PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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segunda-feira, agosto 06, 2007

RIO ACRE MORRE LENTAMENTE

O rio Acre retoma todos os anos entre agosto e setembro, época de forte estiagem e queimadas intensas no Estado, o seu processo de morte lenta.

BRASÍLIA – O retrato do rio Acre no verão do ano passado deixou preocupados e de cabelo em pé os especialistas ambientais. Na altura do centro de Rio Branco, a capital do Acre, as águas por pouco não apartaram. Agonizante, o rio se transformou em um simples filete de água, deixando perplexa uma população de 360 mil habitantes.

A cena é a mesma e se repete anualmente. Porém, desde a década de 1980 especialistas afirmam que o rio Acre sumirá do mapa, caso não sejam tomados os devidos cuidados. Mas, ao longo dos anos, os governos fizeram ouvidos moucos aos apelos da comunidade científica. Deixaram de pôr em prática uma política ambiental eficiente para evitar a morte do rio Acre cantada em prosa e verso.

Com isso, a cada ano, o rio Acre retoma o processo de morte lenta entre agosto e setembro, época de forte estiagem e queimadas intensas no Estado, a exemplo do que ocorreu em 2005.

Bacias sem conservação
Em julho de 2002 em extensa reportagem publicada no jornal A Gazeta, de Rio Branco, alertei que o rio poderia desaparecer nos próximos 15 anos. A projeção baseava-se em estudos de especialistas que, há algum tempo, questionam a falta de política de conservação das bacias hidrográficas e de um programa sério de despoluição do rio por parte dos governos locais e entidades ambientalistas. E as projeções vão se confirmando.

Atualmente, em vários pontos de Rio Branco é jogada uma grande quantidade de esgotos o leito do rio, o que aumenta sobremaneira a poluição. Além dos esgotos, residências são construídas nas proximidades dos barrancos do rio, contribuindo para aumentar o nível de contaminação do rio Acre, a única fonte de abastecimento da capital acreana. Ambientalistas e entidades ligadas ao governo local insistem que estudos vêm sendo feitos. Mas, na prática, observa-se que a realidade é outra. O que existe, de fato, é um grande descaso para com o rio Acre.

Preocupação com as enchentes
Autor de um livro sobre o assunto, o geógrafo Claudemir Carvalho de Mesquita atesta que a seca do rio Acre, que se intensifica a cada ano, é conseqüência do desequilíbrio ambiental que tem castigado o Estado nas últimas décadas. Mesquita relata que o problema das enchentes do rio tem suas raízes nas bacias dos maiores afluentes, o rio Xapuri e o Riozinho do Rola.

Segundo Mesquita, as bacias hidrográficas dessas áreas estão perdendo a capacidade de retenção de água pluvial. Assim, a água escoa sem impedimento em alta velocidade e em grande quantidade, deixando boa parte da cidade de Rio Branco submersa e a mercê de sua força. Mesquita sentencia: a situação vai perdurar e também aumentar na medida em que o desmatamento nas bacias avançarem. A última enchente do rio Acre confirmou as previsões de Mesquita.

Mesquita acrescenta que o problema tem a agravar-se mais com a construção de empreendimentos urbanos, a maioria deles sem a devida preocupação com os impactos ambientais. Para Mesquita, esses empreendimentos potencializam o grau de poluição do rio Acre, tudo porque efluentes são lançados sem nenhum tipo de tratamento.

Divide a capital
O rio Acre nasce no Peru e cruza os municípios de Brasiléia, Xapuri e Rio Branco, e desemboca no rio Purus, no Amazonas. Divide Rio Branco ao meio. Ele tem águas barrentas e é piscoso. Durante o verão amazônico, que vai de julho e setembro, o rio é propício a banhos e esportes náuticos. É navegável até às fronteiras do Brasil com Peru e Bolívia e com o estado do Amazonas.

No período do verão formam-se extensas praias de areia branca ao longo do seu curso. As mais famosas são a Praia do Amapá e Praia do Riozinho do Rola, nas imediações de Rio Branco. Esses verdadeiros paraísos são estratégicos para as comunidades locais, mas pouco explorados por falta de infra-estrutura.

Mesmo já bastante poluído, o rio Acre se transforma no período do verão num grande parque de diversão para famílias. Essa constatação se faz com um simples passeio à sua margem. É comum ver pessoas tomando banho, pescando, namorando e se divertindo nas belas praias de areia alva.

A poluição incomoda, mas nem assim a população deixa de freqüentar o rio Acre. As pessoas esquecem o perigo das doenças e se esbaldam nas águas. As crianças, as maiores vítimas da poluição do rio, fogem de casa e rumam para suas margens, transformando praias em Edens particulares.

E enquanto não vem uma solução séria para salvar o rio Acre, as pessoas e as crianças, de modo particular, fazem dele um parque diversão em suas margens e nas poucas águas que ainda restam.

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