes níveis de terraços aluviais na artéria fluvial.
* Estrutura hidro-climática: A diferenciação climática fundamental é controlada pelas variações nas precipitações anuais e na duração do período de seca, no sentido meridional. Assim, em toda a parte mais ocidental predomina o clima super úmido, sem período seco, com precipitações totais entre 1700 - 2000 mm por ano; a parte central é caracterizada pelo clima úmido – semi-seco, com um a três meses secos, e médias de 2000-2500 mm de precipitação; a parte mais litorânea é própria de clima úmido, com um mês seco e precipitações anuais de 2000-2500 mm. Do ponto de vista hidrográfico e hidro-geológico, formam-se três unidades claras. O extremo ocidental é formado por aqüíferos livres, de importância hidro-geológica pequena, apresentam-se as nascentes de muitos pequenos rios e as enchentes ocorrem próximas aos rios principais. A parte central é formada por aqüíferos contínuos de importância hidro-geológica média, e a zona de trânsito dos rios e afluentes é submetida a inundações permanentes e sazonais. A parte litorânea, formada por aqüíferos contínuos, de grande importância hidro-geológica, que experimenta o trânsito e a acumulação das águas bem como as inundações permanentes e estacionais.
* Estrutura edafo-biótica: Reflete a influência complexa dos fatores geólogo-geomorfológicos e hidro-climáticos, destinando-se a diferenciação em um sentido meridional. Na parte ocidental predominam os solos argissolo vermelho amarelo e cambissolo hálico. Nesta região, predominam as florestas abertas; na parte central os solos predominantes são os argissolos Vermelho-amarelo, Plintossolo Hálico e Latossolo amarelo baixo, com uma cobertura de florestas densas.

A combinação de todos os componentes naturais permite distinguir e construir a tipologia das paisagens, conforme mostra-se no Mapa. No aludido mapa, mostram-se 5 unidades taxonômicas; tipo (de acordo com o regime térmico), subtipo (regime de precipitações), classe (macro relevo), grupo (estrutura geológica) e espécie (solos e vegetação). Distinguem-se no total 23 tipos de paisagens. Baseando-se nas combinações dos tipos de paisagens pode-se distinguir uma regionalização, ou seja, a determinação de indivíduos físico-geográficos.

A Planície da Depressão Amazônica, na Regionalização Físico Geográfica do Brasil, é considerada como um domínio, que junto com outros 4 domínios (Planaltos Venezuelano das Guianas, Planalto Brasileiro, Planície do Pantanal e Uruguai e a Depressão Paraná -Paraguai) fazem parte do país físico geográfico das Planícies e Planaltos da América do Sul.

A Planície da Depressão Amazônia, por sua vez é dividida em duas províncias:
* A Planície Ocidental, formada pelos distritos das Planícies de Rio Negro, Solimões e Purus. A Planície Ocidental é formada por duas grandes unidades. A parte ocidental mais úmida e alta e a parte central mais plana e sub úmida. A Amazônia Ocidental é um exemplo clássico das paisagens equatorial úmida. Nesta região se estendem os “rios de águas brancas”, que correm lentamente e possuem múltiplos meandros, caracterizados pelo predomínio de partículas em suspensão. Nesta mesma região espalham-se os igarapés que se encontram em um plano de inundação baixo. No plano de inundação alto, cujas cheias só alcançam nos períodos de grandes inundações, formam-se as várzeas altas. A terra firme ocupa partes ligeiramente onduladas, que não são inundadas.
* A Planície Oriental é formada pelos distritos da Planície de Manaus e da Planície de Belém, sendo constituída por planícies litorâneas úmidas. Nesta região o clima consiste em uma variante do subequatorial úmido e semi-úmido, com um período seco, possuindo em suas florestas espécies caducifólias. Frequentemente formam-se mesas de rochas quartzíticas. Os rios que correm nesse embasamento recebem o nome de ”rios negros” e são formados por depósitos orgânicos, predominantemente com poucos nutrientes. Nesta região se estende o amplo delta do rio Amazonas, alcançando uma faixa de até 80 km, ocupado por uma extensa cobertura de manguezais.

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