PITTER LUCENA

Jornalista acreano radicado em Brasília

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sexta-feira, fevereiro 20, 2009

PELADA NA COLÔNIA

Fim de semana daqueles que não se tem nada para fazer, fui jogar bola com amigos numa colônia na estrada de Boca do Acre (AM). A data, se não me engano, era por volta de 1983. Nunca havia colocado os pés na referida colônia distante uns 30 quilômetros de Rio Branco. Fomos de bicicleta, distância amigável e coisa e tal. Papeando e pedalando para a pelada que, depois, haveria uma festa na casa de família de uns amigos.

Fomos nós. Eu e mais dois amigos. Chegando por volta de meio dia, fomos direto às panelas porque ninguém é de ferro. Depois de encher a pança, uma rede armada embaixo de uns pés de abacateiros fez muito bem na recuperação dos quilômetros rodados de magrela. Vida boa.

Por volta das duas horas da tarde começamos os preparativos para o futebol. O campo ficava logo em frente da casa onde na calada da noite o ralabucho seria iniciado. Pois bem. Vamos para o campo de futebol conhecer o time adversário. O campo era uma maravilha. De dois em dois metros quadrados uma ruma de bosta de boi, tocos, sapé, buracos e capim ralado de tanto ser comido pela boiada.

Escalado os dois times, eu fiquei do lado do desafiante. Para não confundir os jogadores um lado jogava de camisa, o outro sem a vestimenta. O juiz, um caboclo magricela das bandas de lá, não roubou o campo porque não pode carregar nas costas. Para começar o jogo ficou acertado que ninguém poderia jogar armado. Ai começou o meu suplício. O time de lá parecia que ia para a guerra. Foi todo mundo colocando as facas e as espingardas escoradas na trave do seu lado. Um deles, mais doido do que os outros, disse que não se afastaria de sua “piaba” por dinheiro nenhum.

Foi nessa hora que começou a confusão. Já que o doido não se desarmou, os outros voltaram atrás e pegaram suas armas também. Ao olhar para as laterais do campo percebi que não havia nenhum espectador, ou coisa parecida. Somente os bois e vacas expulsas do campo antes da peleja. Naquele momento apenas o céu era testemunha.

Fui escalado para ser atacante, ponta direita. Calçado com meu kichute preto e travas de borracha, pensei comigo mesmo em dar um banho na defesa adversária. Na primeira bola que mandaram para o ataque, lá estava eu pronto para enfiar no gol. Que pensamento besta. Ao dominar a pelota veio um camarada descalço e armado com uma faca na cintura, parecendo um touro enfurecido, para me quebrar ao meio. Enfrentei o zagueiro que não teve pena de mim. Fui parar no meio do mato, jogado pelo brutamonte. Falta seu juiz! Alarmei. Ele disse: deixa de ser mole. E o jogo continuou.

Quinze minutos depois, sem querer saber de bola, pedi para ser zagueiro. Pelo menos não seria massacrado no campo adversário. Outra besteira. Estava eu na zaga feito um galo de briga. Lá vem a bola sendo acompanhada por um camarada negro, cabeludo e fungando feito bicho. Não deu outra. Encarei o atacante e sobrou para minhas canelas finas. Levei uma tacada que pensei que o couro das pernas havia saído. O juiz, de novo, fez que nada viu.

Depois dessa achei melhor ir para o gol. Lá pelo menos ficaria longe dos ataques diretos. Quando pensei que estava tranqüilo, anunciou-se um ataque ao meu gol. Me concentrei e esperei o pior acontecer. O atacante adversário ao perceber que estava com medo, com a bola nos pés, fez menção de sacar a faca da cintura correndo em minha direção. Não esperei por nada, abri na carreira no rumo do mato e abandonei o travessão. Se foi gol? Imagine o que aconteceu. Nunca mais quis saber de jogar bola em campo desconhecido.

Na próxima escrita vou relatar o forró que aconteceu depois do jogo, regado a cachaça e outras coisas mais.

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